Nota: Disponibilizamos o livro na integra da editora Avante, um dos documentos mais importantes no qual expressa de forma clara e concisa as ideias centrais do marxismo. Bons estudos.
Nota: Disponibilizamos o livro na integra da editora Avante, um dos documentos mais importantes no qual expressa de forma clara e concisa as ideias centrais do marxismo. Bons estudos.
Mao Tsetung – 1945
O nosso Congresso foi um grande sucesso. Realizamos três pontos importantes. Primeiro, definimos a linha do Partido: mobilizar sem reservas as massas, expandir as forças populares de modo que, sob a direção do Partido, vençam os agressores japoneses, libertem todo o povo e fundem uma China de democracia nova. Segundo, aprovamos o novo Estatuto do Partido. Terceiro, elegemos o órgão dirigente do Partido, o Comitê Central. Agora, a nossa tarefa consiste em guiar a totalidade do Partido na realização da linha definida. O nosso Congresso foi um congresso de vitória, um congresso de unidade. Os delegados expressaram opiniões muito úteis sobre os três relatórios apresentados. Muitos camaradas procederam a uma autocrítica; aspirando à unidade, conseguiu-se a unidade pela autocrítica. O Congresso foi um modelo de unidade, de autocrítica e democracia no interior do Partido.
Terminados os trabalhos, muitos dos nossos camaradas retornarão aos seus postos ou dirigir-se-ão para as distintas frentes de combate. Para onde quer que vão, os camaradas devem propagar a linha do Congresso e, por intermédio dos membros do Partido, realizar um grande trabalho de explicação entre as massas populares.
Dando a conhecer essa linha, o nosso objetivo é dar a todo o Partido e a todo o povo a certeza do triunfo da revolução. E preciso, em primeiro lugar, elevar a consciência política dos elementos de vanguarda, fazer com que sejam resolutos, não temam sacrifícios, vençam todas as dificuldades, tudo para a vitória. Mas isso não chega; é preciso ainda que as grandes massas do nosso país ganhem consciência política, a fim de que combatam de boa vontade ao nosso lado pela conquista da vitória. É preciso que a totalidade do povo esteja convicta de que a China pertence ao povo chinês e não aos reacionários. Na China antiga contava-se uma fábula intitulada “Como Yukong Removeu as Montanhas”. Nessa fábula dizia-se que, em tempos que já lá vão, vivia na China Setentrional um velho chamado Yukong das Montanhas do Norte. Frente à sua casa, havia, no lado sul, duas grandes montanhas, Taiham e Van-vu, que lhe impediam a passagem. Dirigindo os seus filhos, Yukong decidiu-se a arrasar tais montanhas, a golpes de picareta. Vendo-os nesse trabalho, um outro velho, Tchi-sou, desatou a rir e disse-lhes:
“Que tolice! sozinhos, vocês nunca conseguirão arrasar essas duas montanhas!”,
ao que Yukong respondeu:
“Quando eu morrer, ficarão os meus filhos; quando por sua vez eles morrerem, ficarão os meus netos, e assim se sucederão, infinitamente, as gerações. Quanto a estas duas montanhas, são muito altas mas já não podem crescer e, a cada golpe de picareta, tornam-se cada vez mais pequenas. Por que razão pois não acabaremos por arrasá-las?”
Refutados os pontos de vista errados de Tchi-sou, Yukong continuou, inabalável, a escavar dia após dia, o que comoveu os Céus que enviaram então dois anjos à Terra, para que carregassem às costas as duas montanhas(1). Hoje, há também duas grandes montanhas que pesam sobre o povo chinês: uma é o imperialismo e a outra, o feudalismo. Desde há muito que o Partido Comunista da China se decidiu a arrasá-las. Precisamos ser perseverantes e trabalhar sem descanso, pois também podemos chegar a comover os Céus. Para nós, os Céus não são senão as massas do povo chinês. Se elas se levantam em peso para escavar conosco, por que razão não haveríamos de acabar com essas duas montanhas?
