PR: Estudantes da UFPR realizam ato exigindo o retorno das aulas presenciais

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Nota publicada pelo Jornal A Nova Democracia, dia: 08/02/2022.

Marcha até a Praça Santos Andrade durante o ato do dia 27/01. Foto: Banco de Dados AND

No último dia 27 de janeiro, estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foram às ruas para demonstrar sua insatisfação com a manutenção da modalidade de educação à distância (EaD) no início do atual período universitário. O ato foi encabeçado pela Frente Estudantil Contra a EaD e contou com a participação de diversos setores do movimento estudantil combativo. 

O Comitê de Apoio ao Jornal A Nova Democracia de Curitiba (PR) também marcou presença a fim de realizar a cobertura do evento e propagandear a imprensa popular e democrática.

A EaD é uma tortura, exigimos a reabertura!

Agitador com a edição 245 do jornal AND em mãos. Foto: Banco de Dados AND

Inicialmente, os estudantes se reuniram no Campus Reitoria, local onde houve a exposição de faixas com as consignas Aula presencial já! Abaixo a EaD! e Defesa da ciência e das aulas presenciais: pelo fim da EaD e do ensino híbrido!. Nesse momento, foram realizadas intervenções denunciando os rotineiros ataques às universidades públicas – vide os sucessivos cortes orçamentários, como o de 15,3% recentemente anunciado pelo Governo Federal – e exigindo o imediato retorno das aulas presenciais.

Em suas falas, os agitadores também ressaltaram o importante papel do movimento estudantil combativo em levar a cabo a justa luta dos universitários contra o projeto de desmonte da educação pública conduzido pelo velho Estado brasileiro. Alguns comerciantes locais demonstraram apoio ao ato, como constatado através da doação de biscoitos aos manifestantes, por exemplo.

Faixa estendida pela Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia (ExNEPe). Foto: Banco de Dados AND

Posteriormente, foi realizada uma marcha entre os campi Reitoria e Prédio Histórico (Praça Santos Andrade), na qual os estudantes, portando faixas e bandeiras, bradaram firmemente diversas palavras de ordem que enfatizavam o derradeiro papel da universidade: servir ao povo. Chegando à Praça Santos Andrade, os manifestantes reuniram-se nas escadarias em frente ao Prédio Histórico e deram continuidade ao ato.

Antes do término, os organizadores revelaram a intenção de boicotar a EaD e de realizar atividades presenciais durante as primeiras duas semanas de fevereiro, como aulas e palestras públicas ministradas pelos próprios estudantes ou por professores democratas.

É nossa, é nossa, a universidade, para servir ao povo consciência de verdade!

RECHAÇAR AS ILUSÕES COM A BUROCRACIA UNIVERSITÁRIA E LANÇAR-SE PARA A LUTA!

Para uma luta estudantil combativa e efetiva se fazem necessários debates constantes e intensa organização. Por isso, dias antes do ato, em 23 de janeiro, em reunião convocada pela Frente Estudantil Contra a EaD, diversos estudantes reuniram-se no Campus Reitoria para discutir e organizar o evento do dia 27. O Comitê de Apoio esteve presente através da montagem de uma banca para venda de livros, quadros e jornais A Nova Democracia.

A ação direta para exigir o retorno imediato das aulas presenciais tornou-se ainda mais necessária após a publicação de uma nota oficial redigida pela UFPR em 18 de janeiro e publicada sem qualquer consulta prévia aos estudantes. No documento, a instituição afirmou que a alta do número de casos de Covid-19 – devido à rápida propagação da variante ômicron – retardaria em duas semanas o início das aulas presenciais, previsto para o dia 31/01/2022. Todavia, nada garante que serão apenas duas semanas e que os mesmos argumentos infundados não serão utilizados para estender a EaD. Essa equivocada e injustificável imposição da burocracia universitária é, na verdade, uma medida que dá as costas ao povo e à ciência, visto que inúmeros médicos e especialistas já haviam confirmado a plena possibilidade de retorno das atividades presenciais. Além disso, a ômicron não representou um aumento expressivo no número de óbitos e internamentos no Paraná, estado no qual mais de 70% da população já está imunizada com as duas doses da vacina contra a Covid-19.

