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Resposta da Frente Revolucionária a Jones Manoel (2014): Fascismo, oportunismo e farsa eleitoral

por MEPR
Publicado em abril 29, 2014
35 minutos de leitura

“Proletários de todos os países e povos do mundo, uni-vos!”

Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo – FRDDP

Núcleo Recife – Pernambuco

Em março deste ano, um jovem que se identifica por militante do PCBrasileiro, estudante de história da UFPE, publicou em seu blog pessoal o texto “O ‘social-fascismo’ e a ‘farsa eleitoral’: convergências e aproximações” com o qual critica o Movimento Estudantil Popular Revolucionário e o chamado “terceiro período” da Internacional Comunista. Visto que o debate sobre o fascismo, a ruptura ou não com as correntes oportunistas e o boicote à farsa eleitoral estão na ordem do dia, aproveitamos da explanação revisionista destes temas para, a partir de sua crítica, sustentar a defesa das concepções revolucionárias do marxismo. O jovem militante do PCBrasileiro diz basear sua argumentação na teoria de Marx, Engels e Lenin, mas na verdade deturpa estas concepções para defender as proposições oportunistas da direção de seu partido, a saber: a posição centrista e conciliadora com o governo Dilma (PT/Pêcêdobê) e a defesa de uma estratégia eleitoreira como caminho da revolução socialista no Brasil. Partindo dos próprios clássicos da ideologia científica do proletariado, e não de confusas e ecléticas interpretações das mesmas, fundamentaremos nossas críticas.

Imperialismo e a cisão do socialismo

O estudante de história inicia seu texto com duras críticas à III Internacional (IC ou Cominter), afirmando que: “o chamado ‘terceiro período da Internacional Comunista (IC) foi um período de amplo esquerdismo teórico e prático que contribuiu para derrotas vergonhosas e acachapantes para o movimento comunista internacional. Uma das principais características do famoso ‘terceiro período’ da IC era a formulação do ‘social-fascismo’.” O denominado “terceiro período” da Internacional Comunista corresponde ao VI e VII Congresso da mesma (1928 e 1935, respectivamente). Antes de mais nada, somos obrigados a rebater o tom arrogante e carente de fundamentos expresso no termo “derrotas vergonhosas”. Que derrotas vergonhosas foram estas? Este foi um período de muita luta, muita resistência e enfrentamentos dos comunistas em todo o mundo, com a criação de partidos comunistas na maioria dos países de todos os continentes. Foi o período do avanço da construção socialista na URSS, da coletivização da terra, da preparação das condições sobre as quais se derrotou o nazi-fascimo na Segunda Guerra Mundial.

O termo social-fascista foi utilizado pelo Partido Comunista da Alemanha, naquela época, para caracterizar os setores oportunistas do movimento operário alemão, a socialdemocracia como então eram conhecidos. A terminologia correspondia a avaliação de que a prática da socialdemocracia alemã se assemelhava a dos fascistas e, portanto, ambos deveriam ser combatidos com a mesma energia. O nosso estudante de história se levanta em defesa do oportunismo socialdemocrata alemão dizendo: “a socialdemocracia alemã foi, inclusive, mais combatida pelos comunistas alemães que o nazismo até 1934-5”. Esta afirmação é falsa, mas a contestaremos um pouco mais adiante. Antes é preciso fazer uma rápida retrospectiva da luta de linhas no movimento comunista internacional nas primeiras décadas do século XX.

A II Internacional fora fundada por Engels em 1889, ela cumpriu um papel fundamental na formação de Partidos marxistas em toda a Europa. Com a morte de Engels, em 1895, Karl Kautsky tornou-se a principal liderança da II Internacional. Dirigente do Partido Operário Social-Democrata Alemão e reconhecidamente o mais destacado marxista depois de Marx e Engels, viu recair em suas mãos a grave responsabilidade da edição e publicação do Livro 4 de O Capital, de acordo com os manuscritos dos dois mestres e prosseguir o combate ao revisionismo de Bernstein. Os anos iniciais da II Internacional corresponderam ao que o grande Lenin denominou por “período ‘mais ou menos pacífico’ do desenvolvimento do capitalismo”. Tal situação muito contribuiu para que os partidos socialdemocratas vissem no movimento sindical e no parlamento o centro de sua atuação revolucionária. Este também é o período em que o capitalismo transita para um novo estágio de seu desenvolvimento, o do capital monopolista, o imperialismo, que foi assim definido por Lenin:

“O imperialismo é um estágio histórico particular do capitalismo. Esta particularidade é tripla: o imperialismo é 1) capitalismo monopolista; 2) capitalismo parasitário ou em decomposição; 3) capitalismo moribundo (agonizante).” (V.I. Lenin, O imperialismo e a cisão do socialismo)

V.I. Lenin

Com o advento do imperialismo, encerra-se o período “mais ou menos pacífico” do desenvolvimento do capitalismo; surgem os conflitos regionais entre as potências imperialistas, tal como a guerra russo-japonesa; destampa a revolução Russa de 1905 (temporariamente derrotada); e, em 1914, eclode a Primeira Guerra Mundial. A Guerra Mundial marcará uma profunda e necessária divisão no movimento comunista. A maioria dos partidos da II Internacional passaram a apoiar a burguesia de seus respectivos países no conflito entre as potências pela partilha do mundo, votando no parlamento a favor dos créditos de guerra e consequentemente quebrando a unidade internacional da classe operária. Lenin caracterizou muito precisamente a Primeira Guerra como uma guerra entre potências imperialistas por uma nova partilha do mundo, dos mercados e das colônias. Defendeu que os operários não deveriam morrer nas trincheiras lutando pelos interesses da burguesia de seu país, mas que ao contrário, a única tática revolucionária da socialdemocracia era a de “transformar a guerra imperialista em guerra civil revolucionária”.

Lenin caracterizou os partidos que se aliavam às burguesias de seus países como “social-chauvinistas”, socialistas em palavra e patrióticos fanáticos na prática. Com a passagem do capitalismo à seu estágio monopolista imperialista, muitos marxistas capitulam da luta de classes, inclusive o destacado Kautsky, que do combate ao revisionismo de Bernstein passa ao campo do social oportunismo. Com a guerra imperialista, ele defende a aprovação dos créditos de guerra no parlamento alemão e uma posição “centrista” ao propor a unidade, no mesmo partido e na mesma internacional, com os “social-chauvinistas”. Foi acusado por Lenin de passar de social-oportunista a social-chauvinista, que assim disse:

“Foi no seio da socialdemocracia alemã que se delineou com maior evidência a cisão no socialismo contemporâneo. Vemos aqui com toda clareza 3 correntes: os oportunistas-chauvinistas, que em parte nenhuma como na Alemanha atingiram um tal grau de decadência e de renegação; o ‘centro’ kautskista, que se mostrou aqui completamente impotente para desempenhar qualquer outro papel além do de servidor dos oportunistas; e a esquerda, que representa os únicos sociais-democratas da Alemanha.”

(V.I. Lenin, O socialismo e a guerra”)

São os partidários do social-chauvinismo na Alemanha (Ebert, Scheidemann, Noske e cia), que mais tarde serão acusados de “social-fascistas” pelo Partido Comunista e pela IC. Mas voltemos ao retrospecto da luta de duas linhas no movimento comunista internacional. Diante desta situação, qual foi a proposição de Lenin? Combatendo as posições conciliadoras de Kautsky, internacionalmente, e de Trotsky, na Rússia, Lenin defenderá a cisão com o oportunismo e o combate inconciliável aos seus defensores. E mais, em decorrência de sua análise do imperialismo defenderá que nesta etapa do capitalismo, dos monopólios e do lucro-máximo, a cisão no seio do socialismo era inevitável e definitiva. Segundo Lenin, os superlucros obtidos pelo imperialismo na espoliação das nações atrasadas permitiam a burguesia das potências imperialistas corromper uma camada do proletariado, a “aristocracia operária”. Esta camada aburguesada, conformada pelos chefes e subchefes e a burocracia sindical, é a base objetiva do oportunismo.
“Existe uma ligação entre o imperialismo e a vitória monstruosa e abominável que o oportunismo (na forma de social-chauvinismo) alcançou sobre o movimento operário na Europa? É esta a questão fundamental do socialismo contemporâneo. (…)


Sobre a base econômica apontada [imperialismo, monopólios e lucro-máximo] as instituições políticas do capitalismo moderno – a imprensa, o parlamento, as associações, os congressos, etc. – criaram para os empregados e operários respeitadores, mansos, reformistas e patrióticos os privilégios e esmolas políticas correspondentes aos privilégios e esmolas econômicas. Lugarzinhos rendosos e tranquilos num ministério ou num comitê industrial de guerra, no parlamento ou em diversas comissões das redações de jornais legais ‘sérios’ ou nas direções de sindicatos operários não menos sérios e ‘burguesmente obedientes’ – é com isto que a burguesia imperialista atrai e recompensa os representantes e partidários dos ‘partidos operários burgueses’.” (V. I. Lenin, O imperialismo e a cisão do socialismo)

O fato é que os ‘partidos operários burgueses’, como fenômeno político, se formaram já em todos os países capitalistas avançados, que sem uma luta decidida e implacável em toda a linha contra estes partidos – ou grupos, correntes, etc., tanto faz – nem sequer se pode falar de luta contra o imperialismo ou de marxismo ou de movimento operário socialista. (…)

Explicar às massas a inevitabilidade e a necessidade da cisão com o oportunismo, educá-las para uma luta revolucionária implacável contra ele, ter em conta a experiência da guerra para revelar todas as infâmias da política operária nacional-liberal, e não para as ocultar – tal é a única linha marxista no movimento operário do mundo.” (V. I. Lenin, O imperialismo e a cisão do socialismo).

Caso fizéssemos a última citação sem dizer o nome do autor, provavelmente seríamos acusados de sectários pelo jovem militante do PCBrasileiro. Mas isto não é sectarismo, meu caro, isto é leninismo.

Como fora previsto por Lenin, o centrismo de Kautsky se uniu definitivamente ao social-chauvinismo, a II Internacional veio à bancarrota e, em 1919, foi fundada a III Internacional, a Internacional Comunista. De maneira a demarcar campo entre as linhas opostas no movimento proletário, a corrente de Lenin, desde às vésperas da Revolução Socialista de Outubro de 1917, passa a se assumir como comunista, o Partido Operário Social-Democrata Russo (bolchevique) passa a se chamar Partido Comunista da Rússia (bolchevique). Todos os partidários da II Internacional (chauvinistas e centristas) passam a ser denominados como socialdemocratas, termo que se torna o sinônimo de revisionismo, para os oportunistas que teimavam em falar em nome do marxismo, e de oportunismo e reformismo, para os declaradamente renegados do marxismo.

A socialdemocracia, internacional e na Rússia, se levanta contra a Revolução Socialista de 1917. Na Alemanha, os sociais-democratas assumem a maioria no governo no final da Primeira Guerra. Será esta mesma socialdemocracia, cuja aliança é tão cara ao nosso historiador, que reprimirá a ferro e fogo a revolução socialista na Alemanha em 1919. Será a socialdemocracia alemã a opção da burguesia para administrar a crise após a renúncia do imperador, em fevereiro daquele ano. O presidente do partido socialdemocrata, Ebert, é escolhido primeiro-ministro da chamada República de Weimar. Os corifeus da socialdemocracia alemã, caracterizada pela IC como social-fascistas, foram os que mandaram assassinar a dirigente comunista internacionalista Rosa Luxemburgo, que teve o corpo jogado na sarjeta. Foram os mesmos que mandaram assassinar o líder comunista e internacionalista Karl Liebknecht. Não por acaso, Lenin chega a falar em luta armada contra o oportunismo, o que certamente deve ser considerado “delirante esquerdismo” por nosso historiador revisionista.

“A cisão internacional de todo o movimento operário mostra-se agora com inteira nitidez (II e III Internacionais). A luta armada e a guerra civil entre as duas tendências é também um fato evidente: na Rússia, apoio a Koltchak e Deníkin pelos mencheviques e pelos ‘socialistas-revolucionários’ contra os bolcheviques; na Alemanha, os partidários de Scheidemann, Noske e Cª ao lado da burguesia contra os spartakistas; e o mesmo na Finlândia, na Polônia, na Hungria, etc.” (V.I. Lenin – Prefácio às edições francesa e alemã da obra O Imperialismo, fase superior do capitalismo)

Por fim a refutação à mentira de que “os comunistas na Alemanha combateram mais a socialdemocracia do que o nazismo”. A verdade é exatamente o oposto, a socialdemocracia, esta sim, combateu muito mais os comunistas do que os nazistas. Ou melhor, compactuaram muitas vezes com os nazistas e contribuíram, assim, para a ascensão de Hitler. Vejamos dois exemplos: em 1923, o governo socialdemocrata, enfrenta uma grave crise econômica e social, greves operárias, levantamentos dirigidos pelos comunistas e outros pela extrema-direita. A saída socialdemocrata foi aplicar o artigo 48 da constituição, decretando estado de sítio e transferindo o poder para o ministro do Exército. Este golpe, foi fundamental para aumentar a perseguição aos comunistas e facilitou os planos de Hitler. Um exemplo menor, mas significativo, aconteceu no dia 17 de abril de 1934, quando um confronto de rua estourou entre comunistas e nazistas na cidade de Hamburgo, o prefeito era o socialdemocrata Eggerstadt, este enviou a polícia em socorro dos fascistas e prendeu 17 revolucionários.

Ao defendermos a posição dos comunistas da Alemanha e da Internacional Comunista nos anos de 1920/30, não estamos dizendo que os mesmos não incorreram em erro algum neste período. O movimento revolucionário foi temporariamente derrotado pelo nazismo na Alemanha. Houve uma derrota, mas de forma alguma “vergonhosa”. Vergonhoso teria sido a traição, a capitulação diante das dificuldades. Os comunistas alemães, ao contrário, demonstraram muito heroísmo, destemor e internacionalismo. O principal erro do Partido, naquele período, foi a subestimação da influência do nazismo na classe operária e no campesinato. Ao avaliar que os nazistas não ganhariam apoio do povo, os comunistas descuidaram da denúncia entre as massas da farsa do discurso “nacional-socialista” de Hitler. Isto contribuiu para que os nazistas, com um programa semelhante ao dos social-chauvinistas, ganhassem importantes setores do povo para o discurso do fim da luta de classes e de unidade nacional para o desenvolvimento da Alemanha. Estes erros foram identificados e corrigidos pela Internacional Comunista, em seu VII Congresso (1935), que lançou a política de Frente Única contra o fascismo.

No próprio Partido Comunista da Alemanha, antes deste congresso da IC, uma importante luta de duas linhas foi travada. A linha que predominou foi a defendida pelo dirigente Ernest Tälmann, em contraposição a ela levantou-se Artur Evert defendendo uma posição mais acertada para o combate do nazismo. O camarada Evert tem particular importância na história do Partido Comunista do Brasil, importância ainda não devidamente reconhecida. Este internacionalista convicto, ademais de toda sua atividade no Partido Comunista da Alemanha e após ter atuado no USA e na China, foi destacado pela Internacional para apoiar a direção do PCB-Partido Comunista do Brasil na organização do Levante Popular de 35. Foi preso, brutalmente torturado, juntamente com sua companheira, a camarada Elise Saborovski. Evert não forneceu nenhuma informação aos seus algozes, sequer admitiu que estava no país atuando politicamente, foi tão seviciado que enlouqueceu nas masmorras de Getúlio Vargas. Saborovski foi deportada para a Alemanha nazista, juntamente com Olga Benário, ambas foram assassinadas nos campos de concentração. A defesa jurídica de Artur Evert é conhecida na história do direito brasileiro, pois seu defensor conseguiu barrar as torturas infligidas contra ele baseado na legislação de proteção dos animais, já que não existiam leis no Brasil da época que garantisse qualquer tratamento humanitário a opositores do regime. Na Alemanha, Tälmann foi preso, brutalmente torturado pelos nazistas até o final da guerra e friamente assassinado. Ainda hoje seu nome aparece nas manifestações revolucionárias e anti-fascistas na Europa, como símbolo da luta antinazista.
Todas estas histórias de heroísmo e resistência não podem ser apagadas ou denegridas por acusações superficiais, arrogantes e infundadas, seja por provocadores, aventureiros ou desinformados; muito menos ainda quando estes pretendem se utilizar dos nomes de Marx, Engels e Lenin para dar-lhes cobertura de verdades. O nosso historiador tem todo o direito de fazer suas críticas à Internacional Comunista e ao Partido Comunista da Alemanha, mas que não faça isto dizendo defender as posições de Lenin. Se quer fazer citações coerentes com sua posição política deveria buscar em Kautsky ou Trotsky a sua fonte, ali encontraria muitos argumentos para fundamentar suas opiniões, o primeiro por ter renegado do marxismo e o segundo cujos seguidores dentro e fora da URSS colaboraram intensamente com os nazistas, antes e durante a Grande Guerra Pátria. Sustentar suas posições em Lenin é impossível, tanto que em seu texto não consegue se referir a sequer uma passagem das obras do líder da revolução russa.

A posição do PCBrasileiro, em relação ao oportunismo, realmente é muito semelhante com o “centrismo” de Kautsky. Fazem críticas pontuais ao PT e ao PCdoB, mas no fundo procuram preservar a boa convivência com estes representantes, no Brasil, do “partido operário burguês”. No segundo turno das eleições de 2012, por exemplo, lançaram a seguinte palavra de ordem: “derrotar Serra nas urnas e Dilma nas ruas”. Que maravilha de dialética! Posição centrista e conciliadora com o oportunismo petista; posição vacilante fundamentada no falso argumento de votar no “menos pior”. Na verdade, manifestando o cacoete do velho cacarejo direitista das direções oportunistas, que na história do movimento comunista no Brasil, jogaram sempre para por a classe operária e as massas populares à reboque da grande burguesia, a quem falsamente denominavam de burguesia nacional, ou de seus governos, supostamente divididos em parte progressista e parte reacionária, brandindo o também surrado conto do perigo de “golpe da direita”. Posição oportunista agravada por um “apoio crítico”, ou melhor, envergonhado a um aliado estratégico sobre o qual depositam esperanças de uma “virada à esquerda”.

Mas o PCBrasileiro com a magra votação de seu candidato no primeiro turno, apenas 20 mil votos em todo Brasil, contribuiu muito pouco para a derrota de Serra nas urnas. Por outro lado, contribuiu muito menos com a derrota de Dilma nas ruas. Mas não é o número de votos que faria valer tal dialética na luta de classes, pois quanto mais se empenha um partido num processo eleitoral farsante, mais estaria servindo a legitimar como república democrática, esse flagrante arremedo de Estado Democrático de Direito vigente no país. Durante as manifestações de junho de 2013, embarcaram no discurso petista que dizia que os protestos seriam uma manobra da direita. Nas manifestações que se seguiram, nos embates de rua da juventude combatente apareceram muito menos.