Eis o que eu disse, ontem, a dois norte-americanos que partiam para os Estados Unidos: o governo norte-americano quer sabotar-nos e nós não permitiremos que o faça. Nós opomo-nos à sua política de apoio a Tchiang Kai-chek contra o Partido Comunista da China. Não obstante, fazemos uma distinção, primeiro, entre o povo norte-americano e o governo norte-americano e, segundo, no seio da própria administração, entre aqueles que determinam a política e aqueles que são simples subordinados. E ainda acrescentei, aos norte-americanos: digam, aos que determinam a política no vosso governo, que lhes está proibido o acesso às nossas regiões libertadas porque a política norte-americana é de apoio a Tchiang Kai-chek contra o Partido Comunista da China, e nós desconfiamos deles. Podem vir até cá desde que seja para combater os japoneses, mas, para isso, é necessário primeiro um acordo. Não permitiremos que bisbilhotem por toda a parte. Uma vez que Patrick J. Hurley se pronunciou publicamente contra toda a colaboração com o Partido Comunista da China(2), por que motivo pois haveriam de vir pavonear-se pelas nossas zonas libertadas?
A política do governo norte-americano de apoio a Tchiang Kai-chek contra o Partido Comunista é uma prova da demência da reação norte-americana. Mas os intentos de todos os reacionários chineses e estrangeiros no sentido de levantar obstáculos à vitória do nosso povo estão condenados ao fracasso. No mundo de hoje, a democracia constitui a corrente principal e a reação, que é antidemocrática, constitui apenas uma contracorrente. Agora, a contracorrente reacionária tenta superar a corrente principal de independência nacional e democracia popular, mas jamais conseguirá transformar-se em corrente principal. As três grandes contradições do velho mundo, sublinhadas há muito por Stalin, subsistem ainda hoje: a primeira é a que existe, nos países imperialistas, entre o proletariado e a burguesia; a segunda é a que existe entre as diferentes potências imperialistas; a terceira, enfim, é a que opõe os povos das colônias e semi-colônias às metrópoles imperialistas(3). Essas três contradições subsistem, tornaram-se até mais agudas e de maior amplitude. A contracorrente antissoviética, anticomunista e antidemocrática, que existe atualmente, será um dia vencida, exatamente porque subsistem e se desenvolvem essas três contradições.
Neste momento realizam-se dois congressos na China: o VI Congresso Nacional do Kuomintang e o VII Congresso do Partido Comunista da China. Os seus objetivos são radicalmente opostos: para um, trata-se de destruir o Partido Comunista e as forças democráticas da China e precipitar nas trevas o país; para o outro, trata-se de abater o imperialismo japonês e os seus lacaios, as forças feudais chinesas, edificar uma China de democracia nova e conduzir o país para a luz. Essas duas linhas combatem-se uma à outra. Nós estamos firmemente convencidos de que, guiado pelo Partido Comunista da China e pela linha traçada pelo VII Congresso do Partido, o nosso povo há de alcançar a vitória completa, e a linha contrarrevolucionária do Kuomintang inevitavelmente fracassará.
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1) Ver Letse.
(2) Patrick J. Hurley, politiqueiro reacionário do Partido Republicano dos Estados Unidos, nomeado, no final do ano de 1944, embaixador dos Estados Unidos na China. Como o apoio que dava à política anticomunista de Tchiang Kai-chek suscitou a oposição resoluta do povo chinês, viu-se obrigado a abandonar o cargo em Novembro de 1945. A sua declaração pública contra a colaboração com o Partido Comunista da China foi feita em 2 de Abril de 1945, em Washington, por ocasião duma conferência de imprensa do Departamento de Estado. Para mais detalhes consultar, no presente tomo, “O Duo Hurley-Tchiang Kai-chek Foi um Fiasco”.
(3) Ver J. V. Stalin: “Fundamentos do Leninismo”, parte I, “As Raízes Históricas do Leninismo”.
Nos últimos dias 4, 5 e 6 de março no Rio de Janeiro, cerca de 30 estudantes militantes do MEPR realizaram vitorioso encontro regional no estado do Rio de Janeiro.