Estudantes reunidos no Campus Reitoria para o ato do dia 27/01. Foto: Banco de Dados AND

A mesma UFPR aprovou, em 27 de janeiro, através da Resolução Nº 01/22-COUN, a “comprovação de esquema vacinal completo contra a Covid-19 como condicionante para o acesso e permanência nos campi (…) [e] demais instalações da UFPR no retorno das atividades acadêmicas presenciais”. Contudo, é no mínimo estranho e contraditório saber que a mesma instituição que aprovou corretamente o necessário passaporte vacinal é a mesma que adiou o retorno das aulas presenciais. Ora, a manutenção da EaD nada mais é do que uma postura anticientífica e obscurantista, visto que se baseia na negação da eficiência da mesma vacina que consta no passaporte vacinal.

Como atividade introdutória para a reunião, foi realizada a leitura coletiva do Editorial semanal de AND “Universidades de costas para o povo”, que apregoa a defesa da ciência como instrumento de transformação social e clama uma importante tomada de decisão à luta de classes no ambiente universitário. Após a leitura, os organizadores cederam espaço para que cada estudante presente tivesse a oportunidade de realizar uma fala aos demais. Muitos contaram a respeito da péssima experiência vivenciada com a EaD e o Ensino Remoto Emergencial (ERE) durante a pandemia de Covid-19, período no qual os universitários foram extremamente prejudicados por ficarem sem suporte, ensino qualificado ou permanência estudantil digna – tanto que a evasão e o trancamento cresceram significativamente em 2020 e 2021. Os depoimentos comprovaram que a EaD imposta pela UFPR não passou de um grande pacto de mediocridade, no qual os professores fingem ensinar e os alunos fingem aprender. Além disso, outros estudantes aproveitaram para exigir voz ativa e presença efetiva dos estudantes nas decisões da UFPR, denunciando a postura injustificável do Reitor Ricardo Marcelo Fonseca e de toda a burocracia universitária.

Leia também: Editorial semanal – Universidades de costas para o povo – A Nova Democracia

Dentre os presentes, haviam também pessoas de outras cidades ou estados brasileiros, que voltaram a Curitiba exclusivamente devido ao vergonhosamente adiado início das aulas presenciais. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), um importante indicador do movimento de preços e da “inflação do aluguel”, encerrou 2021 com alta acumulada de 17,78%. Neste âmbito, a injustificável e unilateral decisão da UFPR atinge diretamente esses estudantes que não têm garantia alguma de permanência e precisam arcar com o elevado e crescente preço do aluguel.

Estudantes em frente ao Prédio Histórico, na Praça Santos Andrade. Foto: Banco de Dados AND

A REABERTURA DOS RESTAURANTES UNIVERSITÁRIOS É VITÓRIA DA LUTA ESTUDANTIL COMBATIVA!

Os Restaurantes Universitários (RUs) da UFPR são essenciais para a permanência de milhares de estudantes na capital paranaense, e haviam sido fechados arbitrariamente antes mesmo da suspensão do calendário acadêmico de 2020, no estágio inicial da pandemia de COVID-19. Desse modo, milhares de estudantes que frequentavam e dependiam dos RUs foram deixados desamparados e largados às traças nos últimos dois anos. Durante esse período, a burocracia universitária (PRA, PRAE e Reitoria) negou-se a reabri-los sob a justificativa de ter disponibilizado o Auxílio Refeição Emergencial no valor mísero de R$ 250,00. Todavia, esse “auxílio fome” não garante sequer uma cesta básica – que passa dos R$ 600,00 em Curitiba – e atingiu um número baixíssimo de universitários.