Na conclusão de seu texto, o militante do PCBrasileiro afirma: “Daí pra dizer que socialdemocracia e fascismo são a mesma coisa é um pulo.” Não teremos tempo aqui para analisar, teórica e historicamente, o caráter fascista do governo Dilma. Apenas citaremos a lei anti-terrorista, criticada em nota pelo próprio PCBrasileiro, a violenta repressão às manifestações e as ameaças de lançar mão do Exército Brasileiro para reprimir os protestos, ademais de todo o cinismo em afirmar que “estes manifestantes são fascistas”, referindo-se claro, à juventude combatente. Para se concluir que a socialdemocracia brasileira tem um caráter fascista não é preciso nenhum “salto”, senhor historiador, basta “dar um pulo” nos protestos contra a Copa, nas greves operárias, especialmente nas das obras do PAC ou na luta dos camponeses pela terra e ver de perto a repressão violenta das Polícias Militares com todo apoio e suporte de sua guarda pretoriana da Força Nacional de Segurança, criada por Lula, e da Polícia Federal, ou da intervenção direta das mesmas com o suporte das Forças Armadas.

Isto o dizemos certos de que pensamentos tais como expressa nosso historiador, reduz a noção de fascismo apenas à prática intolerante, repressiva e sanguinária, o que só é uma parte de suas monstruosidades. Até mais que a repressão, o fascismo se caracteriza por ideologia eclética e manejo da política através da mentira, da prestidigitação e do maniqueísmo, da corporativização das massas e sua manipulação via alienação e idiotização seja no ufanismo reverenciado a um salvador da pátria ou ao ufanismo chauvinista de grande potência. Nada disto tem a ver com o gerenciamento de turno de Lula/Dilma/PT-Pecedobê, ou seria mera coincidência? Então o que é a propapaganda sistemática de um “Brasil país de todos”, criação de uma nova e suposta “classe média”, campanhas de empreendedorismo e os programas assistencialistas dirigidos às massas empobrecidas, cadastradas, fiscalizadas e chantageadas do Bolsa Família? Que dizer do sindicalismo cooptado por verbas polpudas e altos cargos na burocracia? E por fim, tudo isto a serviço de que e para quem, senão da perpetuação da exploração e opressão para as classes exploradoras retrógradas do país, os latifundiários e a grande burguesia, ademais do imperialismo, particularmente o capital financeiro?

O boicote a farsa eleitoral e a concepção marxista de Estado

Uma das questões centrais na cisão dos marxistas-leninistas com a socialdemocracia da II Internacional foram as posições opostas acerca da democracia burguesa e da ditadura do proletariado. Os oportunistas (social-chauvinistas e centristas) reuniram-se na Conferência de Berna, realizada em fevereiro de 1919, com o objetivo de restaurar a esgotada II Internacional. Esta conferência, essencialmente, serviu para atacar a ditadura do proletariado e encobrir a intervenção armada de 14 potências imperialistas à Rússia Socialista. Um mês depois, realizou-se o I Congresso da III Internacional, aonde Lenin combateu fortemente as teses da socialdemocracia e a concepção burguesa do Estado, defendendo assim a ditadura do proletariado.

Consequentemente, não é coincidência que o jovem militante do PCBrasileiro ao mesmo tempo em que procura resgatar à derrotada socialdemocracia, está pela exumação das suas velhas teses sobre o Estado e contra a ditadura do proletariado. Em seu texto afirma: “A teoria do ‘social-fascismo’ – que partindo da proclama que todo ‘estado é uma ditadura de classe’ não considera as diferenças concretas entre fascismo e socialdemocracia, considerando, inclusive, a socialdemocracia como até um mal maior que o fascismo”. Já descrevemos como os comunistas foram os que mais combateram o fascismo, e o fizeram de forma inseparável do combate ao oportunismo e ao revisionismo da socialdemocracia. Agora analisemos a crítica à “proclama” de que todo “Estado é uma ditadura de classe”. Esta proclamação que tanto incomoda nosso historiador nada mais é que uma tese básica e central da teoria marxista sobre o Estado. Todo Estado é uma ditadura de classe, inclusive o Estado socialista, que é a ditadura do proletariado contra a burguesia derrotada. Exatamente cumpre a ditadura do proletariado a missão histórica de abolir as classes e não o Estado, pois que por ser produto da existência de classes antagônicas e instrumento da classe dominante para exercer a opressão e assegurar seu sistema social, o Estado não pode ser abolido e sim extinguir-se. O comunismo só será o comunismo científico quando a extinção completa das classes e de todas as suas derivações estiverem realizadas e só então o Estado se extinguirá e o fará no longo processo de transição, onde por falta de bases materiais irá perdendo uma a uma suas funções. Como veremos nas citações a seguir, o que incomoda o jovem historiador, advogado do velho oportunismo da II Internacional, não são as posições da Internacional Comunista, mas a própria concepção de Marx, Engels e Lenin sobre o Estado.

Karl Marx, em 05 de março de 1852, numa carta, bastante conhecida, a Joseph Weydemeyer, assim se referiu sobre seu próprio pensamento:

“No que me concerne, eu não tenho o mérito de ter descoberto a existência das classes na sociedade contemporânea, nem o de ter descoberto a luta dessas classes entre si. Os historiadores burgueses expuseram, muito antes de mim, o desenvolvimento histórico dessa luta de classes, e os economistas burgueses a anatomia econômica das classes. O que eu fiz de novo consiste na demonstração seguinte: 1º) que a existência das classes só se prende a certas batalhas históricas relacionadas com o desenvolvimento da produção; 2º) que a luta das classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; 3º) que essa própria ditadura é apenas a transição para a supressão de todas as classes e para a formação de uma sociedade sem classes”.

Esta explanação de Marx clarifica sua tríplice contribuição, onde destaca que a luta de classes é uma luta histórica e política, isto é, que corresponde ao desenvolvimento histórico das forças produtivas e essencialmente é uma luta antagônica pelo Poder estatal que conduz, e isto é fundamental, à ditadura do proletariado como transição a sociedade sem classes (e sem Estado).

Lenin, comentando esta síntese de Marx, diz: “O fundo da doutrina de Marx sobre o Estado só foi assimilado pelos que compreenderam que a ditadura de uma classe é necessária, não só a toda sociedade dividida em classes, em geral, não só ao proletariado vitorioso sobre a burguesia, mas ainda em todo o período histórico que separa o capitalismo da ‘sociedade sem classes’, do comunismo”. (V.I. Lenin – O Estado e a Revolução). Ou seja, segundo Lenin, “o fundo da doutrina de Marx sobre o Estado” é que a ditadura de classe é uma necessidade histórica: em “toda sociedade de classes”, para o “proletariado vitorioso sobre a burguesia” e “ainda em todo o período histórico que separa o capitalismo da ‘sociedade sem classes’, do comunismo”. Assim fica claro, que a teoria de que “todo Estado é uma ditadura de classe”, não é uma invenção do “terceiro período” da IC, mas de Marx, Engels e Lenin.

Esta tese foi fundamentada por Marx e Engels a partir do desenvolvimento do materialismo histórico e dialético. Frederich Engels defende: “O Estado não é, de forma alguma, uma força imposta, do exterior, à sociedade. Não é, tampouco, ‘a realidade da Ideia moral’, ‘a imagem e a realidade da Razão’ como pretende Hegel. É um produto da sociedade numa certa fase do seu desenvolvimento. É a confissão de que essa sociedade se embaraçou numa insolúvel contradição interna, se dividiu em antagonismos inconciliáveis de que não pode desvencilhar-se. Mas, para que essas classes antagônicas, com interesses econômicos contrários, não se entre devorassem e não devorassem a sociedade numa luta estéril, sentiu-se a necessidade de uma força que se colocasse aparentemente acima da sociedade, com o fim de atenuar o conflito nos limites da ‘ordem’. Essa força, que sai da sociedade, ficando, porém, por cima dela e dela se afastando cada vez mais, é o Estado”. (F. Engels – A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado). 

Vejamos a diferença entre esta citação e a afirmação do estudante do PCBrasileiro que diz: “A IC, influenciada por uma ‘versão’ positivista do marxismo, argumentava que todo estado é uma ditadura de classe e, na sociedade capitalista, todo estado é uma ditadura da burguesia, logo; não fazia diferença se tivéssemos um governo fascista ou socialdemocrata”. O sublinhado foi colocado por nós para destacar uma passagem “surpreendente” do texto. Ora, afirmar que “todo estado é uma ditadura de classe” e que “na sociedade capitalista, todo estado é uma ditadura da burguesia” seria uma “versão positivista” do marxismo? Vejamos o que diz Lenin em sua obra o Estado e a Revolução:

“Como o Estado nasceu da necessidade de refrear os antagonismos de classes, no próprio conflito dessas classes, resulta, em princípio, que o Estado é sempre o Estado da classe mais poderosa, da classe economicamente dominante que, também graças a ele, se torna a classe politicamente dominante e adquire, assim, novos meios de oprimir e explorar a classe dominada.”

A afirmação acima, caro historiador, não é positivismo, é marxismo. Você é quem parte de uma visão pós-moderna e revisionista do Estado burguês como uma “abstração”, uma “ontologia”. Protegido por seu reformismo não conhece a realidade “ôntica”, concreta, das baionetas e da opressão de classe. Numa sociedade capitalista, onde a burguesia é a classe economicamente dominante, a partir do Poder do Estado torna-se também a classe politicamente dominante.

O estudante do PCBrasileiro, em seu texto, assim prossegue o arrazoado revisionista: “O sistema político existente em uma formação social concreta não é, necessariamente, funcional à ordem do capital. (…) O fato de se afirmar que o ‘Estado é burguês’, não diz nada, por exemplo, sobre a forma do sistema de governo existente: se existe possibilidades institucionais de participação das massas populares como forma de barrar alguns ataques do capital ou até usar a institucionalidade como forma de iniciar uma ofensiva contra o capital; qual o nível de ‘liberdades democráticas’ existentes, como são usados os aparelhos coercitivos, etc.” Para completar ele argumenta: “Mas se compararmos o Brasil com o Chile ou a Coréia do Sul veremos que o sistema político do Brasil é bem mais ‘democrático’ que o desses países e que a tática dos comunistas, lhe dando com estruturas de poder ‘diferentes’, só podem ser diferente, adequada às condições concretas”. (Os sublinhados são nossos) Antes de falar das “táticas”, escutemos o que diz o marxismo sobre a contradição entre sistema de Estado e sistema de governo.


Numa palestra de Lenin, na Universidade Sverdlov em 1919, o grande marxista disse: “Todo Estado em que existe a propriedade privada da terra e dos meios de produção, em que domina o capital, por mais democrático que for, um Estado capitalista será sempre uma máquina nas mãos dos capitalistas para a sujeição da classe operária e dos camponeses pobres”, e assim conclui: “E o sufrágio universal, a Assembleia Constituinte ou o Parlamento são meramente formas, espécies de obrigação de pagamento que não mudam a essência do assunto”. (V.I. Lenin – O Estado) – (sublinhado nosso)

Vemos que Lenin fez uma clara distinção entre dois aspectos que conformam a realidade da dominação da burguesia sobre as classes exploradas. Por uma parte, a essência da questão é que o Estado é uma ditadura da burguesia que corresponde com a estrutura econômica capitalista, mas também, que esta ditadura toma variadas formas que podem se resumir em duas fundamentais: o fascismo aberto e o sistema demo-liberal, que não mudam a essência da dominação. Em síntese, o sistema de Estado, é o principal e essencial; o sistema de governo serve e dá forma ao primeiro. Identificar a diferença entre as formas de governo do regime militar fascista e do regime civil, que se seguiu no Brasil, não é uma tarefa difícil, pois estas são evidentes. O desafio para a ideologia científica do proletariado é identificar e revelar às massas a identidade do conteúdo nas duas formas de governo distintas, revelar o caráter de classes, o sistema de Estado que se manteve inalterado. Isto é, após a chamada “redemocratização”, o sistema de Estado brasileiro se manteve com a grande burguesia e o latifúndio, serviçais do imperialismo, principalmente ianque, como classes dominantes; e o proletariado, o campesinato, a pequena-burguesia e a burguesia nacional (média burguesia) como classes dominadas. Sobre a relação entre forma essência, Marx disse: “Toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação (a aparência) e a essência das coisas coincidissem imediatamente” (K. Marx – O Capital).

Vejamos a precisão com que o Partido Comunista do Peru coloca esta questão: “Por sua vez, destaca a diferença entre o sistema de Estado e o sistema de governo, que são partes de uma unidade; sendo o primeiro o lugar que ocupam as classes dentro do Estado e o segundo a forma em que se organiza o Poder, como o ensina o Presidente Mao, destacando que o principal é definir o caráter de classe de um Estado já que as formas de governo que se introduza podem ser civil ou militar, com eleições ou não, demoliberal ou fascista, e sempre representarão a ditadura das classes reacionárias. Ao não se ver assim o velho Estado se cai no erro de identificar ditadura com regime militar e pensar que um governo civil não é ditadura, colocando-se a reboque de uma das frações da grande burguesia sob o conto de ‘defender a democracia’ ou ‘tomar cuidados com os golpes militares’, posições que no lugar de destruir o velho Estado o sustentam e o defendem.” (PCP – Linha Política Geral).

Em decorrência de uma visão incorreta sobre o Estado burguês, sobre sua essência e suas formas, decorrem inúmeras táticas oportunistas, dentre elas o reformismo e o eleitoralismo. Voltemos ao texto objeto de nossa crítica: “A luta de classe, às resistências, conquistas e perdas da classe trabalhadora perpassam todos os aparelhos de poder. Configuram e reconfiguram o Estado, o sistema político, a correlação de forças.” Desculpem-nos por citar novamente a passagem seguinte: “(…) usar a institucionalidade como forma de iniciar uma ofensiva contra o capital (…)”. Eis dois exemplos batidos da velha tática oportunista: “reconfigurar a correlação de forças no Estado” e “usar a institucionalidade para iniciar uma ofensiva contra o capital”. Insistimos, o Estado é uma máquina gestada, construída e desenvolvida segundo a natureza de uma classe e moldada à sua imagem e semelhança, que no caso das classes dominantes exploradoras, são para subjugar e oprimir as classes que explora, exercendo sua ditadura. Então, qual é a correlação de forças que existe dentro do Estado? Acaso ele está falando das diversas frações do partido único das classes dominantes que brigam pelo controle do Estado, mas se unem na sua defesa? O objetivo da luta de classe, das resistências, conquistas e perdas da classe trabalhadora devem estar em função de “perpassar” e aperfeiçoar o garrote do seu inimigo ou devem estar em função de lutar de forma antagônica contra ele para destruí-lo? Aqui está o abismo existente entre as táticas oportunistas e as táticas revolucionárias. Ou como disse Lenin, em o Estado e a Revolução:

“De um lado, os ideólogos burgueses e, sobretudo, os da pequena burguesia, obrigados, sob a pressão de fatos históricos incontestáveis, a reconhecer que o Estado não existe senão onde existem as contradições e a luta de classes, ‘corrigem’ Marx de maneira a fazê-lo dizer que o Estado é o órgão da conciliação das classes. Para Marx, o Estado não poderia surgir nem subsistir se a conciliação das classes fosse possível.”

Por fim a questão da farsa eleitoral. Pontuaremos apenas algumas questões, pois já temos um documento bastante detalhado sobre o tema: Eleição Não! Revolução Sim! Roteiro para a campanha de boicote à farsa das eleições, que pode ser encontrado na internet. Neste documento, publicado em 2010, afirmamos: “A participação ou não nas eleições burguesas não é uma questão de princípio para os comunistas. Esta deve ser tratada como um problema tático que deve ser enfocado segundo o desenvolvimento da luta de classes historicamente e na atualidade.”

Procurando fazer uma análise do desenvolvimento da tática dos comunistas, de acordo com as modificações históricas, dissemos:

“Breve histórico das formas de luta do proletariado

A história da luta de classes do proletariado e a atuação dos comunistas nela, passou por várias etapas. Nestas etapas se utilizou diferentes formas de luta de acordo com as circunstâncias. No caso das eleições e seu emprego na etapa de nascimento e formação do movimento comunista na Europa, permitiram efetivamente a ampla difusão das ideias de Marx e Engels. Foi tanto o crescimento da propaganda de ditas ideias no seio do movimento operário e revolucionário entre 1848 e 1895, que Marx e Engels foram advertindo, em vários momentos, alguns perigos que se apresentaram no movimento prático. Entre eles o de, ao utilizar as eleições no afã de alcançar uma maior influência entre as massas, terminar por adaptar ou rebaixar o conteúdo da organização revolucionária à legalidade.

Inclusive advertiram que as eleições só determinavam quem iria explorar e oprimir o povo por um determinado período de tempo, e de que era perigoso semear ilusões a respeito delas. A fins do século XIX o problema surge justamente que ao favorecer a amplitude da difusão do socialismo, como dizia Lenin, tendeu-se a diluir o conteúdo revolucionário do marxismo e isto abriu espaço à influência de correntes alheias as da classe. É por isso que o revolucionário russo denunciava já nesse momento os revisionistas (como Bernstein) por querer converter Marx em um “medíocre liberal”.

Com Lenin e a Revolução Russa, a participação nas eleições se conformou apenas em um apêndice para a luta. Há muito que se esquece o que ele indicara, de que em períodos de ascenso revolucionário das massas, as eleições, e as instituições derivadas delas, são mais um obstáculo à luta. Disto se depreende a tática do boicote formulada por ele, a dizer, impedir pela força a criação de ditas instituições, que por sua natureza de classe são essencialmente contrarrevolucionárias. Esquece-se também de mencionar que Lenin, já antes de 1914, validava a luta de guerrilhas e inclusive defendeu, como aplicável para a Rússia, aquilo que sentenciara Marx sobre a necessidade de que: “Na Alemanha tudo dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária com uma espécie de segunda edição da guerra camponesa”. Não se pode negar que tanto Lenin como Marx e Engels não rechaçaram por inteiro nenhuma forma de luta, sempre e quando estivesse sujeita a uma análise materialista histórica das condições em que se deviam empregar. Igualmente sabiam que as eleições tinham um limite e que sua importância era relativa no marco da luta revolucionária de classes.

Marx por exemplo, em seu célebre apelo da Internacional de 09 de setembro de 1870, punha em guarda o proletariado francês contra uma insurreição prematura, mas quando, apesar de tudo, ela se produziu (1871), saudou com entusiasmo a iniciativa revolucionária das massas que “tomam o céu de assalto” (carta de Marx a Kugelmann).

Com a primeira guerra mundial o centro da revolução se trasladava à Rússia, rompendo-se em outubro de 1917 o elo mais débil da cadeia de dominação imperialista. Este transcendental acontecimento dá inicio, por uma parte, a uma nova era na história da humanidade, a da revolução proletária mundial, assim como por outra implica em um salto significativo no desenvolvimento do movimento comunista internacional. Deste fato se depreende que as eleições perderam sua vigência como tática revolucionária. Mas insistimos no fato de que para Marx e Lenin as eleições burguesas e a participação nelas jamais tiveram nenhum caráter estratégico, e eles sempre alertaram sobre os perigos de seu emprego.