O encontro começou com a primeira mesa de manhã do dia 5 manhã sobre situação política internacional, movimento comunista internacional, e particularmente a agressão do imperialismo russo à Ucrânia e a crise geral do imperialismo. Um companheiro da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo (FRDDP) realizou uma exposição para os militantes do MEPR sobre a situação política nacional dando ênfase no papel da juventude combatente nas batalhas vindouras em meio às crises políticas, econômicas e morais do velho Estado brasileiro, falou sobre as jornadas de 2013 e sobre o papel decisivo da juventude em desmascarar a farsa eleitoral. Logo em seguida foi intervalo para a janta, e período de ensaio para os grupos de militantes que apresentariam uma esquete sobre lutas importantes do povo brasileiro, como a Batalha de Corumbiara (1995), o rompimento do Movimento Estudantil Revolucionário apresentando a tese rebelião no congresso da UNE em 1997, a Guerrilha do Araguaia e as Jornadas de Junho de 2013.
No segundo dia a mesa debateu o papel da luta em defesa das universidades públicas contra a EaD e o ensino híbrido, e a importância da participação e da atuação da juventude revolucionária no seio das lutas das massas estudantis nas escolas e universidades.
No último dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher Proletária, na cidade de Niterói-RJ, militantes do MEPR realizaram atividade de pichação com a consigna “Despertar a Fúria Revolucionária da Mulher”. As pichações foram feitas no centro da cidade.
Publicado por AND 06/03/2022. Texto de: Fausto Arruda | Mário Lúcio de Paula
Publicamos em nosso portal o presente texto por ocasião do dia internacional da mulher proletária e pela data de nascimento da grande dirigente revolucionária Sandra Lima, que em 2022 completaria 67 anos.
Citando Sema Tsien, escritor da China antiga, Mao Tsetung assinalou que embora a morte colha a todos igualmente, a morte de alguns tem mais peso que o monte Tai, enquanto que a de outras pesa menos que uma pena. Morrer pelos interesses do povo tem mais peso que o monte Tai, mas empenhar-se ao serviço dos fascistas e morrer pelos exploradores e opressores do povo pesa menos que uma pena (Servir ao povo, 8 de setembro de 1944).
Sandra Lima empunha orgulhosa a bandeira do MEPR junto aos jovens ativistas que forjou.
Na noite de 26 de agosto, cumpriu-se um mês do falecimento da companheira Sandra Lima. Em seus funerais, no dia 27 de julho passado, a intervenção da Frente Revolucionaria de Defesa dos Direitos do Povo(FRDDP), organização que Sandra foi uma das fundadoras e dirigentes, impactou todos profundamente. Em suas palavras finais, o dirigente da FRDDP conclamou todos “aqueles que conviveram e que a conheceram, que a conhecessem mais, conhecessem mais as suas ideias, que conhecessem mais da sua causa, que conhecessem mais essa grande mulher”.
À sua inolvidável memória e trajetória de militante revolucionária dedicamos as nossas duas últimas edições e também a atual. Tivemos a oportunidade de desfrutar da casualidade histórica de o AND — desde seu surgimento e durante seus primeiros 15 anos — poder contar com a companheira como colaboradora e propagandista, e de poder, com ela, participar de debates e lutas, além de absorver um pouco de sua experiência acumulada ao longo de mais de quatro décadas dedicadas à luta dos povos brasileiro e de todos os países.
E foi com grande honra que recebemos o convite para o ato em sua homenagem organizado pelo Movimento Feminino Popular (MFP), realizado no último dia 26 de agosto, em Belo Horizonte (MG).
No salão repleto da Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves, a bandeira vermelha do MFP se destacava sobre a mesa ornamentada com flores vermelhas e amarelas. Faixas com consignas revolucionárias e o vai e vem de jovens vestidas de camisetas brancas e com lenços vermelhos estampados com a sigla do movimento — ativistas da juventude forjada por Sandra Lima — iam e vinham com passos rápidos e decididos nos últimos preparativos para o ato.