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Observando a supracitada negligência da UFPR, o movimento estudantil combativo organizou-se em uma campanha pela reabertura dos RUs. As ações que tiveram início por meio de panfletagens em terminais de ônibus, aulas públicas e manifestações atingiram seu ápice na greve de ocupação realizada no RU Central (Campus Reitoria), em novembro de 2021. Durante a ocupação, que durou dois dias, os grevistas da Frente Estudantil e demais organizações democráticas consertaram uma pia estragada, serviram refeições aos estudantes e realizaram atividades políticas e culturais (cine-debate, produção de cartazes, debates etc.). Recentemente, após a pressão exercida pela luta estudantil com a vitoriosa tática da greve de ocupação, a UFPR confirmou a plena reabertura dos RUs a partir da retomada do calendário acadêmico, em 31 de janeiro, exigindo o passaporte vacinal e garantindo aos universitários, pelo valor de R$ 1,30, a possibilidade de alimentar-se no local ou preparar marmita, o que também havia sido uma demanda dos manifestantes. A vitoriosa ocupação do RU Central e o avanço da mobilização presencial combativa garantiram a reabertura dos Restaurantes Universitários.

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Faixas com as consignas “Pela reabertura do RU! Abaixo a privatização da universidade pública!” e “RU ocupado!”. Foto: Frente Estudantil Contra a EaD

A greve de ocupação deixou a burocracia universitária tremendo como varas verdes. Durante o ato do dia 27/01, os prédios Dom Pedro I e Dom Pedro II, do Campus Reitoria, estavam inexplicavelmente fechados, barrando a entrada dos estudantes e demonstrando o medo da realização de uma nova ocupação estampado no rosto do fisiocrata Ricardo Marcelo e demais burocratas. De acordo com a Ordem de Serviço Nº 001/2019, que jamais foi revogada, o horário padrão de funcionamento dos campi universitários é das 7:00 às 23:00, fato esse que foi confirmado pela Coordenação de Acompanhamento e Avaliação dos Serviços Terceirizados (CAAST), vinculada à Pró-Reitoria de Administração (PRA). Mesmo procurados para esclarecer a situação ocorrida, nenhum órgão correlacionado à UFPR pareceu disposto a responder o verdadeiro motivo do fechamento dos prédios – nem mesmo a Superintendência de Comunicação Social e Marketing (Sucom) ou a Ouvidoria Geral.

Funcionários do Campus Reitoria contaram diferentes versões do ocorrido: um deles disse que o bloqueio das portas foi um pedido dos vigilantes pois temiam uma nova ocupação, outro afirmou que o fechamento ocorreu devido à casos suspeitos de Covid-19 entre os servidores. Contudo, nenhuma dessas versões pôde ser confirmada: a CAAST negou que os vigilantes estivessem envolvidos no ocorrido e, quanto às suspeitas de Covid-19, não há nenhuma comprovação de que fossem suficientes para o fechamento dos prédios – além disso, ainda haviam funcionários por lá, o que não faria sentido caso houvesse sido tomada alguma medida sanitária de segurança. Desse modo, a evidente omissão de informação por parte da UFPR faz parecer que não há justificativa plausível e comprovada para que a entrada dos estudantes em um local público que é seu por direito fosse bloqueada.

Durante os últimos dois anos marcados pela pandemia de Covid-19, a EaD mostrou-se como fator decisivo para a instauração do imobilismo em parte do movimento estudantil. Além disso, a manutenção dessa falha modalidade de ensino serve apenas ao velho Estado e seu projeto político de desmantelamento e privatização das universidades públicas brasileiras. Logo, deve ser combatida com vigor e prontidão. Os atos contra a EaD no Paraná e em todo o Brasil mostram com clareza que apenas a luta presencial e combativa permitirá que os estudantes garantam seu direito de ensinar, estudar e aprender, rumando, assim, a uma universidade democrática e a serviço do povo.