A Revolução de outubro de 1917 terminou de varrer com a tática eleitoral, ao mesmo tempo em que colocou em discussão o papel estratégico da violência revolucionária para a conquista do poder e com ele, o estabelecimento da ditadura do proletariado. Na história universal este fato não é uma trivialidade e dele justamente se depreende a caducidade das eleições e do cretinismo parlamentar, questões que só fizeram se comprovar amplamente com a Guerra Popular e o triunfo da Revolução de Nova Democracia na China. Mas não somente ali, ao longo de grande parte do século XX e no transcurso do presente, em nenhum país as eleições, os parlamentos (constituintes ou não) e as distintas instituições burguesas criadas para todos esses efeitos, lograram o que as lutas armadas alcançaram na resistência ao nazi-fascismo na Europa. O mesmo com respeito às lutas armadas contra a ofensiva do imperialismo japonês na Ásia, ou também a luta anticolonial na África. A luta armada, seja na Coréia, no Vietnã ou na Argélia, foi determinante para a libertação destes povos. Na América Latina seus países só alcançaram sua emancipação do domínio colonial através da violência; tampouco se pode negar o impacto causado pela Revolução Cubana e mais ainda no presente, a Guerra Popular no Peru. Da mesma forma se verifica nos processos revolucionários da Índia, Turquia e Filipinas, bem como nas resistências armadas contra a ocupação imperialista no Iraque, Afeganistão, Irã e na heróica Palestina.

Todos estes fatos confirmam o papel estratégico da violência revolucionária e a invalidez da tática eleitoral. Grande parte destas heroicas lutas foram e estão sendo dirigidas por comunistas.”

Finalizando seu texto, o jovem militante do PCBrasileiro afirma: “Para concluir, cabe dizer o seguinte: o boicote eleitoral não é um princípio, mas um expediente tático. Deve ser usado de acordo com a conjuntura concreta.” Isto é fácil dizer, difícil é encontrar na história do PCBrasileiro algum exemplo de utilização, mesmo que tática, do boicote eleitoral. O eleitoralismo, o pacifismo e o reformismo constituem a base da estratégia desta agremiação. O PCBrasileiro foi fundado em 1960, a partir da usurpação da direção do PCB (Partido Comunista do Brasil) pela linha revisionista kruschovista de Luiz Carlos Prestes. O PCBrasileiro adota este nome para se adequar a legislação eleitoral vigente na época, que não permitia a existência de um partido que fosse a seção de uma organização internacional. Além disto, a direção revisionista do PCBrasileiro modificou os estatutos suprimindo a denominação “marxista-leninista” e retirando de seu programa a defesa da ditadura do proletariado. Tudo isto para se adequar a legislação burguesa e obter o que passou a ser sua maior bandeira imediata, a legalidade e não a tática revolucionária. O PCBrasileiro durante o regime militar não participou da resistência armada contra o regime militar pró-imperialismo ianque. Por isto, perdeu praticamente toda a sua base que de diferentes formas, com erros e acertos, enfrentaram o regime instituído. Esta resistência pacífica ao regime militar, no entanto, não assegurou a proteção de seus dirigentes e é claro que em seu direitismo sem limites sempre culpou por isto os revolucionários em armas. Pois para o imperialismo e para os fascistas, particularmente para seus “serviços de inteligência” mais refinados, que estudam a trajetória dos militantes comunistas quadro por quadro, sabem por experiência que determinados militantes só seguem uma linha reformista por adotarem uma disciplina cega, mas no momento de qualquer viragem à esquerda da linha estarão prontos para a revolução. E foi o que se passou com quadros comunistas como David Capristano, que apesar de estarem numa linha política incorreta foram presos e brutalmente torturados e assassinados pelos facínoras das forças armadas brasieliras.

Na década de 1980, Luiz Carlos Prestes rompe com o PCBrasileiro e de forma honrada faz a autocrítica de sua direção, assumindo a responsabilidade pelos desvios de direita na história do Partido. No entanto, não leva esta autocrítica à fundo, ao ponto de reconhecer os desvios ideológicos, o revisionismo, como causas dos desvios políticos, não consegue, assim, tirar as lições mais acertadas das experiências das revoluções proletárias e não alcançou fazer uma correta análise de classes de nossa sociedade. Morreu acreditando que a URSS ainda era um país socialista e defendendo a Perestroika de Gorbatchov. Por fim, uma grande parte do PCBrasileiro, chefiados pelo reacionário Roberto Freire, fundaram o PPS e aderiram abertamente ao discurso neo-liberal do PSDB. Os que seguiram no PCBrasileiro, não aprodundaram a autocrítica de Prestes, ao contrário, defendem o direitismo e o reformismo das práticas das ilusões constitucionais de 1946/47 e dos anos de 1960/70 como acertadas. A atual direção do PCBrasileiro, após a eleição de Lula em 2002, se esforçou muito para a fusão com o PCdoB, mas pela negativa deste, o projeto não foi adiante.

A estratégia eleitoral e não a tática eleitoral, esta é a política do PCBrasileiro. Foi baseada nesta estratégia que PT e PCdoB ascenderam ao aparato central do velho Estado. Estes dois “partidos operários burgueses”, utilizando a expressão de Lenin, na década de 1980 e 1990, tinham o mesmo discurso hoje repetido por PCBrasileiro, PSTU e PSOL, de que as eleições serviriam apenas como um acúmulo para um processo revolucionário. É a famosa “acumulação fria” dos construtores de socialismo no papel e calejados reformistas de fato. O parlamentarismo petista deu nisto aí que estamos vendo hoje, comparar isto com a tática bolchevique de participação no parlamento russo antes de 1917, isto sim é uma “bizarrice”. Pensemos nesta comparação feita por Lenin:

“Há parlamentarismo e parlamentarismo. Uns utilizam a arena parlamentar para agradar aos seus governos, ou, no melhor dos casos, para lavar as mãos como a fração de Tchkheídze. Os outros utilizam o parlamentarismo para se manterem revolucionários até ao fim, para cumprirem o seu dever de socialistas e de internacionalistas mesmo nas mais difíceis circunstâncias. A atividade parlamentar de uns leva-os às cadeiras governamentais, a atividade parlamentar dos outros leva-os à prisão, ao desterro, aos trabalhos forçados. Uns servem a burguesia, os outros servem o proletariado. Uns são sociais-imperialistas. Os outros são marxistas revolucionários.” (V. I. Lenin, O Socialismo e a guerra)

O parlamentarismo do PT, no máximo, levou alguns de seus deputados para o presídio da Papuda, não por serem internacionalistas, mas por cometerem os mesmos crimes de varejo, o peculato e a corrupção, das velhas oligarquias. Mas a extensa camada de dirigentes e burocratas petistas não têm a menor dúvida de que, para eles, tudo isto valeu a pena, afinal são muitos os “lugarzinhos rendosos”.

Conclusão

O presente texto é muito mais do que uma resposta. É um chamado. Sabemos que muitos militantes do PCBrasileiro, do PSTU e do PSOL, não concordam com suas direções nem com as posições criticadas acima. A estes fazemos um apelo: estudem a teoria revolucionária, o marxismo-leninismo-maoísmo, desçam diretamente nas fontes, não se detenham nas interpretações e deformações de nossa ideologia científica. Conclamamos, também às novas organizações surgidas a partir de junho a conhecer a teoria comunista e sua potência revolucionária. Convocamos as companheiras e companheiros que se identificam com o anarquismo a lerem as obras de Marx, Engels, Lenin, Stalin, Presidente Mao Tsetung e Presidente Gonzalo; aí está a teoria comunista e não nos discursos e práticas dos partidos oportunistas que só fazem desmoralizar a nossa história.

Os símbolos do comunismo, a foice e o martelo, a cada dia ressurgem estampados em escudos e alçados em estandartes dos manifestantes que, com seu rumor contagiante e sua fúria inconciliável, desafiam nas ruas o velho Estado burguês-latifundiário, opressor e genocida. É na linha de frente da juventude combatente, entre os professores que se insurgem contra a pelegada das centrais sindicais, entre os intelectuais honestos, na classe operária rebelada nas grandes obras, entre os camponeses pobres na luta radical pela revolução agrária, nas massas mais profundas do proletariado enfim, como bem dizia Lenin em seu “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, é aí onde estão os verdadeiros comunistas. Afinal, como disse o Presidente Mao: “Os comunistas são os heroicos combatentes.” Será, seguramente, em meio a estas batalhas, com idas e vindas, voltas e reviravoltas que o Partido Comunista do Brasil, P.C.B., fundado em 25 de março de 1922, com o nome de Partido Comunista Seção Brasileira da Internacional Comunista, finalmente, será reconstituído. Estamos vivendo a véspera de grandes enfrentamentos, sacudidas de uma luta prolongada que levará nosso povo a libertação. “O caminho é ziguezagueante, mas as perspectivas são brilhantes.”

Saudações a todos que lutam, mesmo com entendimentos diversos, pela derrubada violenta do Estado burguês e de toda a ordem social existente!

Abaixo o revisionismo e todo o oportunismo!
Viva o marxismo-leninismo-maoismo!
Viva a reconstituição do Partido Comunista do Brasil – P.C.B.!
Morte aos fascistas!
Eleição não! Revolução sim!
Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo – Núcleo Recife

Nacional

ENGROSSA A REBELIÃO CONTRA O AUMENTO DAS PASSAGENS!

por MEPR
Publicado em julho 6, 2013
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Seguindo o exemplo de Porto Alegre e Natal, e principalmente Goiânia, a juventude e os trabalhadores no país inteiro se levantam contra o aumento das passagens. Ontem, de fato, ocorreu o maior dia nacional de luta contra o aumento dos últimos anos: aos Estados já mobilizados se somaram ainda São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Apesar da truculência da polícia, em praticamente todos os lugares onde houve protestos, os manifestantes responderam com combatividade às provocações e não se deixaram intimidar.

Apesar da ação dos monopólios dos meios de comunicação visando desqualificar os protestos, como se a população não os apoiasse, o fato é que os trabalhadores apoiam ativamente à luta, a qual se somam cada vez mais. Significativo é o depoimento do porteiro Jorge Rossi de Oliveira, que pega dois ônibus para ir pro trabalho, ao jornal “Zero Hora”:

— Alguém tem de reclamar nessa vida. Tá certa a molecada.

A luta seguirá! A rebelião se justifica!

Nacional

2013: OPORTUNISTAS DE PSOL, PSTU E SEUS SATÉLITES TRAEM O FÓRUM DE LUTAS CONTRA O AUMENTO DAS PASSAGENS DO RIO

por MEPR
Publicado em junho 26, 2013
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Não foi apenas o cerco policial que tiveram que enfrentar os manifestantes na tarde/noite de domingo. Foi também a divisão efetuada pelos eleitoreiros e puxa-sacos da PM de PSOL, PSTU e seus satélites como o PCR, PCB e outros. Embora a histórica plenária do dia 25/06, que reuniu cerca de 3 mil pessoas, tenha deliberado que o ato central do Fórum no dia da final da Copa das Confederações seria realizado as 15:00hs, derrotando a proposta medrosa desses oportunistas de que fosse às 9:00hs, atuaram todo o tempo desmobilizando a combativa manifestação prevista para o horário do jogo. Após o ato que realizaram pela manhã, simplesmente dispersaram seus militantes, desmobilizando assim a manifestação do Fórum.

Não foi somente ontem, aliás, que isso ocorreu. A mesma plenária do dia 25 também havia deliberado que a manifestação de quinta-feira, 27/06, no centro da cidade, teria como trajeto o percurso Candelária-sede da FETRANSPOR (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), que se localiza próxima a ALERJ. Apesar disso, para surpresa de muitos, os carros de som dirigidos pelos eleitoreiros pararam na metade do caminho, na praça Cinelândia. Enquanto isso, milhares de manifestantes seguiram com a passeata, enfrentando com coragem o imenso cerco policial montado pelo fascista Sérgio Cabral. Nós do MEPR, que defendemos na plenária que a manifestação fosse até às proximidades da favela da Maré para repudiar a recente chacina perpetrada pela PM, seguimos até o fim o percurso deliberado pelo Fórum.

Teoria

Pedagogia – Antón Semiónovitch Makarenko

por MEPR
Publicado em julho 4, 2006
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Antón Semiónovitch Makarenko - Pedagogo Soviético

“A Pedagogia, especialmente a teoria da educação, é, sobretudo, uma ciência com objetivos práticos. Não podemos simplesmente educar um homem, não temos o direito de realizar um trabalho educativo, quando não temos frente aos olhos um objetivo político determinado. Um trabalho educativo, que não persegue uma meta detalhada, clara e conhecida em todos os seus aspectos, é um trabalho educativo apolítico.” (O grifo é nosso)

Makarenko nasceu no dia 13 de março de 1888, na cidade de Belopólie (Ucrânia). Anton foi o segundo filho de uma família típica de operários da região; seu pai, Semion Gregorievitch Makarenko, trabalhava como pintor nas oficinas do sistema ferroviário nacional. Em 1895 (com 7 anos), foi matriculado na escola primária, cujo curso tinha duração de dois anos. Passou muitas dificuldades durante sua infância.

Aos 12 anos, Makarenko muda-se com toda sua família para Kremenchug, na vila de Kriúkov (perto do rio Dnieper). Nela viveu sua juventude e foi ali que iniciou sua atividade pedagógica. Estudou na Escola Urbana de Kremenchug durante seis anos.

Em 1904, termina o ginasial com nota máxima em todas as matérias e decide ser professor. Em agosto do mesmo ano, ingressou num curso que formava em apenas onze meses jovens profissionais do ensino para o magistério primário. Na primavera de 1905, termina com grande animação, as aulas pedagógicas e recebe seu primeiro diploma como educador.

O ano de 1905 marcou profundamente a história do povo russo. Em janeiro ocorreu o conhecido “Domingo Sangrento”, que abalaria as estruturas do poder tzarista. O massacre de São Petesburgo repercutiria em toda a Ucrânia. Mais de 30 mil pessoas tomaram as ruas de Kiev, reivindicando melhores condições de vida tanto para os trabalhadores da indústria como para os camponeses e entraram em confronto com as tropas tzaristas, que metralharam os manifestantes, assassinando mais de 500 pessoas.

Em Kriúkov, Anton e um grupo de professores progressistas interessados em obter maiores informações sobre o desenvolvimento teórico e prático da revolução, assinaram em 27 de outubro de 1905, o primeiro jornal legal bolchevique de circulação nacional, o Nóvaia Jizni (Vida Nova), fundado por Lenin (redator-chefe) e Gorki.

Anton começou a sua juventude trabalhando. No dia 1º de setembro de 1905, estréia como professor de língua russa na Escola Primária Ferroviária Kriúkov. E, em 1911 assumiu a direção de uma escola secundária na estação Dolinskáia, onde foi nomeado inspetor de instrução pública. Mais consciente da educação que queria aplicar ampliou o espaço cultural, mudou o currículo com a ajuda de pais e professores e estabeleceu o ensino da língua ucraniana, em contraposição às ordens do Tzar, que estabelecia o ensino da língua russa na Ucrânia. Em agosto de 1914 se demite de suas funções na escola secundária de Dolinskáia, com o intuito de se especializar nas disciplinas do ensino superior. Terminara os 9 anos de sua vida dedicados à docência em educação infantil.

Conclui o Instituto Pedagógico de Poltava em 1917 (ano da revolução) e passa a administrar escolas em Kriúkov e Poltava de 1918 a 1920.

Sua mais marcante experiência deu-se de 1920 a 1928, na direção da Colônia Gorki, instituição rural que atendia crianças e jovens órfãos que haviam vivido na marginalidade. Lá ele pôs em prática um ensino que privilegiava a vida no coletivo, a participação da criança na organização e gestão da colônia, o trabalho coletivo e a disciplina consciente. A mais rica experiência pedagógica de Makarenko pode ser conhecida no livro “Poema Pedagógico”, onde ele relata as dificuldades encontradas para reeducar as crianças e jovens abandonados pelo antigo regime que se tornaram orgulhosamente “colonistas” e, posteriormente, cidadãos soviéticos.

Em fins de 1922, Makarenko teve seu primeiro encontro com Galina Stakhievna Salkó, importante dirigente do Comissariado do Povo para Instrução Pública da Ucrânia, que se interessou profundamente pela sua experiência e aconselhou-o a elaborar uma monografia teórica. Ela o ajudou em especial com os trâmites legais para que pudesse viajar a Moscou e estudar no Instituto Central de Organizadores da Instrução Pública. Essa relação de companheirismo e entusiasmo com o trabalho transformou-se em amor, e os dois se casaram em 1927, logo após uma visita que Galina fez à Colônia Gorki.

Em 3 de setembro de 1928, Makarenko deixa a colônia Gorki e assume a direção da comuna de trabalho Félix Djerzinski, dotada de uma escola primária com um ciclo de 10 graus, seguindo as normas docentes determinadas pelo Comissariado de Moscou. A comuna abrigava crianças abandonadas e filhos de famílias em crise. Foi a primeira escola pública em regime de autogestão econômica, alcançada em 1930.

Os últimos anos da vida de Makarenko foram dedicados à sistematização de sua experiência, seja através da literatura ou através de Conferências e Seminários que deu por toda a União Soviética. Publicou novelas, peças de teatro e livros sobre educação, sendo “Poema Pedagógico” o mais importante. Em 1935, é transferido para Kiev, a fim de trabalhar como assistente da chefia na Direção das Colônias de Trabalho do Comissariado do Povo do Interior da Ucrânia. Em 1937, se transfere, juntamente com sua esposa (Galina) e seu filho adotivo (Liodka) para Moscou e vai dedicar-se inteiramente à atividade literária.

O ritmo intenso de trabalho abalou sua frágil saúde e no inverno de 1938, já estava sob estrito controle médico. No dia 31 de janeiro de 1939, Makarenko recebeu uma das mais importantes condecorações do governo soviético: a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho, “pelos seus destacados êxitos e realizações em prol da literatura e da pedagogia soviéticas”. Em fevereiro de 1939, solicita seu ingresso no Partido Comunista da União Soviética, petição que foi imediatamente concedida. O pedido de Makarenko foi incluído na ordem do dia em 4 de abril de 1939, para ser oficializada na reunião que o Partido realizaria na União dos Escritores Soviéticos, mas não se efetivou. Morreu de ataque cardíaco durante uma viagem de trem em 1º de abril de 1939, ano que ficaria marcado pelo início da Segunda Guerra Mundial.

Antón Semiónovitch Makarenko dedicou 30 anos de sua vida à atividade pedagógica; nesse tempo, mais de três mil crianças passaram sob seu atento olhar, e dedicou os últimos 15 anos de sua vida à aplicação prática e ao aperfeiçoamento do sistema de educação soviético, tendo criado, ainda que com enormes dificuldades, um belo coletivo de educandos e educadores, que fez jus a todos os seus preceitos e às necessidades da educação do “novo homem” na União Soviética.

