Publicado por AND 06/03/2022. Texto de: Fausto Arruda | Mário Lúcio de Paula
Publicamos em nosso portal o presente texto por ocasião do dia internacional da mulher proletária e pela data de nascimento da grande dirigente revolucionária Sandra Lima, que em 2022 completaria 67 anos.
Citando Sema Tsien, escritor da China antiga, Mao Tsetung assinalou que embora a morte colha a todos igualmente, a morte de alguns tem mais peso que o monte Tai, enquanto que a de outras pesa menos que uma pena. Morrer pelos interesses do povo tem mais peso que o monte Tai, mas empenhar-se ao serviço dos fascistas e morrer pelos exploradores e opressores do povo pesa menos que uma pena (Servir ao povo, 8 de setembro de 1944).
Sandra Lima empunha orgulhosa a bandeira do MEPR junto aos jovens ativistas que forjou.
Na noite de 26 de agosto, cumpriu-se um mês do falecimento da companheira Sandra Lima. Em seus funerais, no dia 27 de julho passado, a intervenção da Frente Revolucionaria de Defesa dos Direitos do Povo(FRDDP), organização que Sandra foi uma das fundadoras e dirigentes, impactou todos profundamente. Em suas palavras finais, o dirigente da FRDDP conclamou todos “aqueles que conviveram e que a conheceram, que a conhecessem mais, conhecessem mais as suas ideias, que conhecessem mais da sua causa, que conhecessem mais essa grande mulher”.
À sua inolvidável memória e trajetória de militante revolucionária dedicamos as nossas duas últimas edições e também a atual. Tivemos a oportunidade de desfrutar da casualidade histórica de o AND — desde seu surgimento e durante seus primeiros 15 anos — poder contar com a companheira como colaboradora e propagandista, e de poder, com ela, participar de debates e lutas, além de absorver um pouco de sua experiência acumulada ao longo de mais de quatro décadas dedicadas à luta dos povos brasileiro e de todos os países.
E foi com grande honra que recebemos o convite para o ato em sua homenagem organizado pelo Movimento Feminino Popular (MFP), realizado no último dia 26 de agosto, em Belo Horizonte (MG).
No salão repleto da Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves, a bandeira vermelha do MFP se destacava sobre a mesa ornamentada com flores vermelhas e amarelas. Faixas com consignas revolucionárias e o vai e vem de jovens vestidas de camisetas brancas e com lenços vermelhos estampados com a sigla do movimento — ativistas da juventude forjada por Sandra Lima — iam e vinham com passos rápidos e decididos nos últimos preparativos para o ato.
As organizações populares, democráticas e revolucionárias nas quais e junto das quais Sandra lutou a maior parte de sua trajetória estavam presentes à mesa, cuja Presidência de Honra foi ocupada pela Liga Operária. Além das diversas organizações presentes, lá estavam pessoas que conviveram e lutaram com a companheira, familiares e amigos. Operários, camponeses, professores, estudantes e famílias proletárias da Vila Corumbiara e da Vila Bandeira Vermelha — ocupações urbanas de Belo Horizonte e Região Metropolitana, cujas batalhas por moradia contaram com a intensa e decisiva atuação de Sandra Lima em seu apoio, propaganda e, sobretudo, mobilização, politização e organização das mulheres nessas lutas.
Foram citadas as mensagens enviadas por diversas organizações de outros países em honra à memória de Sandra Lima como o blog Dazibao Rojo (Estado espanhol), Movimento Feminista Proletário Revolucionário (Itália), Comitê de Redação do Periódico El Pueblo (Chile), Associação de Nova Democracia (Alemanha), Frente Revolucionária do Povo (Equador), entre tantas outras enviadas por companheiros e amigos.
O hino dos trabalhadores em todo o mundo, A Internacional, foi cantado de pé, solenemente.
A Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo fez um pronunciamento resgatando a trajetória da companheira, desde a sua infância no interior de Minas Gerais e sua forja como destacada militante revolucionária e dirigente do Movimento Feminino Popular. Em cada marco da trajetória de Sandra Lima, ativistas recitaram poemas de sua autoria que revelavam toda a sua inquietude pulsante, indignação e firme convicção na necessidade de uma transformação radical da sociedade. Foi destacado seu otimismo, sua confiança nas massas e em sua organização, sua conduta firme no combate ao oportunismo de forma indissociável do combate ao imperialismo e toda a reação. A combatividade e firmeza com que sempre enfrentou os inimigos de classe e os problemas de saúde que fustigaram seu corpo durante décadas sem fazer vergar sua decisão revolucionária. A solidez ideológica da dirigente revolucionária que, incansavelmente, fustigou e conclamou as companheiras a combaterem a auto-subestimação, a se formarem como quadros ideológicos e políticos, a servirem sem reservas ao povo e as suas lutas.
Ativistas do MFP fizeram uma apresentação especial do hino do Movimento Feminino Popular portando a bandeira do movimento e uma foto de Sandra Lima. Elas expressaram em sua organização e evolução compacta a organização necessária para as massas destruírem o velho e construírem o novo.
Também foi exibido um belo vídeo com imagens da atuação de Sandra Lima em lutas como a pela punição dos criminosos militares e civis, mandantes e executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados do regime militar fascista; sua participação em reuniões com mulheres trabalhadoras na cidade e no campo e seu papel destacado como fundadora e formuladora da linha revolucionária do Movimento Feminino Popular; sua atuação junto às famílias proletárias em luta por moradia e outros direitos. As imagens revelaram a dedicada mãe e avó revolucionária e a militante que, paciente e inquieta, consagrou-se como poucos a educar as novas gerações no fogo da luta de classes e na ideologia científica do proletariado.
Essa última característica, especialmente, ficou marcada na fala de uma jovem camponesa. Vinda especialmente de Pernambuco para a homenagem, com seu forte acento nordestino e com simplicidade, ela disse não ter conhecido pessoalmente Sandra Lima, mas muito ouvira sobre a dirigente. Como ativista do MFP, expressando a mesma firmeza de Sandra Lima, ao falar da dirigente, primeiramente tímida, mas encorajando palavra após palavra, afirmou: “A firmeza com que as companheiras gritam nas reuniões, Despertar a fúria revolucionária da mulher!, é isso que a companheira Sandra Lima nos ensinou e vamos levar conosco. É isso que vamos fazer!”.
Empenhou-se sem poupar esforços na politização e organização das massas.
Camponesas de diversas regiões do país, dirigentes regionais e ativistas do MFP foram à frente e destacaram a passagem marcante de Sandra Lima em suas áreas, para realizar reuniões e encontros que deixaram lembranças e exemplos. Reafirmaram perante os presentes o compromisso de continuar o trabalho da dirigente.
À convocação de uma jovem militante, as ativistas do MFP, portando braçadeiras e lenços vermelhos, perfilaram-se. Ao longo de sua construção, o Movimento Feminino Popular — a exemplo de outras organizações classistas do movimento revolucionário proletário — adotou seu Juramento de Honra. Nessa noite, em homenagem a sua fundadora, o MFP fez pela primeira vez o seu, repetido em uníssono pelas ativistas de punhos erguidos.
Os acordes da canção revolucionária italiana Bella Ciao se elevaram no salão: “Numa manhã de sol radiante, ó Bella Ciao, Bella Ciao, Bella Ciao! Numa manhã de sol radiante, terei nas mãos o opressor! É meu desejo seguir lutando…”.
Empenhou-se sem poupar esforços na politização e organização das massas
Encerrando o vibrante e emocionante ato, todos os camponeses presentes cantaram o Hino da Revolução Agrária e todos repetiram seu refrão com entusiasmo e imbuídos do exemplo combativo da grande revolucionária Sandra Lima: “Já chega de tanto sofrer, já chega de tanto esperar. A luta vai ser tão difícil, por mais que demore vamos triunfar!”.
O materialismo dialético e histórico nos ensina que uma vez que as massas aprendam a ideologia científica do proletariado, esta se converte em uma força material capaz de transformar o mundo, uma força sob cujo impacto toda a velha superestrutura e ideologia é posta abaixo. A presença impactante de Sandra Lima se fez sentir naquela noite de forma intensa expressada por aquelas e aqueles que empunham suas bandeiras de luta, seus continuadores.
“Companheira Sandra Lima: presente na luta!”
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