As organizações populares, democráticas e revolucionárias nas quais e junto das quais Sandra lutou a maior parte de sua trajetória estavam presentes à mesa, cuja Presidência de Honra foi ocupada pela Liga Operária. Além das diversas organizações presentes, lá estavam pessoas que conviveram e lutaram com a companheira, familiares e amigos. Operários, camponeses, professores, estudantes e famílias proletárias da Vila Corumbiara e da Vila Bandeira Vermelha — ocupações urbanas de Belo Horizonte e Região Metropolitana, cujas batalhas por moradia contaram com a intensa e decisiva atuação de Sandra Lima em seu apoio, propaganda e, sobretudo, mobilização, politização e organização das mulheres nessas lutas.
Foram citadas as mensagens enviadas por diversas organizações de outros países em honra à memória de Sandra Lima como o blog Dazibao Rojo (Estado espanhol), Movimento Feminista Proletário Revolucionário (Itália), Comitê de Redação do Periódico El Pueblo (Chile), Associação de Nova Democracia (Alemanha), Frente Revolucionária do Povo (Equador), entre tantas outras enviadas por companheiros e amigos.
O hino dos trabalhadores em todo o mundo, A Internacional, foi cantado de pé, solenemente.
A Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo fez um pronunciamento resgatando a trajetória da companheira, desde a sua infância no interior de Minas Gerais e sua forja como destacada militante revolucionária e dirigente do Movimento Feminino Popular. Em cada marco da trajetória de Sandra Lima, ativistas recitaram poemas de sua autoria que revelavam toda a sua inquietude pulsante, indignação e firme convicção na necessidade de uma transformação radical da sociedade. Foi destacado seu otimismo, sua confiança nas massas e em sua organização, sua conduta firme no combate ao oportunismo de forma indissociável do combate ao imperialismo e toda a reação. A combatividade e firmeza com que sempre enfrentou os inimigos de classe e os problemas de saúde que fustigaram seu corpo durante décadas sem fazer vergar sua decisão revolucionária. A solidez ideológica da dirigente revolucionária que, incansavelmente, fustigou e conclamou as companheiras a combaterem a auto-subestimação, a se formarem como quadros ideológicos e políticos, a servirem sem reservas ao povo e as suas lutas.
Ativistas do MFP fizeram uma apresentação especial do hino do Movimento Feminino Popular portando a bandeira do movimento e uma foto de Sandra Lima. Elas expressaram em sua organização e evolução compacta a organização necessária para as massas destruírem o velho e construírem o novo.
Um grupo cultural apresentou, ao longo da homenagem, canções populares e revolucionárias, em homenagem a companheira que sempre foi uma grande entusiasta e admiradora da cultura popular-revolucionária em todas as suas expressões.
Também foi exibido um belo vídeo com imagens da atuação de Sandra Lima em lutas como a pela punição dos criminosos militares e civis, mandantes e executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados do regime militar fascista; sua participação em reuniões com mulheres trabalhadoras na cidade e no campo e seu papel destacado como fundadora e formuladora da linha revolucionária do Movimento Feminino Popular; sua atuação junto às famílias proletárias em luta por moradia e outros direitos. As imagens revelaram a dedicada mãe e avó revolucionária e a militante que, paciente e inquieta, consagrou-se como poucos a educar as novas gerações no fogo da luta de classes e na ideologia científica do proletariado.
Essa última característica, especialmente, ficou marcada na fala de uma jovem camponesa. Vinda especialmente de Pernambuco para a homenagem, com seu forte acento nordestino e com simplicidade, ela disse não ter conhecido pessoalmente Sandra Lima, mas muito ouvira sobre a dirigente. Como ativista do MFP, expressando a mesma firmeza de Sandra Lima, ao falar da dirigente, primeiramente tímida, mas encorajando palavra após palavra, afirmou: “A firmeza com que as companheiras gritam nas reuniões, Despertar a fúria revolucionária da mulher!, é isso que a companheira Sandra Lima nos ensinou e vamos levar conosco. É isso que vamos fazer!”.
Empenhou-se sem poupar esforços na politização e organização das massas.
Camponesas de diversas regiões do país, dirigentes regionais e ativistas do MFP foram à frente e destacaram a passagem marcante de Sandra Lima em suas áreas, para realizar reuniões e encontros que deixaram lembranças e exemplos. Reafirmaram perante os presentes o compromisso de continuar o trabalho da dirigente.