Makarenko se engajou na luta pelo socialismo como um educador marxista, que lutava para educar os filhos do povo soviético como homens a serviço de sua pátria e do socialismo; denunciou em suas obras, impiedosamente, o idealismo e a metafísica na Pedagogia. Ao elaborar as leis do processo pedagógico, se baseou nos mais importantes teóricos da revolução, principalmente Lenin, que desenvolviam as leis marxistas do desenvolvimento da sociedade, da natureza social do homem e a nova moral socialista. Foi esta tarefa que Makarenko se propôs a cumprir e cumpriu. Sua Pedagogia se baseia na utilização do enorme potencial do coletivo e se apóia na combinação contínua e coerentemente mantida da instrução escolar com o trabalho coletivo e se sustenta a partir de uma nova concepção de mundo, concepção do proletariado, iluminada pelo marxismo.

Teses

Tese – Derrubemos os Muros da Universidade

por MEPR
Publicado em abril 1, 2005
12 minutos de leitura

“Ousemos gerar o caos nas velhas idéias, e façamos da universidade um grande laboratório da ciência a serviço do povo e da Revolução.” – MEPR

“Quem explica os problemas políticos, econômicos e sociais da sociedade contemporânea? Quem comenta a moderna literatura política revolucionária, reacionária ou reformista? Nossos catedráticos parecem estar vivendo à margem, sem contato, sem comunicação com a realidade, parecem viver à margem dos novos tempos. Parecem ignorar os pensadores, teóricos e críticos desses novos tempos. Talvez alguns se achem mais ou menos bem inteirados, mais ou menos bem informados. Mas, nesse caso a pesquisa não lhes suscita inquietação. Neste caso, a atualidade mundial deixa-os indiferentes. Neste caso a juventude tem sempre o direito de acusá-los de insensibilidade e de impermeabilidade”.(…)
“Os catedráticos preocupam-se única e exclusivamente pela bibliografia de seu curso. Seu vôo mental, geralmente, não vai além do âmbito rotineiro de sua cátedra. Todos são conservadores definidos ou conservadores potenciais, reacionários latentes, que em política doméstica suspiram impotentes e nostalgicamente para a velha ordem das coisas. Medíocres mentalidades de advogados, gerados nos alvéolos ideológicos do civilismo; temperamentos burocráticos, sem asas e sem vértebras, organicamente pequenos, acomodatícios covardes, índole de classe média, vulgares, antiquados, limitados e estéreis, sem grandes ideais, forjados para o horizonte burguês de um representante de uma corte suprema, de um diplomata ou de um alto cargo consultivo numa rendosa empresa capitalista. Esses intelectuais sem uma verdadeira filiação ideológica, amantes de tendências aristocráticas de doutrinas de elite preocupados com reformas minúsculas e com diminutos ideais burocráticos têm o estigma da mediocridade. Ao lado desta gente negativa, com fobia de povo, com fobia de multidão, maníaca de estetismo e de decadentismo, confinada no estudo escrito das idéias pretéritas, a juventude sente-se órfã de mestres e órfã de idéias. ” – (“Crise de mestres, crise de idéias”, publicado em Claridad, 1919; Jose Carlos Mariategui, revolucionário peruano)

A universidade em nosso país tem padecido de uma grande enfermidade: a falta de entusiasmo, de ousadia, e um idoso conformismo. A maioria dos estudantes passa nas faculdades apenas para assistir às aulas e entregar trabalhos. Os currículos não entusiasmam, não provocam debates nem instigam novas perguntas e críticas. Os ansiosos calouros, logo nos primeiros dias têm grandes decepções quando assistem às aulas e as comparam com todas promessas dos bonitos manuais de candidatos. Caem por terra todas vitalidades juvenis em aprender coisas novas.

Acreditávamos que ao entrar na universidade daríamos vazão aos grandes questionamentos da humanidade, teríamos novos instrumentos para compreender palpitantes questões da atualidade. Entender os conflitos mundiais, nos posicionarmos a partir da ciência sobre a clonagem, religiões, desemprego, economia, energia nuclear, direitos internacionais e tantas outras questões que permeiam o mundo hoje; mas, ao contrário, nos apresentam um currículo insosso, sem vida, preso à institucionalidade de contratos com empresas ou à vaidade de um ou outro respeitável professor doutor de tal ou qual especialidade, que em nada interessa e de nada serve aos grandes problemas da sociedade e de nosso país. Raros são o contrário.

Verifica-se isso logo que se conversa com algum estudante de 3º ou 4º período. Muitos têm duvida se pretendem continuar o curso e quando pretendem, desejam logo terminar as disciplinas e correr para a formatura. Outros pulam de curso em curso na esperança de encontrar algum estímulo para continuar a estudar.

Mas a crise não é somente de mestres e idéias e sim institucional, na medida em que nossas universidades estão se transformando em filiais das multinacionais, sendo literalmente privatizadas. Cada vez somos obrigados a pagar mais taxas nas universidades públicas, como forma dos governantes aliviarem o caixa do Estado com a educação. Enquanto nas universidades particulares acontece o roubo descarado por parte destes políticos empresários que, com as abusivas mensalidades, transformaram a educação em um grande negócio onde lucram milhões.

Autonomia e Democracia versus Mercantilização da educação

A crise geral do capitalismo, estalada a partir da década de 80, provoca a reestruração em escala mundial do modelo de acumulação capitalista que vigorava desde a Segunda Guerra. Essa nova reestruturação, batizada de “neoliberalismo”, retira grande parte da iniciativa e do papel econômico do Estado, transformando serviços públicos, como educação e saúde, em mercadorias lucrativas, incluídas no circuito do mercado. A mercantilização da educação implica em introduzir esse serviço no sistema que vigora no mercado, transformando as escolas técnicas e as universidades principalmente, em empresas capitalistas, com todo seu sistema de concorrência, de avaliação de custos, de rentabilidade, de definição de prioridades. Os objetivos e resultados sociais da educação são relegados a último plano, atendendo à principalidade dos objetivos e resultados econômicos.

Nestas condições de controle do saber pelos monopólios capitalistas, questões fundamentais como democracia e autonomia não passam de discursos, ficando longe de serem praticados. A começar pelas decisões políticas e acadêmicas onde a maioria dos estudantes, professores e funcionários não participa em nada das decisões. Os conselhos, departamentos, colegiados, congregações são controlados por puxa-sacos de diretorias e reitorias escolhidos pelo sistema de lista tríplice. Vejam só, sabemos que o processo eleitoral de nosso país é uma farsa, mas pelo menos eles disfarçam mais, quando quem ocupa o cargo disputado é quem teve o maior número de votos. No caso das eleições para reitoria e diretorias nas escolas e universidades públicas federais chega a ser ridícula a demagogia quando se fala em democracia e autonomia, pois quem escolhe a direção da universidade é o presidente da república e o ministro da educação. E depois ainda dizem ser exagero quando se afirma que a universidade ainda vive no regime do império colonial.

Quanto ao currículo dos cursos da universidade também não opinamos em nada. Quem decide tudo isto são os órgãos burocráticos que dominam a universidade. Quando se questiona o currículo e se fala em reforma, é só para se adequar às “novas necessidades de competição no mercado de trabalho”. Nunca podemos opinar, nem mesmo para avaliar o curso, o currículo e os professores. Isso é função do MEC, que através de métodos avaliativos como o “provão” (sob a falsa alegação de que este serve para melhorar a qualidade de ensino), apenas verifica se os planos dos grandes monopólios estão sendo aplicados e dando resultados. O mesmo ocorre com as pesquisas também direcionadas de acordo com os interesses dos monopólios e são raras as vezes que conseguimos desenvolvê-las desvinculadas deste tipo de interesse. Quando conseguimos, não há financiamento para aplicação dos projetos que visam melhorar a vida do povo, somente os que dão muito lucro recebem recursos. Todo o espaço de grandes debates e grandes discussões, das inovações científicas ou da busca de novas técnicas ou teorias é preenchido pelas gélidas disciplinas para melhor nos formar para o mercado de trabalho.

A universidade transformou-se numa ilha fora da realidade popular.

Desde que o imperialismo norte-americano lançou sua grotesca propaganda de “fim da história”, acentuou-se o direcionamento das aulas que são resumidas a específicos debates de pequenas quimeras do conhecimento. Afasta-se gradualmente dos grandes debates de nosso tempo. Os laboratórios produzem pesquisas desligadas do interesse social, dos problemas de nosso povo e afundam-se em especificidades de suas especializadas disciplinas. Cursos como medicina, engenharia, bioquímica, odontologia, pedagogia, não se voltam para pesquisas sobre os problemas que afetam a maioria da população. Os médicos extensivistas (que estudam e praticam a clínica geral) são vistos como de segunda categoria, pois o que interessa são os profissionais especializadíssimos formados para utilizar a tecnologia de ponta para poucos. Doenças tropicais, problemas como a desnutrição e as diarréias continuam matando milhões de crianças sem merecer atenção por não serem rentáveis. As pesquisas no campo da bioquímica atendem à indústria de medicamentos, preocupada com seus “royalties” e em auferir o lucro máximo, sem a menor preocupação em relação à imensa maioria que morre sem tratamento pela impossibilidade de adquiri-los. A engenharia passa longe da discussão de técnicas de barateamento de materiais de construção, por exemplo, enquanto volta-se apressadamente para a robótica. A imensa maioria da população continua arrancando os dentes como única forma de tratamento, enquanto se desenvolvem as mais sofisticadas técnicas de implante. Os futuros quadros profissionais da educação, nos cursos de Pedagogia, aprendem a formar alunos atendendo às encomendas das grandes empresas capitalistas. (Ver matéria sobre o curso de Pedagogia)

A Universidade eleva os muros que a separam da sociedade no processo crescente de sua privatização. Distancia-se das tensões que vivemos em nosso tempo. Finge não ver a luta de classes e muito menos o povo pobre de nosso país. As salas de aula parecem mausoléus sombrios, sem calor, sem disputas, sem luz. Quando há debates, esses têm de fundo a disputa por status ou eleições da burocracia de departamentos, um circo de vaidades e discursos vazios. Prolifera o culto da não interação na realidade, de cultivar a inércia política. Uma das mais propagadas idéias é de um relativismo conformista, de que nada vale a pena, de que nada podemos fazer, e é melhor nada dizer.

Para corresponder aos planos de controle do conhecimento, impõe-se o modelo burguês de instrução, com currículos que desenvolvem um saber empírico e fragmentado, onde a especialização é desconectada da realidade do mundo. Seguindo essa rota definida pelos planos imperialistas para os países dominados, é “natural” que se produza e se estimule a inércia política, o estudante acrítico e conformado.

Para aplicar essa política mercantilista na educação é necessário contar com quadros profissionais que a defendam e a formulem com ares de teoria. É por isso que tantos doutores da universidade atacam ora descarada ora sutilmente o marxismo, pois sabem que é ele que dá a resposta à vontade transformadora da juventude que deseja estudar para servir ao povo e não para se conformar com essa realidade; é ele que afirma que o conhecimento só é produzido junto à transformação da sociedade. Por isso investem pesado desde o primeiro período para tirar da cabeça dos estudantes toda a curiosidade quando não a simpatia que a imensa maioria tem pelo marxismo.

A universidade precisa quebrar seus muros, polarizar nas questões que afligem nosso povo, nossa sociedade.

O oportunismo serve a essa Universidade reacionária

A aplicação da nova reestruturação capitalista no processo educativo, levou a um direcionamento consciente para a despolitização. As faculdades das chamadas ciências humanas que já foram quartéis generais da luta estudantil revolucionária no final da década de 60, hoje estão dominadas por autores que defendem a tese anticientífica do “fim da história” e que, portanto, é impossível qualquer tipo de transformação radical e profunda na nossa sociedade, negando o antagonismo e a luta de classes, não tomando partido em relação aos conflitos que ocorrem no mundo.

A aplicação, no conjunto da sociedade, da política imperialista nos planos social, econômico, político e ideológico, levou ao fortalecimento temporário da ação dos oportunistas. No plano político, interessava ao imperialismo a substituição dos regimes militares por governos eleitos, isso tudo sem mudar nada na essência, apenas para conter a resistência popular que voltava a crescer no final da década de 80. A implementação dessa política designava um papel destacado ao oportunismo que, surgindo de dentro do movimento popular, passou a controlar os movimentos sociais, fazendo coro com a propaganda demagógica de que enfim fora conquistada a democracia. Legitimando a farsa eleitoral, os oportunistas dizem que não é preciso mais radicalizar a luta, que agora é só votar no melhor candidato que todos os problemas se resolvem pois o povo reconquistou o direito de voto e pode expressar-se “sem repressão” dentro e fora das universidades. Ora, se a repressão tinha se enfraquecido, aí sim é que estava na hora de radicalizar mais, aproveitando a situação de enfraquecimento do fascismo do Estado brasileiro para então o movimento popular revolucionário acumular forças para uma transformação profunda e verdadeira, a revolução em nosso país.

A partir de então, o imobilismo, a paralisia, a apatia reinaram na universidade. O movimento estudantil da UNE, agora preocupado em pintar a cara, abaixar as calças, organizar campanhas cívicas patrocinadas pela rede Globo e fazer festas para eleger seus candidatos, parasita a universidade e tenta abafar o espírito rebelde desorganizando a luta estudantil. O auge desta festança promovida pelos oportunistas foi o “Fora Collor”, um movimento criado pela mídia, fruto da necessidade da burguesia, do latifúndio e do imperialismo de mudar o gerente de plantão do Estado brasileiro, Collor de Melo, porque sua roubalheira descarada desmoralizava o projeto das classes dominantes. Aquele movimento organizado e combativo das décadas de 60 e 70 (ver box sobre 68), foi substituído por um modismo, um estilo festivo, que no fundo não abala um milímetro da estrutura das classes dominantes brasileiras. A atuação do oportunismo da UNE desviou a luta dos estudantes para movimentos de desgastar governantes através da canalização para o projeto eleitoral em lugar da luta pela transformação desse sistema. Isto facilitou a ação do Estado reacionário, que através de seus governos de turno, como o de FHC desde seu primeiro mandato como sucessor de Collor/Itamar até nossos dias, na implementação de seus planos de desmantelamento do ensino público, privatizando as universidades pouco a pouco, colocando-as sob o controle dos grandes monopólios.

O novo movimento estudantil, popular e revolucionário

Os momentos de efervescência e paixão revolucionária vividos pelos estudantes nas décadas de 60 e 70, foram conseqüência da postura rebelde e inconformada, oposta às propostas do oportunismo no movimento estudantil e na própria vida acadêmica. A política imposta pelo imperialismo, longe de representar uma força inabalável, demonstra cada dia, em todo o mundo, seu esgotamento, sua imensa dificuldade de aplicação. Os povos em todos os países oprimidos resistem e lutam e para que nós estudantes somemos nossa força a esta resistência é necessário construir e desenvolver um verdadeiro movimento estudantil revolucionário, combativo e rebelde que sirva ao povo e à construção do poder popular em nosso país; que liberte a universidade da prisão do capital para produzirmos a verdadeira ciência. É para isto que estamos nos organizando enquanto historiadores, médicos, pedagogos , agrônomos do povo. Para atuarmos efetivamente na luta de classes e assim aprendermos, na prática social revolucionária, como desenvolver a ciência, fundidos com quem tem a capacidade da transformação deste mundo: as classes exploradas pelo capital.

O movimento estudantil em 68

O grande auge do movimento estudantil nas décadas de 60 e 70, foi expressão da luta de classes que se agudizava com a crise geral do sistema capitalista, expressando-se nas radicalizadas lutas antiimperialistas, nas guerras de libertação dos povos do mundo contra os ianques e demais potências, como foi o caso do Vietnã, Cuba e Coréia do Norte. 1968 foi um ano marcado por intensa mobilização estudantil no Brasil, na América Latina e em todo o mundo. Estudantes participaram da luta armada que se desenvolvia em dezenas de países. Isto por grande influência dos avanços do socialismo, particularmente com a grande Revolução Cultural Proletária da China iniciada em 1966.

No Brasil, o aumento da fome do desemprego, o cenário da radicalização do movimento camponês e das lutas urbanas, suscitavam inquietação no movimento estudantil. Os campus universitários foram palco de grandes agitações políticas, ligando a luta dos estudantes à luta de todo o povo. Apesar das medidas estatais de controle das universidades segundo os interesses imperialistas, lutando contra o violento aparato repressivo do regime militar fascista, os estudantes participavam ativamente na luta de classes, não deixando passar em branco um só acontecimento no Brasil e no mundo sem que se expressassem. Muitos jovens saíram das escolas e universidades engajando-se na luta armada.

Essa combatividade era fruto de agudo debate político e ideológico entre as correntes revolucionárias, que mesmo sendo hegemonizadas por concepções pequeno-burguesas, estavam no campo da luta contra a ditadura e o imperialismo. Nenhum avanço do Imperialismo norte-americano foi executado sem que bandeiras ianques queimassem em labaredas. Nenhuma cláusula do acordo MEC-USAID foi implementada na universidade sem que houvesse muita resistência, greves políticas, paralisações e etc.

Mas, devemos compreender que, apesar de toda sua combatividade, de uma forma geral, o movimento estudantil no Brasil expressou o descontentamento das classes médias oprimidas pela ditadura militar e, na sua radicalização não conseguiu ir além do radicalismo pequeno-burguês. Limitado por essa concepção não se fundiu profundamente às massas operárias e camponesas, terminando por ser derrotado pela ditadura.

Teses

Tese – O caráter revolucionário e nacional da ciência e da técnica em nosso país

por MEPR
Publicado em março 1, 2005
8 minutos de leitura

O homem é produto da natureza, o seu mais avançado desenvolvimento. Longe de ser o “câncer do planeta” como querem alguns, ele é a realização da matéria enquanto ser pensante. E é justamente a capacidade de pensar que difere os homens de todos os outros seres. Como não atua somente com respostas condicionadas ao meio ele é capaz de realizar gigantescas transformações no mundo, mesmo com sua força e tamanho pequenos foi o que, sem qualquer comparação, mais transformou a realidade que está inserido. Esta capacidade de pensar nada tem de mágico e teve como base bem material nada mais que sua mão com seu polegar opositor. Foi este pequeno detalhe, que dá ao homem a capacidade de movimento de pinça com os dedos, que nos fez pensar. Aliás, mais que isto, foi esta característica presente em determinada espécie de macaco que possibilitou e impulsionou, através do trabalho, sua transformação em humano. Com esta mão o homem primitivo foi capaz de tornar seu trabalho muito mais eficiente e preciso. E nossos antepassados precisavam trabalhar muito para superar as debilidades naturais, no trabalho da luta por sua sobrevivência foi que o cérebro do homem se desenvolveu. A mão com polegar opositor e o trabalho geraram o que somos hoje, Homo sapiens.

Nosso telencéfalo altamente desenvolvido é a chave para a superioridade do homem em relação a todos os demais animais, pois nós ao contrário de todos os outros seres realizamos não mais um simples trabalho, mas sim um trabalho pensado. Quando um homem corta uma árvore ele o faz consciente, ou seja: antes de derrubá-la o homem “planeja” tal ato na cabeça ou a derruba antes “na cabeça”. Já um castor derruba simplesmente por instinto. Não é atoa que o pobre castor derruba árvores do mesmo jeito desde seu surgimento, ao contrário do homem, que com o passar do tempo é capaz de desenvolver técnicas cada vez mais aperfeiçoadas, pois como temos a capacidade de refletir sobre a realidade, podemos melhorar a cada experiência. Somos a matéria em seu movimento mais complexo e desenvolvido. Só os humanos podem ter consciência de sua existência. Conhecer e transformar a realidade é então a razão da existência humana.

