“A Pedagogia, especialmente a teoria da educação, é, sobretudo, uma ciência com objetivos práticos. Não podemos simplesmente educar um homem, não temos o direito de realizar um trabalho educativo, quando não temos frente aos olhos um objetivo político determinado. Um trabalho educativo, que não persegue uma meta detalhada, clara e conhecida em todos os seus aspectos, é um trabalho educativo apolítico.” (O grifo é nosso)
Makarenko nasceu no dia 13 de março de 1888, na cidade de Belopólie (Ucrânia). Anton foi o segundo filho de uma família típica de operários da região; seu pai, Semion Gregorievitch Makarenko, trabalhava como pintor nas oficinas do sistema ferroviário nacional. Em 1895 (com 7 anos), foi matriculado na escola primária, cujo curso tinha duração de dois anos. Passou muitas dificuldades durante sua infância.
Aos 12 anos, Makarenko muda-se com toda sua família para Kremenchug, na vila de Kriúkov (perto do rio Dnieper). Nela viveu sua juventude e foi ali que iniciou sua atividade pedagógica. Estudou na Escola Urbana de Kremenchug durante seis anos.
Em 1904, termina o ginasial com nota máxima em todas as matérias e decide ser professor. Em agosto do mesmo ano, ingressou num curso que formava em apenas onze meses jovens profissionais do ensino para o magistério primário. Na primavera de 1905, termina com grande animação, as aulas pedagógicas e recebe seu primeiro diploma como educador.
O ano de 1905 marcou profundamente a história do povo russo. Em janeiro ocorreu o conhecido “Domingo Sangrento”, que abalaria as estruturas do poder tzarista. O massacre de São Petesburgo repercutiria em toda a Ucrânia. Mais de 30 mil pessoas tomaram as ruas de Kiev, reivindicando melhores condições de vida tanto para os trabalhadores da indústria como para os camponeses e entraram em confronto com as tropas tzaristas, que metralharam os manifestantes, assassinando mais de 500 pessoas.
Em Kriúkov, Anton e um grupo de professores progressistas interessados em obter maiores informações sobre o desenvolvimento teórico e prático da revolução, assinaram em 27 de outubro de 1905, o primeiro jornal legal bolchevique de circulação nacional, o Nóvaia Jizni (Vida Nova), fundado por Lenin (redator-chefe) e Gorki.
Anton começou a sua juventude trabalhando. No dia 1º de setembro de 1905, estréia como professor de língua russa na Escola Primária Ferroviária Kriúkov. E, em 1911 assumiu a direção de uma escola secundária na estação Dolinskáia, onde foi nomeado inspetor de instrução pública. Mais consciente da educação que queria aplicar ampliou o espaço cultural, mudou o currículo com a ajuda de pais e professores e estabeleceu o ensino da língua ucraniana, em contraposição às ordens do Tzar, que estabelecia o ensino da língua russa na Ucrânia. Em agosto de 1914 se demite de suas funções na escola secundária de Dolinskáia, com o intuito de se especializar nas disciplinas do ensino superior. Terminara os 9 anos de sua vida dedicados à docência em educação infantil.
Conclui o Instituto Pedagógico de Poltava em 1917 (ano da revolução) e passa a administrar escolas em Kriúkov e Poltava de 1918 a 1920.
Sua mais marcante experiência deu-se de 1920 a 1928, na direção da Colônia Gorki, instituição rural que atendia crianças e jovens órfãos que haviam vivido na marginalidade. Lá ele pôs em prática um ensino que privilegiava a vida no coletivo, a participação da criança na organização e gestão da colônia, o trabalho coletivo e a disciplina consciente. A mais rica experiência pedagógica de Makarenko pode ser conhecida no livro “Poema Pedagógico”, onde ele relata as dificuldades encontradas para reeducar as crianças e jovens abandonados pelo antigo regime que se tornaram orgulhosamente “colonistas” e, posteriormente, cidadãos soviéticos.
Em fins de 1922, Makarenko teve seu primeiro encontro com Galina Stakhievna Salkó, importante dirigente do Comissariado do Povo para Instrução Pública da Ucrânia, que se interessou profundamente pela sua experiência e aconselhou-o a elaborar uma monografia teórica. Ela o ajudou em especial com os trâmites legais para que pudesse viajar a Moscou e estudar no Instituto Central de Organizadores da Instrução Pública. Essa relação de companheirismo e entusiasmo com o trabalho transformou-se em amor, e os dois se casaram em 1927, logo após uma visita que Galina fez à Colônia Gorki.
Em 3 de setembro de 1928, Makarenko deixa a colônia Gorki e assume a direção da comuna de trabalho Félix Djerzinski, dotada de uma escola primária com um ciclo de 10 graus, seguindo as normas docentes determinadas pelo Comissariado de Moscou. A comuna abrigava crianças abandonadas e filhos de famílias em crise. Foi a primeira escola pública em regime de autogestão econômica, alcançada em 1930.
Os últimos anos da vida de Makarenko foram dedicados à sistematização de sua experiência, seja através da literatura ou através de Conferências e Seminários que deu por toda a União Soviética. Publicou novelas, peças de teatro e livros sobre educação, sendo “Poema Pedagógico” o mais importante. Em 1935, é transferido para Kiev, a fim de trabalhar como assistente da chefia na Direção das Colônias de Trabalho do Comissariado do Povo do Interior da Ucrânia. Em 1937, se transfere, juntamente com sua esposa (Galina) e seu filho adotivo (Liodka) para Moscou e vai dedicar-se inteiramente à atividade literária.
O ritmo intenso de trabalho abalou sua frágil saúde e no inverno de 1938, já estava sob estrito controle médico. No dia 31 de janeiro de 1939, Makarenko recebeu uma das mais importantes condecorações do governo soviético: a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho, “pelos seus destacados êxitos e realizações em prol da literatura e da pedagogia soviéticas”. Em fevereiro de 1939, solicita seu ingresso no Partido Comunista da União Soviética, petição que foi imediatamente concedida. O pedido de Makarenko foi incluído na ordem do dia em 4 de abril de 1939, para ser oficializada na reunião que o Partido realizaria na União dos Escritores Soviéticos, mas não se efetivou. Morreu de ataque cardíaco durante uma viagem de trem em 1º de abril de 1939, ano que ficaria marcado pelo início da Segunda Guerra Mundial.
Antón Semiónovitch Makarenko dedicou 30 anos de sua vida à atividade pedagógica; nesse tempo, mais de três mil crianças passaram sob seu atento olhar, e dedicou os últimos 15 anos de sua vida à aplicação prática e ao aperfeiçoamento do sistema de educação soviético, tendo criado, ainda que com enormes dificuldades, um belo coletivo de educandos e educadores, que fez jus a todos os seus preceitos e às necessidades da educação do “novo homem” na União Soviética.
Makarenko se engajou na luta pelo socialismo como um educador marxista, que lutava para educar os filhos do povo soviético como homens a serviço de sua pátria e do socialismo; denunciou em suas obras, impiedosamente, o idealismo e a metafísica na Pedagogia. Ao elaborar as leis do processo pedagógico, se baseou nos mais importantes teóricos da revolução, principalmente Lenin, que desenvolviam as leis marxistas do desenvolvimento da sociedade, da natureza social do homem e a nova moral socialista. Foi esta tarefa que Makarenko se propôs a cumprir e cumpriu. Sua Pedagogia se baseia na utilização do enorme potencial do coletivo e se apóia na combinação contínua e coerentemente mantida da instrução escolar com o trabalho coletivo e se sustenta a partir de uma nova concepção de mundo, concepção do proletariado, iluminada pelo marxismo.