Nota Inicial: Reproduzimos importante nota da Unidade Vermelha – Liga da Juventude Revolucionária sobre a plataformização nas escolas públicas, iniciadas em São Paulo e no Paraná e agora se espalhando por todo o país.
Desde que ocorreu a pandemia da covid-19, as escolas têm sido invadidas por uma parafernália de recursos tecnológicos, tais como plataformas para o ensino de disciplinas, softwares para realização de avaliações, juntamente com notebooks, tablets e até lousas digitais adquiridos por parcerias milionárias com empresas monopolistas como a Google e Microsoft. Essa é a chamada plataformização do ensino. Esse processo se iniciou com maior força no Paraná e em São Paulo, promovidas pelos governos do estado como laboratório a ser implementado em todo o país.
As plataformas têm se inserido na escola através de um discurso farsesco que associa a “tecnologia” com a ideia de “progresso” ou “inovação”, relação que busca nos levar a conclusão de que a introdução de recursos digitais na educação representa, necessariamente, a melhoria do ensino, enquadrando a tecnologia como algo neutro, ignorando suas verdadeiras finalidades, seu caráter econômico e político. Devemos sempre nos perguntar a quem serve essa política, a quem ela beneficia.
Segundo dados disponíveis, o governo do Paraná já gastou cerca de 2,2 bilhões com tecnologia, plataformas e outros recursos digitais para a educação desde 2020, em acordos com empresas como Google, Matific Brasil, Alura e Positivo. Em São Paulo, os contratos para fornecimento de notebooks, tablets e plataformas somam mais de 988 milhões de reais e, destes, 200 milhões foram firmados com a Multilaser, empresa do secretário da educação e sanguessuga Renato Feder. Com esses dados, fica claro que a ensino público se tornou um mercado extremamente lucrativo para os monopólios da tecnologia, e as secretarias, grandes balcões de negócios. Assim, as verbas destinadas a educação são usadas para comprar todo tipo de bugiganga inútil unicamente para enriquecer e encher os bolsos de ricaços.
E o argumento de que essas tecnologias buscam a melhoria da aprendizagem também tem se mostrado um grande engodo. Cada vez mais as aulas, os momentos de exposição dos conteúdos, os debates de sala de aula, dinâmicas, as trocas entre professores e alunos, que são fundamentais para a assimilação e sistematização dos conceitos tem tido seu lugar usurpado pelo fazer mecânico de questionários diários, repetitivos e descontextualizados dos conteúdos trabalhados em sala – muitas vezes que permitem que as alternativas sejam respondidas diversas vezes até descobrir a resposta correta, sem a necessidade de compreender a solução do problema. Os alunos são obrigados a realizar uma série de procedimentos puramente formais, burocráticos, sem consciência do que estão fazendo, sem aprender de verdade.
Não há compromisso com o aprendizado dos alunos, o que há, de fato, é cobranças e mais cobranças pela utilização das plataformas e notebooks para obtenção de dados quantitativos que serão usados para a elaboração de ranqueamento das escolas a partir de informações enviesadas. Dizendo tudo isso, se escancara o caráter tecnicista que fundamenta essa concepção de ensino.
Neste cenário, os professores têm o seu direito de ensinar duramente atacado. A cada dia tem perdido mais sua autonomia, na medida em que tem seu trabalho subordinado às plataformas, através dos materiais prontos, planos de aula, lições de casa e avaliações pré-elaboradas e corrigidas parcialmente por inteligência artificial. Longe de auxiliar o docente, retira sua liberdade profissional, tornando-o um mero técnico e “dador” de aulas, aplicador de cartilhas e slides. Ademais, a plataformização tem sido usada como ferramenta de controle e vigilância dentro das escolas, e os professores têm tido seu trabalho “analisado” pelos dados coletados pelas plataformas.
A plataformização tem alterado radicalmente a rotina das escolas, mas é inserida depois que o caminho foi pavimentado pela reforma do “Novo” Ensino Médio (NEM). Este último, com toda certeza, é hoje o maior ataque ao ensino público e gratuito. O NEM escancarou as portas do ensino público para a privatização, ao permitir a criação de parcerias público-privadas – a privatização –, para a aquisição de infraestrutura e tecnologia e possibilitar que parte da carga horária seja cursada através da Educação a Distância (EAD). Por sua vez, o esvaziamento dos conteúdos científicos promovido pelo NEM ao substituir as disciplinas elementares por itinerários formativos e admitir a contratação de profissionais sem qualificação através do “notório saber” abriu espaço (ou mercado?) a ser preenchido pelas plataformas com cursos aligeirados e focados em empreendedorismo.
Essas reformas educacionais não querem preparar os jovens para compreender cientificamente a realidade e se situar nela buscando transformá-la, muito pelo contrário. Diante da crise aguda do imperialismo, essas medidas visam adequar a educação para formar mão-de-obra barata para um mercado de trabalho em que cerca de 118,2 milhões de brasileiros, ou 56% da população, se encontram desempregados. É reduzir o ensino ao mínimo, adestrando uma nova geração destinada ao subemprego, a uberização, e torná-los conformados e dóceis, sem condições de se revoltar e lutar contra sua situação de opressão e exploração.
Não podemos permitir que nossos direitos de estudar e aprender sejam pisoteados! A plataformização e o “Novo” Ensino Médio são contrarreformas que andam de mãos dadas, devemos combatê-las juntas: boicotando a utilização dos notebooks e plataformas e lutando para que possamos estudar as disciplinas fundamentais e conteúdos científicos, fazer greve de ocupação para tomar as rédeas das escolas em nossas mãos para realizar assembleias populares, aulas públicas, debates e atividades culturais e, assim colocar o ensino público e gratuito a serviço do povo, e não para uma minoria de parasitas das classes dominantes – latifundiários, grandes burgueses e imperialistas, principalmente norte-americanos – que vivem de roubar nossas riquezas e destruir o nosso País.
PELO DIREITO DE ENSINAR, ESTUDAR E APRENDER!
BOICOTAR A PLATAFORMIZAÇÃO NAS ESCOLAS COM GREVE DE OCUPAÇÃO!
PELA REVOGAÇÃO IMEDIATA DO “NOVO” ENSINO MÉDIO!