A ciência é a luta do homem por conhecer a realidade, o mundo. É a infinita busca pela verdade. E desde o início de nossa existência buscamos interpretar o mundo que nos cerca, conhecer as leis da natureza, prever seus fenômenos. O desenvolvimento científico impulsionou o avanço da técnica possibilitando-nos interferir cada vez mais no meio. É com base nesta interferência no meio, a luta por dominar a natureza, que se assentou os primórdios de nossa sociedade. Desde sua origem, na luta pela produção das suas necessidades materiais e espirituais, o homem entrou em determinadas relações sociais, independentes de sua vontade e que determinavam o seu pensamento. A luta pela produção é a mais antiga, a originária forma de prática social do homem. O desenvolvimento das formas como o homem produz e o aumento da complexidade de suas relações sociais, chegado em um determinado estágio de desenvolvimento, fez surgir a sociedade de classes antagônicas. A partir deste estágio, o da conformação da sociedade de classes antagônicas, surge uma nova forma de prática social, a da luta de classes, que elevou enormemente sua capacidade de produção dentro de um determinado modo que, atingido um certo grau de desenvolvimento, passa a entravá-lo. As relações sociais estabelecidas entre os homens na produção material de sua existência de um determinado modo, no seu início impulsiona o progresso geral e chegado a um certo grau de seu desenvolvimento, passa a entravá-lo. Daí que surge a necessidade de um novo modo de produzir que libere o progresso e prossiga seu desenvolvimento. E isto é feito pela própria luta de classes.

A luta de classes é o motor da História”, pois ela com suas contradições antagônicas, que só se resolvem com a transformação das relações de produção (a forma como os homens e suas classes se relacionam na luta por produzir), produziu as revoluções sociais e bruscas modificações na forma como o homem produzia e consequentemente na sua forma de pensar.

A terceira forma de prática social do homem é a investigação e experimentação científica. E ela é, em geral e sobretudo, a sistematização das outras duas outras formas: a luta pela produção e a luta de classes. É o conhecimento, sua elaboração, a ciência em seu desenvolvimento constante. A ligação da ciência com a revolução social se encontra no fato de que essa exige honestidade e desinteresse. Somente quem deseja transformar toda a realidade social pode desenvolver estas qualidades. Para as classes dominantes exploradoras do trabalho humano não interessa, a partir de determinado momento, a revelação da verdade. Necessitam do obscurantismo para manterem as massas sob seu regime de exploração e opressão. A ciência é portanto inimiga do status quo, ela é em essência transformação, pois conhecer é transformar. Neste sentido, hoje, a chamada produção científica da burguesia nada tem de ciência pois não serve para libertar. Todo o desenvolvimento da técnica burguesa está voltada para o lucro de alguns poucos burgueses mantido pela a exploração de bilhões de trabalhadores. O que aprendemos ser ciência, e que a mídia em geral difunde, são incrementos tecnológicos em suas bugigangas que aparentemente representam grandes avanços. Mas que avanço para a humanidade representa um DVD, microondas ou um carro que aceita comando de voz? Nenhum. O que aparentemente são produtos confortáveis não passam de mercadorias que dominam seus produtores. E é uma dominação concreta pois, por mil vias, somos forçados à necessidade delas, o que nos causa a impressão de que cada novidade era o que faltava para nosso bem estar. Mas, basta ver que nunca estamos satisfeitos para perceber que não são nossas necessidades que criam estas mercadorias, e sim estas mercadorias que criam tais necessidades. A burguesia produziu ciência, mas claro, somente em seu período revolucionário, no período que destruía sem piedade toda a velharia do mundo feudal, dando assim grandes contribuições para o desenvolvimento da humanidade. Estes cientistas burgueses, como não podia deixar de ser, foram em sua época grandes revolucionários. Foi este espírito revolucionário burguês que deu à sociedade humana o renascimento, o iluminismo, o movimento naturalista e racionalista, o desenvolvimento das matemáticas com o cálculo diferencial e uma nova concepção da geometria, da física com as descobertas do eletromagnetismo, da biologia com a teoria da evolução das espécies, da química com a divisibilidade e transformação da matéria, na filosofia com a retomada do materialismo e da dialética, da economia com os primórdios das leis do valor, renda e mais-valia (a rigor mais-valia é uma categoria de Marx), das ciências sociais com o pensamento socialista, ainda utópico, de uma nova sociedade. Todas estas mudanças e avanços combinados com um grande desenvolvimento da produção, primeiramente com o mercantilismo e depois com a revolução industrial, se deram em luta aberta contra toda estrutura econômica e social da sociedade feudal. Foram duros embates contra as relações feudais e a cultura de medo e obscurantismo determinada por esta. Mas ao tomar o poder, a burguesia busca consolidá-lo num estado como instrumento para manter e ampliar a exploração do proletariado, bem como a dominação em geral, passando à luta direta e aberta contra essa nova classe. De classe revolucionária que joga papel revolucionário na história passa a desempenhar papel reacionário. É que a burguesia, como parte principal de uma nova formação social que surge do seio da velha sociedade feudal a destrói é revolucionária e ao mesmo tempo, sendo uma classe que também se sustenta na exploração do trabalho, é contra-revolucionária. Daí, dentre outras decorrências, não leva até o fim a luta contra o idealismo inclusive se aliando e mantendo várias instituições feudais como a Igreja Católica. A verdade, necessariamente, deixará de interessar à burguesia e esta trai seus precursores caindo na mediocridade, na leviandade, na falsificação e no espírito comercial falsificado como ciência. Este caráter reacionário do pensamento burguês se acentua quando sua sociedade capitalista entra em seu estágio monopolista e superior, que é sua última e decadente fase, o imperialismo. A partir daí nada de progressista é produzido pela burguesia, ela rompe totalmente com a ciência, prostituindo-a.  E mesmo quando realiza descobertas estas se perdem em seu pensamento limitado pela necessidade de justificar e manter a exploração de centenas de milhões, de até bilhões de pessoas para sobreviver enquanto classe, entravando todo o progresso, decompondo a sociedade, depredando e degradando todas as condições naturais da Terra.

Todos aqueles que querem ser cientistas, que querem produzir ciência devem ter em mente que não basta transformar a matéria somente no laboratório ou na sala de aula. Há que fazê-lo em todas as esferas de nossa vida. Para contribuirmos com a ciência devemos estar comprometidos com o progresso geral das amplas massas de nosso povo, com sua completa libertação de todas as formas de exploração e opressão. Contribuir e apoiar sua luta de alguma forma. Portanto o caráter revolucionário da produção científica, está no fato de que ela só pode ser feita longe dos marcos da dominação burguesa reacionária, fora de seu controle, consequentemente está em contrário dos interesses do imperialismo. Assim, o desenvolvimento científico caminha junto da luta pela libertação popular e nacional, contra a dominação reacionária imperialista. Devemos ter sempre em mente que só com a total libertação do domínio imperialista é que teremos condição materiais e subjetivas para produzirmos ciência.

Toda produção científica ocorre na luta pela produção e dentro da luta de classes e que na época do imperialismo é impulsionada pelo pólo mais avançado e revolucionário da contradição que encerra esta sociedade, o proletariado. Caminha junto do povo e buscará sempre resolver os problemas das grandes massas. Assim que, concretamente em nosso país, segundo as leis que tem regido seu desenvolvimento econômico-social, se faz necessário dar cabal solução à pendente questão agrária, camponesa, nacional e proletária. Impulsionar a revolução agrária baseada no programa do proletariado para o campesinato pobre e levar de forma ininterrupta a revolução democrática para o socialismo é o marco no qual se pode, concretamente, produzir ciência em nosso país hoje. De nada adianta pensar em “grandiosos projetos” pois estes são infinitamente menores  que o de transformar nosso país e o mundo. Que comecemos com pequenos projetos mas que sejam nossos, a ciência tem a marca da ousadia. Os verdadeiros amantes da ciência lutam pelo novo mundo pois nele teremos o pleno desenvolvimento científico, onde se levantarão as bases materiais para as mais gigantescas transformações sobre as quais se abolirão as classes sociais, a exploração do homem pelo homem, as diferenças entre cidade e campo, as diferenças entre trabalho manual e intelectual e as desigualdades entre mulheres e homens. Onde toda a humanidade estará liberta do idealismo, em que sairemos do reino da necessidade para entrarmos no reino da liberdade, onde todos sem exceção serão cientistas. Aí sim veremos a ciência fluir. Por “sorte” nossa o conhecimento da humanidade é infinito e sem limites é a capacidade humana. Pois a contradição é a lei única universal que rege a transformação incessante da matéria eterna e assim sendo, a razão da existência humana nunca acabará e sempre teremos novas descobertas a fazer para dar solução à contradição entre o velho e novo, entre o certo e o errado.

Teses

Tese – A Universidade Latinoamericana e as Históricas Bandeiras do Movimento Estudantil

por MEPR
Publicado em fevereiro 1, 2005
23 minutos de leitura

Em recente entrevista à revista Isto é, o Ministro da Educação Tarso Genro afirmou que o governo está promovendo uma “reforma universitária republicana”, baseada nos princípios da Revolução Francesa, e que esta era uma antiga reivindicação do movimento estudantil. O presente artigo procura desmentir esta propaganda governista. Para isto apresentamos um estudo inicial sobre a universidade latino americana, sua formação, suas particularidade, e principalmente sobre a luta travada pelos estudantes latinos nos séculos XIX e XX. Conhecer esta luta, seus objetivos e suas bandeiras é de fundamental importância para entendermos porque a “reforma” imposta pelo governo Lula/FMI não possui nenhuma vinculação com histórica luta dos estudantes. Muito ao contrário, as medidas implementadas pelo governo são opostas à reforma universitária defendida historicamente pelo movimento estudantil brasileiro.

A América Latina foi sacudida no início do século passado por insurgência estudantil em defesa da autêntica reforma universitária. Também no Brasil esta luta se fez presente por muitos anos. A confusão causada pelo governo federal, com sua propaganda demagógica sobre a “reforma universitária”, torna mais necessário do que nunca aprofundarmos o debate sobre este tema.

Só compreenderemos corretamente o que se passa em nossas universidades e o que realmente significam os ataques do governo se abalizarmos a formação e desenvolvimento histórico das universidades brasileiras e hispano-americanas. Esta é uma tarefa urgente para o movimento estudantil brasileiro, movimentar as idéias para mover a ação.

A universidade Hispano-Americana

“Hoje amanhecemos com uma vergonha a menos e uma liberdade a mais, as dores que ainda temos são as liberdades que nos faltam”. Manifesto após a conquista da reforma universitária dos estudantes de Córdoba, Argentina, 1918.

A história das universidades hispano-americanas corresponde à própria trajetória das sociedades latinas. As lutas universitárias por romper com o domínio colonial e feudal foram reflexos e influíram diretamente em toda a dinâmica da luta de classes nestes países. Ao analisar sua formação histórica, aparece uma expressiva diferença entre o desenvolvimento da educação superior na América Espanhola e na América Portuguesa. Enquanto a primeira era há mais de quatro séculos palco de importantes transformações, no Brasil as universidades nem mesmo existiam. Apesar do desenvolvimento desigual, ambas trazem vivas as pendências e a atualidade das lutas pela democratização das universidades.

Enquanto Portugal restringia o acesso ao ensino superior ao território da metrópole, a Espanha tem a política de implantar instituições de ensino superior dentro das colônias, a fim de produzir um contingente capaz de suprir a demanda de cargos burocráticos administrativos. Daí a primazia espanhola quanto ao ensino superior nas Américas. A fundação da primeira universidade das Américas se dá em 1538, em São Domingos, seguida da fundação da universidade de San Marcos no Peru, em 1551. A fundação da primeira universidade norte-americana, Harvard, só acontecerá em 1636, quando a América Latina já possuía mais de 13 instituições de ensino superior.

Próprio do domínio colonial, as universidades são importadas da metrópole assim como a cruz e a realeza, e correspondem à realidade européia da época. Sua fundação ocorre por um ato puramente administrativo, reproduzindo mecanicamente o contexto europeu de acordo com os interesses das classes dominantes locais. Apesar de passar por um período de efervescência científica e artística no período do renascimento e do iluminismo, o modelo de universidade trazido da Europa é o mais pobre e medieval da época, e funciona como uma alternativa de fortalecimento dos poderes eclesiásticos.

As universidades hispano-americanas se inspiram em duas matrizes, a Universidade de Salamanca e a Universidade de Alcala, ambas na Espanha e referências mundiais em ensino superior. Das seis universidades da época três seguem o modelo de Alcala as universidades de São Tomaz de Aquino em São Domingos, de Bogotá e a de Quito, no formato universidade convento, dirigidas diretamente pela Igreja e desvinculadas da responsabilidade do Estado. Estas são as antecessoras das universidades católicas privadas atuais.

Outras três universidades, a do México, a de Lima e de Santiago de La Paz seguiam o modelo de Salamanca, universidade estatal que possuía maior abertura, admitindo inclusive ensinar Copérnico, e que se guiava pelo princípio de universidade dos estudantes, de acordo com modelo de Bolonha (Itália) em oposição ao desenvolvido em Paris de “universidade dos professores”. Salamanca será a precursora das futuras universidades nacionais.

O modelo Salamanca influenciou positivamente as instituições latinas, tanto que a universidade do México em seus primeiros anos possuía um ensino de tendência humanista. Porém, com o movimento da Contra-Reforma da Igreja Católica na Europa, o modelo da universidade Alcala passa a ser hegemônico, tanto na Europa como na América, passando a formar novos quadros dirigentes para a chamada “conquista espiritual”. Durante todo este período, as universidades tiveram desenvolvimento precário, com poucos mestres e um número grande de alunos. A estrutura feudal das universidades latinas impunha um obstáculo ao desenvolvimento científico e mantinha o Ensino Superior atrelado aos interesses da Igreja e da burocracia local.

Apesar das dificuldades para seu desenvolvimento, as universidades cumpriram um importante papel na formação de um grande número de jovens que comporiam a vanguarda intelectual da sociedade. Durante o período colonial, a América Espanhola formou aproximadamente 150.000 graduados, estudantes que tiveram destacado papel no suporte teórico e prático dos processos de independência dos países da América Espanhola. Enquanto isso no Brasil apenas 2.500 estudantes foram graduados durante todo período colonial, todos formados em Coimbra (Portugal). O Brasil chega à “independência” em 1822 sem formar em seu território um estudante de nível superior sequer.

A derrubada do feudalismo na Europa e o advento da ciência moderna trazem novas perspectivas para a humanidade. A nova universidade marcada pela indissociação entre ensino e pesquisa (particularmente na Alemanha) transforma a universidade em palco de descobrimentos científicos extraordinários. A derrubada de velhos paradigmas religiosos sustentados pelos poderes eclesiásticos fez a ciência avançar a passos largos. Com o advento da República, a educação passa a ser um serviço público nacional de caráter laico.

Enquanto nos séculos XVIII e XIX, florescia o pensamento científico na Europa, as universidades latinas se viam petrificadas no atraso. A crise que se abate sobre elas, se apresenta como crise estrutural e ideológica. A apatia compunha parte da crise geral das sociedades latinas, dominadas pelas potências mercantis européias. As Universidades eram, então, meras reprodutoras dos pensamentos das oligarquias mais atrasadas. A luta por uma república livre soberana empurra os estudantes e intelectuais honestos latinos a uma luta de vida e morte contra os pensamentos oligárquicos e contra as próprias oligarquias. A arcaica estrutura universitária controlada pelo clero, a falta de democracia e de autonomia, somada aos métodos academicistas*, tolhiam qualquer desenvolvimento científico. Isto fez com que as universidades coloniais entrassem em uma profunda crise no final do século XIX.

Em fevereiro de 1908, se realiza o primeiro Congresso Americano de Estudantes em Montevidéu. O Congresso contou com a participação de quase todas organizações estudantis das Américas. Nele foram discutidos: orientação pedagógica, regime de exoneração (acabar com o controle do governo sobre a admissão/demissão do quadro docente), estudos livres, e regulamentação obrigatória (instituir o ensino superior como responsabilidade do Estado). Assim, o Congresso deu início a uma nova fase de integração entre as discussões e lutas universitárias latino-americanas. Levantou como bandeira principal a representação estudantil nos conselhos universitários, questão ratificada nos Congressos seguintes de Buenos Aires (1910) e Lima (1912). A participação indireta em conselhos universitários passou a ser rejeitada. Em 1910, foi dado o primeiro direito à voz a um estudante no conselho diretor da Universidade do México.

Em 1917, os estudantes de Córdoba protestaram contra fechamento Hospital Universitário e também pela manutenção das aulas práticas, mas não são atendidos. Montam então, um Comitê Pró-reforma Universitária e lançam o manifesto à juventude Argentina, onde dizem: “A Universidade Nacional de Córdoba ameaça ruir pelo trabalho anticientífico de suas academias, a inaptidão de seus dirigentes, pelo seu horror ao progresso e a cultura e por carecer de autoridade moral. A juventude universitária não pode ser cúmplice da catástrofe, queremos que seus corações e seu cérebro marchem a par com o ritmo ascendente e fecundo dos novos ideais”.

O movimento estudantil declara greve geral na Universidade de Córdoba em março de 1918. A universidade é fechada pelas autoridades acadêmicas e o governo intervém. O interventor instaura negociações, propondo uma nova eleição para a diretoria, mas os estudantes negam. No dia 15 de junho, os estudantes interromperam o ato eleitoral organizado pelo interventor, ocuparam a sala onde se reunia a Assembléia de professores com o novo reitor, e desconheceram a eleição. Em seguida se dirigiram ao presidente da república: “Estamos atravessando uma época de profunda renovação. A única autoridade que a coletividade estudantil reconhece é a deste superior governo”. Em resposta o governo argentino elaborou uma nova lei do ensino superior.

Em Buenos Aires foi fundada a FUA (Federação Universitária Argentina), o movimento se estende por todo o país, e esta convoca o primeiro Congresso de Estudantes Argentinos para avaliar a nova lei do ensino superior. Fechado por tempo indeterminado, o edifício da universidade de Córdoba é tomado para reiniciar as aulas sob a direção estudantil, 83 estudantes são detidos e processados pela rebelião. Então a greve estudantil se generalizou e alguns sindicatos aderiram. O governo foi obrigado a reformular os estatutos e convocar novas eleições; o filósofo Alejandro Korm foi eleito diretor da faculdade de letras e filosofia com o voto estudantil.

Da Argentina o movimento se expande rapidamente por toda a América Latina. Em 1919, os estudantes de San Marcos, Lima-Peru, aderiram ao ideário de reforma de Córdoba. No ano seguinte, o primeiro Congresso Nacional dos Estudantes, reunido em Cuzco, avançou em sua concepção decidindo pela criação das Universidades Populares Gonzáles Prada, que foi um dos melhores aportes da experiência peruana. Estas Universidades Populares reuniam estudantes, operários e intelectuais, ampliando muito o raio de influência da reforma. As reinvidicações dos estudantes peruanos depois de muitos vaivens foram atendidas pelo governo.

No México, após a derrota da revolução democrática de Emiliano Zapata, em meio a lutas radicalizadas, foi aprovada uma lei orgânica universitária, que determinava a participação de toda a comunidade na administração das escolas superiores. Entre os anos de 1929 e 1933 os estudantes desencadeiam a luta pela autonomia, conquistando-a e modificando o nome da instituição para Universidade Autônoma do México.

A luta pela reforma universitária, a partir de 1920, se desenvolveu também no Chile, Uruguai, Colômbia, Equador, Bolívia e Paraguai, e se estende à América Central e Caribe, eclodindo importantes lutas. Em 1928, em nosso país o movimento estudantil e intelectual, apesar de sua recém fundada Universidade do Brasil, foi diretamente influenciado pelas proposições democráticas. O movimento pela Reforma Universitária na América Espanhola foi vitorioso. Apesar das oligarquias coloniais e do imperialismo almejarem transformar as universidades latinas em reduto de sua ideologia, elas mostram ser um elo débil na sua dominação sobre as colônias.

Não foram poucas as conquistas obtidas pelos estudantes. A educação passou a ser reconhecida como um bem social e de interesse público, e se tornou responsabilidade do Estado a sua manutenção financeira. As instituições passaram a contar com plena autonomia para definir os objetivos e o conteúdo a ser ministrado, bem como a forma de organização e elaboração dos currículos, o que permitiu uma relativa independência em relação aos interesses das classes dominantes. Pesquisas e ensino se fundiram, deixando para trás o modelo de universidade colonial. Com o co-governo, os representantes eleitos dos estudantes e dos professores dirigem diretamente as universidades, garantindo a plena autonomia destas. As cátedras (cadeiras) livres permitiam aos professores ministrar suas aulas de forma independente, acabando com a interferência da Igreja nos conteúdos e métodos. Assim, concepções científicas comprovadas há anos puderam ser difundidas nas universidades. Aprofundou-se o debate sobre as questões sociais e filosóficas, transformando as Universidades Latinas em terreno fértil para as posições antifeudais e anticoloniais.

A universidade brasileira

O imperialismo e as classes dominantes lacaias, sempre buscaram controlar ou deter o desenvolvimento autônomo de nossas universidades. No início do século XIX, o país possuía apenas academias de carreira (Escola de Anatomia, Escola de Ginecologia e de Formação de Dentistas) criadas em 1808 pelo Marques de Pombal. As primeiras faculdades só surgirão em 1827 (em Olinda e São Paulo, ambas Faculdades de Direito).

A primeira universidade brasileira foi formalmente fundada em 1920, para que o presidente do Brasil pudesse conceder o título de Doutor Honoris Causa (título que só pode ser dado por uma uni versidade) ao Rei da Bélgica, que visitaria o país. A Universidade do Brasil reuniu as faculdades de Medicina, de Direito e a escola Politécnica, que já existiam isoladamente. Mais tarde passou a se chamar Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em seu início, o sistema de ensino superior brasileiro copia o modelo napoleônico de academias e centros de pesquisa isolados do ensino, exclusivamente voltados às funções técnicas, sem nenhum interesse no desenvolvimento científico.

Sob o impacto direto da luta pela reforma universitária na América Latina, o educador Anísio Teixeira, reunido com um grupo de intelectuais, tentou fundar a Universidade do Distrito Federal. Instituição que seria criada nos moldes das universidades reformadas latinas, com a reunião de ensino e pesquisa contando com cátedras livres, e representação estudantil. O projeto é rapidamente reprimido pelo governo federal, mas servirá de base para a fundação da UnB na década de 60.

O aumento do número de instituições de ensino superior em nosso país acontecerá nos anos 30 e 40, como necessidade do imperialismo e da burguesia burocrática. Para absorver o capital exportado pelas potências imperialistas a grande burguesia necessitava de um corpo técnico minimamente especializado. Por isto, o formato de nossa universidade já atendia exatamente as necessidades do mercado.

A USP – Universidade de São Paulo – é fundada em 1934. Mais do que uma simples reunião de escolas profissionalizantes é a primeira instituição a ter realmente o caráter de universidade, contava inclusive com autonomia, que foi respeitada somente nos primeiros anos. Nos estatutos da USP estão destacados os seus objetivos principais: no art. 1º – investigação para o progresso da ciência; art. 2º – ensino de conhecimentos que sejam úteis para o espírito e a vida; art. 3º – formação de especialistas em todas as áreas da cultura e de técnicos e profissionais em todas as profissões de base científica ou artística. A USP surge incentivada pela burguesia paulista, que almejava ter em seu estado uma escola superior que pudesse preparar seus filhos para serem futuras lideranças políticas. Trouxeram para a USP nomes de peso internacional como o professor Fernand Braudel e Claude Lévi-Strauss.

Como o aumento do número de universidades foi impulsionado pelos interesses econômicos e políticos da burguesia burocrática os problemas do ensino superior no país não foram solucionados. O acesso às universidades ainda era restringidíssimo, tanto que até 1940 o Brasil contava com apenas 21.235 matrículas, havendo apenas um aglutinado de faculdades e seis universidades em fase de estruturação.Todas ainda carecendo de representação estudantil e autonomia.

Foi neste período de relativo crescimento do número de universidades que a educação superior brasileira sofreu um outro golpe. O Estado Novo de Vargas encabeçou a fundação da Faculdade Católica em 1941, denominada Universidade Católica em 46. Era o início do ensino superior privado incentivado pelo Estado. A gerência Vargas começou a implementar o modelo norte-americano de ensino pago (que ganhava força nos EUA como “via de modernização do ensino servindo ao desenvolvimento”). Esta é a base da disputa que oporá o ensino nacional público ao modelo tecnicista pago ianque, disputa que toma relevo ainda hoje.

No início da década de 60, o movimento estudantil brasileiro inicia uma ampla campanha por mais vagas e mais verbas. A luta por derrubar o arcaico sistema educacional do Brasil influencia aquela que seria a mais rica experiência da educação superior brasileira. Em 1960, um grupo de cientistas e intelectuais fundam a Universidade de Brasília, baseados na obra de Anísio Teixeira. Vitoriosa em seu início, a UnB tomou impulso e caminhava para ser uma verdadeira universidade nacional. Quanto a sua estrutura, o modelo tradicional de faculdades e cadeiras isoladas foi substituído por uma nova forma de organização, composta por três corpos: ensino, pesquisa e extensão cultural. Estes três corpos estavam integrados em uma estrutura funcional: o Instituto Central de Letras e Artes (Matemática, Física, Química, Biologia, Geociências, Ciências Humanas, Letras e Artes), as Faculdades profissionais (Ciências Agrárias, Ciências Médicas, Ciências Tecnológicas Ciências Políticas e Sócias, Arquitetura e Urbanismo e Educação) e, como complemento, uma Biblioteca Central, uma Editora, uma Rádio Difusora, um Estádio e um Museu.

A UnB possuía cátedras livres e autonomia. No entanto, sua formação era resultado do aumento da participação política da burguesia nacional no aparelho de Estado e não das lutas estudantis e populares, como aconteceu em muitos países da América Latina. Por isto a UnB não pôde avançar plenamente na concepção de reforma universitária. Sua maior deficiência está na pouca participação estudantil na direção da universidade, na ausência do co-governo, sempre apontado como primeiro ponto da reforma universitária.

O golpe militar atinge diretamente a desenvolvimento democrático que se gestava na Unb. A universidade é a que mais vezes é ocupada pelo exército no Brasil, superando inclusive as tradicionais universidades do Rio e SP, professores e diretores são demitidos, estudantes presos e o governo impõe um interventor já em 64 interrompendo seu processo de 4 anos. A UnB se tornou um grande foco de resistência ao golpe militar, professores e alunos protagonizaram grandes batalhas em defesa da universidade. O próprio Honestino Guimarães, que viria a ser presidente da UNE, fora presidente do DA de Geologia da UnB.

A luta pela democratização do ensino no Brasil

A maior luta pela democratização da universidade brasileira aconteceu no ano de 1962 com a “greve do 1/3”. Dirigida pela Une, esta mobilização exigia que os estudantes ocupassem 1/3 das cadeiras dos conselhos universitários. Foi uma greve histórica, que durou 85 dias e paralisou todas as universidades federais no país. O movimento atingiu um nível de radicalização tal que o exército ocupou por três dias a Universidade Federal do Ceará. A “greve do 1/3” foi acompanhada das lutas pela universidade pública e gratuita. Naquela época o acesso à universidade não se dava pelo processo eliminatório de hoje, o vestibular era classificatório, ou seja, todos que superassem o mínimo de pontos tinham direito à vaga nas universidades. Com o tempo cresceu enormemente o número de alunos aprovados, porém o Estado não atendia mais a demanda e muitos estudantes mesmo tendo o direito à vaga ficavam sem ela na prática, estes eram os excedentes.

Desde o governo João Goulart (1962), uma série de ataques do imperialismo contra as universidades começou a ser arquitetado. Foram os chamados acordos MEC/USAID, firmados entre os governos do Brasil e EUA e que reproduziam em nosso país o modelo norte-americano de escolas profissionalizantes para os pobres e universidades pagas para os ricos. As medidas previam o controle total das universidades pelo governo e a reinstalação de cobranças de mensalidades. O acordo lança a base de desenvolvimento do ensino superior para os anos posteriores, como sobre o financiamento, métodos pedagógicos e objetivos gerais do ensino no país. Os acordos, assim como a atual “reforma” do MEC/Banco Mundial, foram amplamente propagandeados pelos militares com o slogan de “reforma da universidade” para combater privilégios.

Em meio à luta contra os acordos MEC/USAID, a Une lançou a bandeira da reforma universitária. As consignas de Córdoba voltaram a agitar as universidades brasileiras. Em seu plano de lutas para os anos 66, 67 a Une levantou as reivindicações históricas de democratização das universidades, dentre elas:

Lutamos contra a transformação das universidades publicas em fundações privadas.

Educação funcional para todos (ensino profissionalizante).

Pelo ensino secundário voltado a formação profissional.

Ensino Popular: O ensino a serviço do povo.

Nacionalização [expansão] do ensino em todo o país.

Autonomia educacional e administrativa, gradativa diminuição das taxas estudantis até sua completa abolição.

O movimento estudantil moveu uma grande jornada de luta contra os acordos MEC/USAID, revelando o caráter colonial das medidas adotadas pela ditadura militar. As mobilizações dos anos de 66 e 67 conseguiram barrar o grosso das medidas governamentais, mantendo o caráter nacional de nossas universidades. Frente à intensa luta estudantil e popular no país o governo recuou na aplicação das medidas coloniais contra a educação superior.

Durante o governo Cardoso novamente um ataque concentrado à universidade foi realizado. Sua política sistemática de corte de verbas e de redução salarial conduziu a um sucateamento da educação nunca visto anteriormente, abrindo espaço para a privatização da universidade pública brasileira. Com a falta de verbas se criaram as condições para justificar a cobrança de taxas dos alunos. Neste período as universidades privadas tiveram seu grande “boom”, enquanto o ensino público se viu gradativamente tomado por fundações privadas.

Este processo de privatização aconteceu simultaneamente em toda América Latina, com necessidade de aprofundar seu domínio o imperialismo aproveita-se do refluxo geral das lutas revolucionárias no mundo. Os ataques aos direitos estudantis, conquistados há mais de meio século, reacenderam o movimento estudantil latino americano. A resistência mais importante aconteceu em 2000, no México, quando estudantes e servidores da UNAM organizam uma histórica greve de um ano, que garante a autonomia e a gratuidade da universidade.

Apesar de muitos direitos conquistados terem sofrido alguns retrocessos, importantes conquistas se mantêm de pé. Exemplo disto é a Universidade de San Marcos (Peru) que mesmo depois de ter sofrido inúmeros ataques, inclusive uma ocupação militar, seus três prédios principais continuam se chamando: pavilhão Marx, pavilhão Lênin e pavilhão Mao Tsetung. Na universidade de Ayacucho, também no Peru, ainda existe uma cadeira do ciclo básico, que reúne estudantes de toda universidade, que se chama Introdução ao Pensamento Científico, onde se estuda a teoria do conhecimento baseada em textos clássicos do marxismo. E ainda mais recentemente, as conquistas da Universidade Publica de El Alto (UPEA, Bolívia), conhecida como “a universidade mais revolucionária da América Latina”, que teve destacada participação na guerra do gás em 2003.

O modelo norte-americano de universidade para os países dominados

A burguesia norte-americana, assim como na Europa, derrubou completamente o velho modelo de universidade feudal. O EUA, ao contrário dos países latinos, viveu um verdadeiro processo de independência e de revolução burguesa, que possibilitou seu desenvolvimento capitalista pleno. A revolução burguesa norte-americana, de 1776, cumpriu o objetivo de libertar as forças produtivas, alavancando o desenvolvimento econômico e estabelecendo a burguesia ianque com classe dominante. Com isto a burguesia norte-americana modificou a estrutura universitária de acordo com suas necessidades.

Para o desenvolvimento capitalista, no que diz respeito à educação, dois pontos eram fundamentais: primeiro, acabar com o domínio da Igreja sobre as instituições de ensino, já que esta impedia o desenvolvimento cientifico necessário ao desenvolvimento industrial; e segundo, promover a integração entre pesquisa e ensino, elevando assim a capacidade de produção de conhecimento.

As universidades norte-americanas ao romperem com o vínculo feudal desenvolveram-se, em seus primeiros tempos, como universidades republicanas. Entretanto, com o advento do imperialismo a universidade norte-americana entra em decadência. O Estado reacionário ianque passou por um profundo processo de privatização que englobou também as universidades. Oficialmente seguiram sob o principio republicano de que a universidade é uma responsabilidade do Estado, porém na prática as universidades norte-americanas perderam seu caráter publico, ficando à mercê dos grandes monopólios que dominam a economia imperialista. A burguesia imperialista começou a atacar as conquistas democráticas da universidade, assim como depois de ter tomado o poder, passou a cassar os direitos adquiridos pelos operários na revolução burguesa.

Hoje todo sistema de ensino superior norte-americano é gerido por fundações privadas. O acesso não se dá por concursos públicos, ficando a critério de cada universidade, e é um dos mais restritos do mundo. Quem não vai para a universidade entra em um curso de formação profissional para que possa desempenhar funções puramente técnicas na indústria.

A principal forma de lucro extraída da educação não se dá pelo fato de serem pagos, mas sim pela mercantilização do conhecimento. Seus centros de pesquisa são extensões dos laboratórios das grandes empresas. As inovações tecnológicas das indústrias petrolíferas, farmacêuticas e de alta tecnologia advêm das universidades, substituindo o desenvolvimento da ciência pelo aperfeiçoamento tecnológico, de acordo com a demanda do mercado. Não é à toa que a Avon e a Merc foram as principais patrocinadoras dos acordos MEC-USAID.

As universidades norte-americanas também se transformaram em disseminadoras de falsas teorias sociais a fim de legitimar a concepção burguesa do mundo. Sem embargo, por mais que as classes dominantes ianques dominem seus centros de pesquisas, muitos estudantes e cientistas não aceitam seu controle.

As universidades norte-americanas se diferenciam do modelo feudal pela estrutura que reúne ensino e pesquisa, porém no que diz respeito ao acesso, ao seu caráter publico e à produção de conhecimento, abandonaram os princípios republicanos. As universidades reformadas latino-americanas são o que de mais avançado existe nas Américas, tanto pelo acesso, em sua maioria de massa, quanto pela autonomia.

O Brasil é um país com capitalista burocrático com uma arcaica estrutura fundiária. Todas as medidas do governo, como a própria proposta de “reforma”, servem à manutenção destas atrasadas relações. A universidade norte-americana funcionou como um importante instrumento de desenvolvimento em uma época e realidade específicas. Hoje, o modelo de universidade ianque é um grande inimigo da democratização da educação, quando aplicado aos países semi-coloniais servem a perpetuar a dominação imperialista. Corresponde à modernização do modelo napoleônico para a América Latina: no lugar da Igreja como barreira para o conhecimento se encontram os monopólios capitalistas. No lugar da mera formação de carreiras profissionais da universidade colonial temos a formação de mão de obra para as multinacionais no modelo tecnicista.

A “reforma” universitária do governo Lula-FMI é o maior ataque contra a universidade brasileira.

A educação superior brasileira se desenvolveu com atraso de quatro séculos diante dos demais países latinos, nunca passou por nenhuma reforma universitária em toda sua história, muito pelo contrário, foi alvo de sucessivas contra-reformas de acordo com as demandas da grande burguesia e do imperialismo.

Pelo fato de não ter levado a cabo seu processo de reforma, a universidade brasileira segue mantendo estruturas atrasadas que correspondem ainda ao modelo colonial de um conglomerado de faculdades autárquicas, sem uma estrutura central de estudo das ciências (como possuía a Unb até 64) para onde todos os cursos se convirjam. As universidades brasileiras são uma reunião de faculdades, integradas somente pelo setor administrativo, o que entra em contradição com o próprio conceito de universidade e limita a integração do conhecimento científico, restringindo este às necessidades da carreira. Nem mesmo direitos conquistados pela burguesia, em 1789, como o voto universal, existem nas universidades brasileiras. Quanto ao acesso o país possui um dos mais restritos da América Latina, ao lado da Guatemala, Honduras e Nicarágua. Na Argentina e no Uruguai, após a reforma universitária e até os dias atuais, o acesso à universidade é livre, não existe nenhum exame de classificação. Apesar de contar com diversas instituições de ensino superior, o Brasil possui pouquíssimas instituições de grande porte, se restringindo praticamente aos centros metropolitanos. Apenas a Faculdade de Economia de Buenos Aires possui 50.000 alunos.

A questão universitária é estratégica para as classes dominantes. Controlar as universidades é tentar deter qualquer desenvolvimento científico nacional, buscando perpetuar a dependência e a submissão econômica e ideológica aos países imperialistas. Toda a história das universidades demonstrou o papel destacado que tiveram nas lutas anti-coloniais do século passado e neste. É exatamente por lidar com conhecimento científico que as universidades são um local de constante e disputa ideológica entre a burguesia e o proletariado. Ao passo que as classes dominantes tentam construir ali sua Bastilha os estudantes e o povo lutam por transformá-las em um espaço democrático, difusor de conhecimento.

A reforma universitária é uma demanda histórica dos estudantes, corresponde a um largo processo de democratização da universidade, balizados no co-governo, autonomia e cátedras-livres. O co-governo como participação democrática dos estudantes nos rumos das universidades, garantindo assim a autonomia em relação ao Estado, e, as cátedras livres como própria difusão do conhecimento racional científico.

A atualidade da reforma universitária se mostra acesa nos fatos, em diversos países latinos estudantes desenvolvem acirradas lutas pela reforma e na defesa de direitos adquiridos. A Universidade Nacional de Engenharia do Peru, durante todo 2004, foi palco de enfrentamentos, greves e invasões de campus por parte da polícia, ali as bandeiras empunhadas são as mesmas dos estudantes de Córdoba.

Compreender a universidade simplesmente como um aparelho reprodutor da ideologia das classes dominantes é negar toda a história de lutas e conquistas das universidades latinas. As classes dominantes tentam através do controle da estrutura do Estado transformá-la em mera reprodutora da ideologia burguesa. Porém, como necessariamente lida com o conhecimento torna fragilizada a dominação estatal. Inevitavelmente nela produzirá lutas de contrários, opondo a verdade sobre a natureza e sociedade às falsificações da ideologia burguesa.

Resistir ao golpe contra os estudantes brasileiros

Os estudantes de Córdoba, de San Marcos, da UNAM, de El Alto, do Uruguai, enfrentaram a polícia e o exército para garantir sua autonomia, pelo co-governo, pelas cátedras livres. O MEC, agora, tenta por fim à pouca autonomia conquistada no Brasil, entregando o controle das instituições para as Fundações Privadas. A Une levantou na década de 60 a bandeira contra a transformação das universidades em fundações privadas, hoje a UNE/PCdoB apóia a institucionalização de sua existência nas universidades. Esta contra-reforma apresentada pelo governo aprofunda os acordos Mec-Usaid, barrados pelos estudantes, como via de aperfeiçoamento do controle da produção científica nacional.

Tentar passar este retrocesso como “reforma universitária” é pisotear nas históricas bandeiras dos estudantes, todas as medidas propostas e aplicadas, vão no sentido de perpetuar a dominação colonial em nosso país. Esta contra-reforma não representa avanço algum, pelo contrario é um retrocesso para a educação, para a ciência e para a nação. Institucionalizam o ensino privado, legalizam o papel das fundações nas universidades, dão dinheiro do povo aos grandes empresários da educação, e, tudo isso, embrulhado na demagogia do acesso fácil do PROUNI. Isto é um crime! É uma capa sofisticada para um conteúdo semifeudal.

Lutar contra a “reforma” é manter de pé a histórica bandeira de Córdoba e dos estudantes brasileiros de 68, defender o caráter público e gratuito de nossa universidade, conquistado com o suor e o sangue de nossos jovens, é nosso dever. Lutar contra o este projeto, bem como, levantar a bandeira da democratização das escolas e universidades, lutar pela verdadeira autonomia, desmascarar a farsa do governo, lutar por cátedras livres, lutar pelo verdadeiro co-governo estudantil. “Lutar, Lutar e Lutar!”

* Academicista: modelo das universidades coloniais correspondiam às universidades européias da Idade Média, que possuíam a pesquisa dissociada do ensino. Existiam institutos de pesquisa, como museus e jardins botânicos, isolados das faculdades, que por sua vez possuíam formação apenas de academias de carreira, como direito, anatomia, dentistas, letras, necessárias a atender apenas as demandas do mercado.

JEP/Teses

Tese – Dois Caminhos no Movimento Estudantil

por MEPR
Publicado em janeiro 1, 2005
24 minutos de leitura

UNE GOVERNISTA, INIMIGA DOS ESTUDANTES

Pela primeira vez, aqueles que há mais de 20 anos atuavam dentro do movimento popular propondo o caminho eleitoral para a transformação da sociedade concretizaram seus planos. Agora, com Luis Inácio no governo, PT e PCdoB, que controlam a tanto tempo o movimento popular, vão além dos pedidos de calma e paciência para o povo. Defendem descaradamente a repressão e o ataque aos direitos do povo, como o fazem com a contra-reforma na universidade. Nunca ficou tão escancarada a posição do movimento estudantil burguês, a Une. Um ano e meio em que o oportunismo assume o poder, Une e Ubes mostram como são agentes do ministério da educação nas escolas e universidades. Encabeçaram desde o início, a campanha do governo “pela reforma universitária já!”, através da chamada “Caravana Une pelo Brasil”. Durante meses a Une levou o MEC para as universidades para defender a contra-reforma do Banco Mundial. Na maioria das universidades, a Une foi expulsa e não conseguiu falar, tamanha a repulsa dos estudantes. Na UFMG, por exemplo, chegaram a sair fugidos, correndo (literalmente), expulsos pelos mais de 200 estudantes que em manifestação no dia da chamada caravana, gritavam em alto e bom som: Fora PCdoB da UFMG!

Os oportunistas vão se desmascarando, todas as lutas estudantis que se desenvolvem se dão por fora e contra a Une/Ubes. Estudantes universitários boicotam taxas nas universidades, fazem manifestações e resistem à contra-reforma universitária. Estudantes secundaristas tomam as ruas e radicalizam a luta pelo Passe Livre, como em Fortaleza, Florianópolis, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Une e Ubes são cada vez mais identificadas como inimigas dos estudantes. PT e PCdoB começam a ser expulsos das escolas e universidades com a perda de vários grêmios, DCEs e DAs. O rompimento com Une/Ubes se coloca ainda mais na ordem do dia para todos estudantes e organizações que pretendem desenvolver a verdadeira luta dentro das escolas e universidades, luta independente e combativa.

Logo quando da vitória da eleição de Lula, o presidente da Une declarou que o movimento estudantil deixaria de ser de resistência para ser de “proposição” ao governo “popular e democrático”. Para tentar convencer os estudantes, repetem mil vezes que são os continuadores do movimento estudantil de 1968, de Honestino Guimarães, Helenira Rezende e tantos outros revolucionários que dentro do movimento estudantil deram exemplo de rebeldia e espírito revolucionário. Com este discurso querem fazer todos acreditarem que os jovens revolucionários da década de 60 e 70 lutaram e morreram para que hoje o povo brasileiro pudesse votar e eleger Luis Inácio, e que a Une é a representação máxima dos estudantes.

No entanto ficar afirmando que a Une lutou no passado e que por isto hoje é legítima representante dos estudantes, não esconde que na prática é uma entidade governamental. É necessário que observemos a história para enxergarmos como se deu o desenvolvimento do movimento estudantil brasileiro e como a Une se transformou nesta entidade oficial e governista.

Histórico do Movimento Estudantil

Assim como no movimento operário e popular, temos no movimento estudantil dois caminhos de desenvolvimento: o revolucionário e o reformista. Produto das direções oportunistas e eleitoreiras, o caminho reformista predominou também no movimento estudantil. O auge do caminho revolucionário no M.E se deu no final dos anos 60 e início dos anos 70, quando toda uma geração de jovens se levantou no audacioso combate ao regime militar. Em que pese os erros e insuficiências, este foi o período de maior combatividade e de maior massividade do M.E brasileiro. Isto se deu exatamente porque foi neste momento que o movimento estudantil rompeu com as ilusões eleitorais e se dispôs a fundir-se com o povo na luta pela tomada do poder. O auge do caminho reformista se dá agora com a chegada do oportunismo ao controle do aparato central do Estado reacionário, concretizaram um projeto que se acumulavam há anos com traições, enganação e semeando muita ilusão eleitoral entre as massas. Estes caminhos sempre se enfrentaram e durante curtos momentos o revolucionário predominou. Desde o início dos anos 80 tem predominado o caminho reformista, sob a hegemonia do PCdoB. Mas, como diria o camarada Lenin, a vitória do oportunismo é sempre temporária, cedo ou tarde, com as crises inevitáveis do sistema capitalista, as massas se levantam contra suas velhas direções e retomam o caminho da luta combativa, é este momento que agora se abre!

Do período colonial aos anos inicias da “república”

Desde o período colonial, na luta pela independência do jugo português, os estudantes brasileiros participam ativamente da luta de classes de nosso país. Os jovens que estudavam na Europa foram fundamentais para dar o suporte teórico das Conjurações Mineira (1789) e Baiana (1796), trazendo para o Brasil a revolucionária influência do iluminismo e do racionalismo, das revoluções burguesas norte-americana e francesa. Durante o império, os estudantes se destacaram pela participação na luta contra a escravidão. Expressão desta atuação foi o jovem poeta baiano Castro Alves, que fez o curso de Direito em Pernambuco e na USP, que fez de seus versos os mais belos manifestos pela libertação dos escravos. A simpatia das massas estudantis com as lutas do povo pobre se evidencia com as manifestações de apoio a Canudos (1897), particularmente no manifesto dos universitários baianos, denunciando a barbárie e o genocídio perpetrado pelo Estado reacionário.

Da fundação do PCB ao golpe militar de 1964.

No entanto, uma maior politização e organização do movimento estudantil ocorrerá a partir da intervenção do Partido Comunista do Brasil (fundado em 1922) entre os jovens intelectuais. Em 1936 é fundada a União da Juventude Comunista, organização que será decisiva para diversas mobilizações estudantis, como as manifestações antifascistas e antiimperialistas, exigindo que o Brasil participasse na II Guerra contra o nazi-fascismo; os protestos contra o envio de tropas para a invasão ianque na Coréia; e a campanha antiimperialista pela nacionalização do petróleo, “O petróleo é nosso”. A UJC também foi decisiva para desatrelar a Une do Estado Novo, dando a ela um caráter mais combativo e uma direção proletária. Porém o reformismo que se instala na direção do PCB, principalmente nos anos 50 e 60, irá desviar o movimento estudantil para o caminho eleitoreiro e da conciliação de classes. O reformismo do PCB irá se expressar nos apoios aos chamados “governos do povo” de Getúlio e JK e a participação ativa na gestão de João Goulart. Esta postura governista e conciliadora desarmou o movimento estudantil, levando-o à paralisia e ao distanciamento da massa.

Da luta de resistência contra o regime militar fascista

A primeira contraposição a esquerda da direção reformista será a da Ação Popular, grupo oriundo da juventude católica que adere ao marxismo e propugna um projeto revolucionário de tomada do poder. A AP hegemonizará a direção da Une de 62 até 68, oscilará entre a posição revolucionária das manifestações contra a invasão ianque ao Vietnã e as posições governistas de conciliação com o presidente João Goulart. Apesar da posição combativa da AP, esta não terá fibra ideológica suficiente para contrapor mais profundamente o caminho reformista no movimento estudantil, pesava muito a herança do cristianismo. A ligação da Une com o governo Jango era intensa, a entidade chegava a participar da escolha do ministro da educação. Esta relação próxima, longe de tornar o governo mais democrático, tornou a Une ainda mais governista. O governismo da Une ficou patente na histórica “Greve do 1/3”, esta foi uma das maiores e mais importantes mobilizações dos estudantes pela democratização das universidades. Sua principal reivindicação era de que 1/3 dos conselhos universitários fossem compostos por estudantes (hoje, os estudantes representam cerca de 1/10 dos conselhos). O movimento se alastrou por todo o país e a greve paralisou praticamente todas as universidades federais. Esta reivindicação batia de frente com as orientações do imperialismo norte-americano para a educação brasileira, que mais tarde deveneria nos acordos MEC/USAID, que dentre outras coisas visava restringir a autonomia das universidades. O governo Jango estava irredutível nas negociações da greve, foi então que a direção da Une capitulou, sob a argumentação de que o movimento estava atiçando as “forças golpistas de direita”. Então a Une encerrou a maior greve estudantil da história de nosso país. Este episódio comprova a existência de ilusões com o governo demagógico/populsista de João Goulart e com o Estado burguês/latifundiário. Tanto que no dia do golpe, 1º de abril de 64, a Une lança um manifesto conclamando os militares a defenderem o governo ‘legítimo’ de João Goulart.

O golpe militar produzirá uma mudança significativa na direção do movimento estudantil. Jango não resistiu ao golpe e fugiu para o Uruguai, a constituição e o congresso “soberanos” foram ignorados, enfim mais uma vez a história comprovou que as instituições “democráticas” no capitalismo existem até quando lhe são úteis. As ilusões de mudar o país pela via eleitoral, os devaneios de que Jango era um governante popular, isto é, toda a justificativa política das posições reformistas ruíram em apenas um dia. É o início da ascensão de uma nova e revolucionária direção dentro do movimento estudantil. A posição dos estudantes se desenvolve rapidamente: primeiro lutas econômicas combativas, depois luta contra o regime militar, para então luta pelo poder.

A primeira luta importante se dará no ano de 66 contra os acordos MEC/USAID e posteriormente contra a lei Suplicy de Lacerda. Os acordos MEC/USAID foram firmados entre os militares e o governo ianque em 1965, o tratado radicalizava a intervenção do EUA na elaboração das políticas educacionais brasileiras. No segundo semestre de 66 a Une, mesmo na ilegalidade, dirige uma grande jornada de lutas contra os acordos, denunciando seu caráter vil e vende-pátria. Os militares, que sempre se apresentavam como nacionalistas, foram denunciados por crimes de subserviência colonial. O movimento foi tão intenso que obrigou o regime a recuar e a rever alguns pontos do acordo. Com esta derrota a ditadura aprendeu que não poderia implementar seus planos para a educação sem antes dar golpes mais duros na organização independente dos estudantes. Em 67 radicaliza-se a aplicação da lei Suplicy de Lacerda (nome do ministro da educação), que em 64 colocara a Une na ilegalidade. São destituídas as direções dos principais centros acadêmicos e são convocadas eleições antecipadas. Os revolucionários boicotaram este engendro dos milicos e posteriormente organizaram eleições paralelas. Em contraposição aos diretórios da ditadura foram criados os chamados CA’s livres, que não eram reconhecidos oficialmente, tinham suas sedes fora da universidade, mas representavam seguramente a liderança da massa estudantil. Mesmo sob estas difíceis condições, os revolucionários souberam se organizar, a repressão e a violência do regime aumentavam. Porém já começava a gestar a rebelião do povo, eram os preparativos para os grandes embates de 68.

No ano de 1968 ocorreu a maior rebelião estudantil da história do Brasil. É o ano em que os secundaristas se engajam com mais vigor, trazendo para os protestos sua ousadia e audácia. No dia 28 de março, estudantes que almoçavam no refeitório estudantil Calabouço, que funcionava no centro do Rio, iniciam um protesto contra o aumento da refeição. A polícia intervêm e invade o refeitório, os estudantes reagem com paus, pedras, pratos e talheres, a tropa começa a atirar contra os estudantes e o secundarista Edson Luís, paraense, de 18 anos, é ferido fatalmente. Dá-se então uma dura batalha pelo corpo do estudante assassinado, a massa consegue resgatá-lo e levam-no para a Assembléia Legislativa. Acompanharam o enterro no dia seguinte mais de 50 mil pessoas. Por todo o país estouram mobilizações em repúdio ao assassinato. Em Goiânia, outro estudante é morto pela polícia. Daí por diante estudantes e regime se baterão abertamente nas passeatas. A massa organiza barricadas e uma grande artilharia composta de pedras, vasos e paus surge do alto dos prédios. Em junho ocorre a histórica manifestação dos cem mil, cuja principal consigna era “Abaixo a ditadura!”. O general Costa e Silva recebe uma comissão de estudantes, mas encerra a reunião se considerando desacatado. Em outubro é realizado clandestinamente o Congresso da Une em Ibiúna-SP. O regime descobre o encontro e prende mais de 1000 estudantes. Estavam nas mãos do Exército as principais lideranças do movimento estudantil brasileiro. Foi um grande golpe. Em dezembro é editado o Ato Institucional número 5, que legaliza as arbitrariedades e a tortura. Junto dele veio o famigerado Decreto-lei 477, que permitia a expulsão de militantes do movimento estudantil das universidades. A maioria dos dirigentes presos em Ibiúna foi expulsa de suas faculdades. O regime militar tentava pôr fim ao movimento que não conseguira deter em 64 e 67 com a lei Suplicy de Lacerda.

As manifestações de 68 representaram um grande desenvolvimento das lutas de 66 contra o acordo MEC/USAID. O que se planteava agora era “Abaixo a ditadura, povo no poder!”. Os estudantes foram para as ruas com este propósito e fizeram estremecer o regime. Ao longo das lutas as massas ganharam grande experiência nos enfrentamentos com a polícia e claramente os estudantes levavam a vantagem. Mas era ilusão querer derrubar a ditadura com manifestações de rua, esta expectativa conduziu o movimento a erros importantes: desligamento dos estudantes com as massas camponesas e operárias (que apoiavam a luta, mas ainda não participavam) e a crença na vitória rápida e de um só golpe. A concepção de achar que se estava perto da tomada do poder descolou o movimento da massa de estudantes. Outro erro desta concepção foi o descuido com as questões de autodefesa do movimento, subestimou-se a fascitização do regime. O movimento estudantil havia “desafiado o imperador” e era preciso estar preparado para a rebordosa. A queda do congresso de Ibiúna mostra que o movimento não havia se preparado o suficiente para os momentos mais duros da luta.

Não há dúvida que o aspecto principal das lutas de 68 é o positivo. A politização e a combatividade dos estudantes atingiram o patamar mais elevado, isto produziu uma riquíssima geração de revolucionários, de valorosos e destemidos jovens que se dispuseram a pegar em armas para fazer a revolução em nosso país. Milhares de estudantes foram para a luta armada e impuseram uma resistência heróica aos facínoras. Mas aqui também encontraremos as ilusões da possibilidade de derrubar a ditadura rapidamente. Esta concepção dizia que bastava um pequeno grupo iniciar a revolução que a massa os seguiria. Isto descolou os revolucionários do povo e consistiu no principal erro da luta armada neste período. A experiência mais avançada foi a da guerrilha do Araguaia, da qual participaram dezenas de militantes oriundos do movimento estudantil. Esta foi a primeira tentativa de iniciar a Guerra Popular no Brasil. A estratégia do PCdoB previa que seria um combate prolongado e que para ser vitorioso era fundamental a ligação com as massas. No entanto, esta experiência não escapou das influências das idéias e concepções em voga, se concentrou em uma região aonde não existia nenhuma experiência política das massas, houve pouco trabalho político entre o povo da região e acreditou-se que poderia se vencer os sucessivos cercos do inimigo.

Da luta popular pela derrubada do regime militar fascista à Lei da Anistia.

A partir de 76, praticamente todas as organizações que dirigiram a luta armada estavam desmanteladas. O regime militar conseguira aniquilar a direção do processo. Foram assassinados Pedro Pomar e Maurício Grabois do PCdoB, Manoel Lisboa e Emmanoel Bezerra do PCR, Carlos Marighela e Joaquimm Câmara da ALN, Carlos Lamarca do MR 8 e Mário Alves do PCBR e muitos outros dirigentes. Esta derrota temporária do caminho revolucionário em nosso país irá repercutir diretamente no movimento estudantil. Com o extermínio dos principais líderes revolucionários, o que sobrou de suas organizações abandona o caminho da revolução. Ao invés de se realizar um balanço para se descobrir os erros e prosseguir na senda revolucionária, as principais organizações optaram por depor as armas. A lei de anistia representou o acordo de capitulação dos guerrilheiros arrependidos, que aceitavam ser colocados na mesma condição dos torturadores e gendarmes do Estado e se preparavam para integrar-se ao sistema, reingressar na chamada “vida política nacional”, leia-se voltar a participar de eleições. O abandono do caminho revolucionário culminará na campanha pelas “Diretas já” em 1984. Era o retorno às ilusões reformistas de mudanças na vida do povo através das eleições.

No final dos anos 70 as massas oprimidas davam mostras de sua disposição de luta. Estouram greves operárias em São Bernardo e em Belo Horizonte, barricadas são levantadas, inúmeras fábricas ficam paradas. Na greve da Mannesman em BH os operários além da reivindicação salarial exigiam a libertação dos presos políticos. Vivia-se um auge do movimento de massas, porém faltou uma direção a altura que desse a estas enormes mobilizações uma perspectiva revolucionária. No movimento estudantil também vivemos este auge, inicia-se um massivo movimento de reconstrução das entidades de base e nacionais. Em 79 realiza-se em Salvador o congresso de reconstrução da Une, este congresso foi fruto de intenso trabalho de base e de derrubada das velhas direções dos centros e diretórios acadêmicos ligados ao regime. Em Juiz de Fora, Minas Gerais, uma manifestação de 5000 estudantes derruba a antiga diretoria do DCE da UFJF e assim foi por todo o país. Este importante processo estava marcado pelo ódio à ditadura que emanava dos estudantes. O centro das reivindicações era a exigência de liberdades democráticas, o que estava correto porque expressava o sentimento de toda a massa. No entanto, a luta por liberdades democráticas não consiste em um objetivo final e sim um meio para que se possa desenvolver melhor a luta popular pela a tomada do poder. Já nas eleições de 80 praticamente todas as correntes do movimento estudantil estavam envolvidas no processo eleitoral. Um grande retrocesso, pois desde 67 as organizações estudantis vinham organizando as campanhas pelo “Voto nulo!”.

A Une se transformou em um símbolo de paralisia, burocratismo e peleguismo.

O engajamento no processo eleitoral, ainda sob o regime militar, expressa o abandono completo do caminho revolucionário no movimento estudantil. Todas as lutas neste período estarão dentro da estratégia oportunista de acumular eleitoralmente. Nos anos 80 as principais forças no movimento estudantil serão MR 8, PCdoB e PT. Desde 1984 o Pecedobê consegue garantir a hegemonia na diretoria da Une, o que levará a um crescente aparelhismo e burocratismo da entidade. Os congressos foram piorando ano a ano, deixando de ser um espaço sério para discussão política para ser uma grande festa alienada; a disputa das correntes deixaram de ser por posições políticas para ser cada vez mais por cargos na entidade. O Congresso da Une de 1986 marca a radicalização do aparelhismo desta entidade, que entra num caminho sem volta de oportunismo e peleguismo. Neste Congresso o Pecedobê é derrotado na questão da eleição para a nova diretoria, que deixa de ser congressual para ser direta. As eleições ocorrem e o Pecedobê frauda descaradamente, o roubo é descoberto e denunciado. O MR 8 propõe a construção de uma nova Une, mas o PT fecha um acordo com o Pecedobê e valida, em troco de cargos, as eleições fraudadas. É o início da aliança (PT e PCdoB) no movimento estudantil, que vigora até hoje no controle de Une e Ubes.

Década de 90: do movimento dos “cara pintadas” ao “Fora FHC!”

O chamado “Fora Collor” marcou o estilo oportunista de fazer movimento estudantil e foi a base de toda a atuação de Une e Ubes durante os anos 90. Este foi um movimento gestado pela mídia e que interessava a vários setores das classes dominantes e do imperialismo. A roubalheira perpetrada por Fernando Collor colocava em risco a aplicação das políticas imperialistas de privatização das empresas estatais e de reestruturação do Estado reacionário. Tirá-lo passou a ser um problema chave para a grande burguesia. Não é a toa que a Rede Globo, que tanto investiu na eleição de Collor para presidente, mudou de posição e se solidarizou com o movimento dos “caras pintadas”. Além disto, o “Fora Collor” foi utilizado para “demonstrar” que realmente vivemos em uma democracia, pois “quem elege pode destituir”. Esta ilusão difundida pelo oportunismo busca reforçar no povo a consciência atrasada de acreditar nas eleições como forma de mudança.

O “Fora Collor” moldou o velho movimento estudantil tanto em seu conteúdo como em sua forma. Durante os oito anos de gerência FHC os oportunistas tentaram reeditar este movimento. Em conseqüência disto, a década de 90 foi uma década de enormes derrotas para os estudantes. As lutas concretas contra a privatização das universidades e contra o fim do ensino técnico foram substituídas pelo esquálido e pacífico “Fora FHC”. Em nenhum país da América Latina a reforma educacional do Banco Mundial foi levada tão a fundo como no Brasil. Em nenhum país da América Latina houve tão pouca resistência contra estas reformas. Enquanto na Venezuela, Uruguai, Chile e Equador os estudantes ocupavam escolas e universidades, faziam greves, entravam em confronto com a polícia contra a reforma do ensino técnico e universitária, aqui no Brasil a Une acumulava para a estratégia de eleger Lula presidente. Apostaram tudo na saída eleitoral, na mudança de gestor para solucionar os problemas da educação e do povo.

Com a vitória de Luis Inácio nas eleições de 2002, Une e Ubes deixam de ser apenas estruturas burocráticas, pelegas e reformistas para serem também órgãos oficiais e institucionais do novo governo, numa política de traição aberta aos estudantes. Para os oportunistas esta é uma grande conquista, a todo instante se gabam de reunirem periodicamente com o Ministro da Educação, se transformaram em orgulhosos representantes do MEC e do Estado reacionário. Hoje a pauta da Une é ditada pelo governo, centram suas forças na concretização da “reforma universitária”, que não passa de mais uma contra-reforma do governo Lula definida pelo FMI. Exatamente como na reforma da previdência, o governo e os oportunistas dizem que as mudanças serão boas, acenam com propostas progressistas, mas na prática aplicam os planos de privatizar a universidade. E Une e Ubes cumprem o vil papel de justificar todas as ações do governo. É claro que farão críticas pontuais como demagogia para na essência apoiar todas as medidas do governo. Esta decadente tarefa revela para as amplas massas estudantis de que material são feitos estes oportunistas, não resta mais dúvidas da ideologia traidora destes pelegos. O que aparenta ser uma grande vitória para PT e Pecedobê é na verdade uma grande derrota. Estamos assistindo a falência do oportunismo no movimento estudantil, estas velhas direções não são referência de luta para mais nenhum estudante. Este é o momento mais propício para o combate e denúncia da traição dos pelegos. Há anos afirmamos que os oportunistas são inimigos do povo, há anos anunciávamos que as eleições nada mudariam na vida de miséria de nosso povo, agora vemos a confirmação cabal de nossas teses.

Romper com a Une: condição primeira para o desenvolvimento da luta e do movimento estudantil.

Para aqueles que querem construir um movimento estudantil combativo e independente, a questão que se coloca hoje é mais do que nunca a de participar ou não das organizações estatais, Une/Ubes. Por mais que mantenham na aparência alguma massividade, estas entidades não representam nenhum interesse do povo. É com a referência no histórico que descrevemos e na falência destas entidades, que vemos a necessidade peremptória da ruptura com o oportunismo no movimento estudantil. Une e Ubes são governo, são abertamente inimigas dos estudantes, não podem andar ao lado ou em conjunto com os que querem desenvolver um verdadeiro movimento estudantil de luta.

É fácil enxergar esta necessidade, por exemplo, na luta contra a “reforma” universitária. Se a Une está numa assembléia sobre a “reforma” universitária, temos que ficar discutindo se é justo ou não lutar contra a privatização da universidade. Isto é perda do tempo que poderíamos utilizar para discutir as estratégias da nossa luta. Devemos garantir a independência do movimento estudantil. Os estudantes comprometidos com a luta não podem cair na choramingação do PCdoB, que pede unidade do movimento. O que querem no fundo é a unidade dos estudantes com seus algozes, os que pisam sobre os direitos do povo, os que privatizam a universidade, os que vendem a alma para garantir cargos e o poder das classes dominantes em nosso país. Não pode existir unidade com a Une, com governo algum deste Estado de grandes burgueses e latifundiários serviçais do imperialismo.

Ninguém mais pode ter a ilusão de que existe disputa dentro de Une/Ubes. O problema destas entidades não está simplesmente nas suas direções, mas em toda estrutura burocratizada em que se transformaram nos últimos anos. Existem para tentar conter e controlar o movimento estudantil, manter os estudantes dóceis e alienados. Não existe debate político dentro destas entidades. Seus congressos são um jogo de cartas marcadas, onde as resoluções já estão previamente decididas por estes partidos governistas. Enquanto a cúpula de governistas garante todas as diretivas e cargos da entidade dentro da linha do governo, colocam os estudantes para participarem de algo parecido com mega-shows ou grandes feirinhas. Vale tudo para garantir o controle destas entidades: burlar, falsificar, fraudar. Participar destas estruturas significa legitimar a ação governamental no movimento estudantil e um verdadeiro atraso na luta dos estudantes. Se aliar com estas entidades significa aliar com o governo e isto levaria necessariamente à derrota o movimento estudantil brasileiro.

“A unidade com os oportunistas significa presentemente de fato a subordinação da classe operária à ‘sua’ burguesia nacional” (O socialismo e a guerra, Lênin)

Estar dentro da Une, mesmo na condição de “oposição”, é fazer unidade com o oportunismo, pois esta “oposição política” nada mais é que a legitimação do oportunismo. Por mais que falemos que não concordamos com a “maioria” da diretoria, isto é, o Pecedobê, apontamos aos estudantes a referência da luta estudantil sendo um organismo dirigido por traidores. Pecedobê e PT se aliaram para sempre com as classes dominantes e com o imperialismo, unir-se com eles na Une é estar unido com a burguesia. Seu antiimperialismo é ser contra o Estados Unidos e a favor da União Européia, da Rússia e da China. As forças que apregoam a unidade com o oportunismo e são contra a ruptura com a Une, ainda alimentam ilusões com setores do PT e do Pecedobê e mesmo de que o governo Lula fará algumas mudanças democráticas. É preciso combater estas ilusões.

Existem aqueles que dizem que é incorreto sair da Une porque é sob a direção da Une que estão as amplas massas estudantis. No texto “O imperialismo e a cisão do socialismo”, Lênin faz uma profunda análise sobre a relação da ruptura com o oportunismo e o distanciamento das massas: “Um dos sofismas mais difundidos pelo kautitskismo é a referência às massas. Nós, dizem eles, não queremos cortar-nos das massas e das organizações de massas!”. Realizar congressos e passeatas com milhares de estudantes não representa necessariamente massividade, massas e multidão são duas coisas distintas. A Une representa somente uma aparência de movimento, o que está na superfície. “Engels distingue do partido operário burguês as velhas trade unions, da minoria privilegiada, a ‘massa inferior`, a maioria real, apela para ela, não contaminada pela ‘respeitabilidade burguesa”. É isto que devemos distinguir, as velhas entidades das amplas massas estudantis, que não estão dirigidas pelo oportunismo. Estas são a maioria e é para estas que os revolucionários devem apelar.

Não pode ser um impeditivo da ruptura com a Une o cálculo se a posição combativa ficará com a maioria. “Não podemos e ninguém pode calcular qual é precisamente a parte do proletariado que segue e seguirá os sociais chauvinistas e oportunistas. Isto só a luta o mostrará, só a revolução socialista o resolverá definitivamente.” Os bolcheviques durante quase todo o processo revolucionário foram minoria nas organizações de massa e isto não impediu que fizessem a revolução. Justamente porque eles aplicam a “única tática marxista”, romperam com o oportunismo, pois tinham a certeza que eles: “representam apenas uma minoria” e que: “o nosso dever, se queremos permanecer socialistas, é ir mais baixo e mais fundo, para as verdadeiras massas: nisto consiste toda a importância na luta contra o oportunismo e todo o conteúdo desta luta. Desmascarando que os oportunistas e sociais-chauvinistas traem e vendem de fato os interesses das massas, que eles defendem os privilégios temporários de uma minoria privilegiada de operários, que eles propagam as idéias e influência burguesa, que eles são de fato aliados e agentes da burguesia – ensinamos deste modo as massas a identificar os seus reais interesses políticos, a lutar pelo socialismo e pela revolução através de todas as peripécias, longas e dolorosas, das guerras imperialistas e dos armistícios”.

“Explicar às massas a inevitabilidade e a necessidade da cisão com o oportunismo, educá-las para uma luta revolucionária implacável contra ele, ter em conta a experiência da guerra para revelar todas as infâmias da política operária nacional-liberal. E não para as ocultar, tal é a única tática marxista para o movimento operário no mundo.” Devemos levar bastante a sério estes ensinamentos. Nem ilusão, nem aliança com o oportunismo. Ao contrário combatê-los de forma inseparável do combate ao imperialismo e a toda a reação.

Romper com a Une é o primeiro passo para garantirmos a unidade revolucionária dos estudantes, pois só é possível a unidade com a luta e a Une é mais do que nunca uma entidade governista. É ilusão achar que poderemos derrubar as direções de PT/Pecedobê no movimento estudantil por dentro da Une sem se contaminar pela mesma moléstia. Se antes de serem governo o seu aparelhismo já era enorme, agora com a máquina estatal nas mãos é que não sairão mesmo de seus “lugarzinhos rendosos”. Romper com a Une representará o isolamento para as forças governistas. Estarão sós e não poderão mais falar por todos os estudantes. A ruptura coma Une representará um impulsionamento das lutas estudantis.

Alguns companheiros ainda pensam que romper com a Une representaria deixar para o Pecedobê e o PT uma entidade com um passado de grandes lutas. Romper com a Une não significa negar este passado, mas sim resgatá-lo. Um passado de luta e heroísmo não pode se restringir a uma sigla; da mesma forma que o Pecedobê de hoje não tem nenhum vestígio sequer do PCdoB do Araguaia, a Une de hoje não é mais a entidade combativa e massiva que foi nos anos 60 e 70. Se queremos herdar o passado das lutas dos combativos estudantes brasileiros, devemos é mirar em seus exemplos. Representam os jovens da década de 60 aqueles que mantêm seus ideais, ou seja, a revolução brasileira. A Une de hoje é a negação deste passado. Para os estudantes a Une, longe de significar um passado de luta, representa uma máquina burocrática falida, que agora foi reduzida a uma mera delegacia do Ministério da Educação.

É por toda esta situação que convocamos todos os estudantes a não só romper, como também expulsar das escolas e universidades brasileiras esta entidade burguesa e governamental. Não aceitamos a interferência do governo e do Estado dentro do movimento estudantil. Sua bancarrota começa, mas é necessário que atuemos ativamente na sua derrubada, ela não cairá sozinha.

A derrota do Pecedobê e do PT em várias eleições de grêmios, DAs e DCEs nos apontam que são grandes as perspectivas. A Une e seus mantenedores são conhecidos cada vez mais como inimigos dos estudantes. Esta é a condição primeira para conduzirmos novamente o movimento estudantil brasileiro para o caminho da luta do povo e transformação revolucionária do nosso país.

JEP/Teses

Drogas: Por quê somos contra?

por MEPR
Publicado em maio 2, 2004
3 minutos de leitura

Todos sabemos o quanto o uso de drogas é destruidor para os seres humanos do ponto de vista da saúde física e mental e da vida familiar. A sociedade capitalista facilita é estimula a utilização de drogas e doálcool por duas razões: a primeira é por ser um lucrativo negócio onde se lucra bilhões de dólares; a segunda é que a droga e o alcoolismo são instrumentos eficientes para afastar a juventude e o povo da compreensão real dos seus problemas, tornando-as apáticas e descrentes, facilitando a exploração e a dominação.

Os incentivadores do uso de drogas usam argumentos caducos para justificar o consumo. Dizem: “a maconha faz menos mal que o álcool” ou “as pessoas necessitam fugir”. É verdade que o imperialismo é um sistema completamente desigual, explorador e opressor e traz para a maioria dos jovens a fome, miséria, prostituição, desemprego, repressão policial, e etc. etc, etc… Porém não é com as drogas que se pode acabar com esses problemas, pois ao utilizar as drogas, nada do que o levou a utilizá-las muda favoravelmente. Se alguma coisa mudar é para pior, pois na vida real quem consome drogas, consegue na verdade, de forma mais definitiva, é mais pobreza econômica, mais danos físicos e, sobretudo mais dependência e opressão em todos os sentidos.

Consideramos que diante dessa situação catastrófica que hoje vivem os jovens, o caminho não está na busca de fuga artificial da realidade, nem no que causa menor dano físico. Por acaso já não é suficiente os danos que recebemos cotidianamente do sistema social em que vivemos?

Consideramos que o caminho a ser seguido pela juventude é o da construção dos instrumentos sociais e políticos que nos façam verdadeiramente fortes para transformar a realidade social na qual hoje sobrevivemos em uma realidade na qual realmente possamos viver. Lamentavelmente existem companheiros do movimento popular que defendem politicamente o comércio e o consumo de drogas pretendendo associá-los à rebeldia dos jovens e à luta por transformações sociais.

Nós não conhecemos na história nenhuma experiência avançada que diz respeito à transformação social associada ao uso de drogas. Pelo contrário, o que vimos em todos processos revolucionários foi a luta contra as drogas, como foi a luta dos bolcheviques contra o alcoolismo no processo da Revolução Proletária no início do século XX. Nos nossos vizinhos países produtores, ou melhor dito e mais especificamente, cultivadores da matéria prima para a produção de diversas drogas, o papel dos narcotraficantes é nefasto e reacionário sob todos os pontos de vista: super-exploração desumana dos camponeses, colaboração com exércitos “nacionais” e tropas ianques na sua desigual luta contra as organizações guerrilheiras do povo, e a pérola: financiamento de campanhas eleitorais de partidos da oligarquia pró-imperialista; como ficou amplamente demonstrado com o caso Samper da Colômbia.

Façamos agora a velha pergunta de Lenin: A quem beneficia? A resposta salta à vista de quem quer ver, pois o narcotráfico é o segundo “negócio” em nível mundial, quer dizer, o que mais dinheiro move depois do tráfico de armas. Os EUA são os principais produtores de maconha em nível mundial. E a DEA (organização norte-americana de repressão ao tráfico de drogas) não o vê? Não, a DEA nos EUA não vê nada, o FBI tampouco, a CIA tampouco, nem Rambo, nem o Vingador do Futuro. Definitivamente. O que querem os imperialistas ianques é fustigar, em alguma medida a concorrência latino-americana quando esta saí das “regras do jogo” e, em grande medida, intervir nos assuntos internos de nossos países e “colaborar” nas atividades contra-revolucionárias com o pretexto da “luta contra o narcotráfico”.

O consumo e o tráfico de drogas são uma engrenagem do sistema imperialista para manter o sistema de exploração e opressão. As drogas são um grande negócio econômico, ideológico e político para as classes dominantes e o imperialismo na tentativa de impedir a revolução popular dos povos oprimidos do mundo inteiro.

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Somente um novo movimento estudantil, popular e revolucionário pode impulsionar as massas estudantis para servir ao povo, servir aos interesses de nosso país e à humanidade, através do único caminho possível: o de mobilizar-se para a revolução, pela transformação completa de nossa sociedade, pela destruição de todo este sistema apodrecido, de exploração, miséria e opressão e pela construção de um novo poder de nova democracia que marche ininterruptamente para So socialismo, o poder das massas populares, baseado na aliança da classe operária com os camponeses pobres.

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