À convocação de uma jovem militante, as ativistas do MFP, portando braçadeiras e lenços vermelhos, perfilaram-se. Ao longo de sua construção, o Movimento Feminino Popular — a exemplo de outras organizações classistas do movimento revolucionário proletário — adotou seu Juramento de Honra. Nessa noite, em homenagem a sua fundadora, o MFP fez pela primeira vez o seu, repetido em uníssono pelas ativistas de punhos erguidos.
Os acordes da canção revolucionária italiana Bella Ciao se elevaram no salão: “Numa manhã de sol radiante, ó Bella Ciao, Bella Ciao, Bella Ciao! Numa manhã de sol radiante, terei nas mãos o opressor! É meu desejo seguir lutando…”.
Empenhou-se sem poupar esforços na politização e organização das massas
Encerrando o vibrante e emocionante ato, todos os camponeses presentes cantaram o Hino da Revolução Agrária e todos repetiram seu refrão com entusiasmo e imbuídos do exemplo combativo da grande revolucionária Sandra Lima: “Já chega de tanto sofrer, já chega de tanto esperar. A luta vai ser tão difícil, por mais que demore vamos triunfar!”.
O materialismo dialético e histórico nos ensina que uma vez que as massas aprendam a ideologia científica do proletariado, esta se converte em uma força material capaz de transformar o mundo, uma força sob cujo impacto toda a velha superestrutura e ideologia é posta abaixo. A presença impactante de Sandra Lima se fez sentir naquela noite de forma intensa expressada por aquelas e aqueles que empunham suas bandeiras de luta, seus continuadores.
“Companheira Sandra Lima: presente na luta!”
Mao Tse-Tung. 1928
O atual regime dos novos caudilhos militares do Kuomitang permanece, como no passado, o regime da burguesia compradora, nas cidades, e da classe dos déspotas e nobres, no campo, regime que, no domínio das relações exteriores, capitulou diante do imperialismo e, em política interior, substituiu os antigos caudilhos militares por novos caudilhos e reforçou a exploração econômica e a opressão política da classe operária e da classe camponesa. As classes dos compradores, dos déspotas e nobres apoderaram-se da direção da revolução democrático-burguesa iniciada no Cuantum, revolução que não tinha ainda feito mais do que a metade do caminho, e desviaram-na imediatamente em direção da contra-revolução. Quanto aos operários e camponeses, quanto às pessoas simples da China, e mesmo quanto à burguesia(1), eles sofrem, como no passado, o jugo dum regime contra-revolucionário, e não obtiveram a menor liberdade no plano político e econômico.
Antes da tomada de Pequim e de Tientsim, entre as quatro camarilhas dos novos caudilhos militares do Kuomitang — Tchiang, Cuei, Fom e Ien(2) — existia uma aliança provisória contra Tcham Tsuo-lin(3). Após a tomada de Pequim e de Tientsim, a aliança desfez-se imediatamente e começou uma luta encarniçada entre aquelas quatro camarilhas; além disso, está a preparar-se uma guerra entre a camarilha de Tchiang Kai-chek e a do Cuansi. As contradições e a luta entre as diversas camarilhas de caudilhos militares refletem as contradições e a luta entre os países imperialistas. Assim, enquanto a China se encontrar dividida pelos países imperialistas, a possibilidade dum entendimento entre essas camarilhas permanecerá absolutamente excluída e todo o compromisso a que elas possam chegar não poderá ter mais do que um carater provisório. O compromisso provisório de hoje está prenhe duma guerra ainda maior para amanhã.
A China tem necessidade urgente da revolução democrático-burguesa, e esta só pode ser realizada sob a direção do proletariado. Como o proletariado não tivesse manifestado suficiente decisão no exercício da sua hegemonia, a direção da revolução que, nos anos de 1926-1927, se estendeu do Cuantum à bacia do Yangtsé, foi usurpada pelas classes dos compradores, dos déspotas e nobres, e a revolução cedeu lugar à contra-revolução. A revolução democrático-burguesa sofreu uma derrota provisória. Essa derrota vibrou um golpe sério no proletariado e nos camponeses chineses. O golpe foi igualmente sentido pela burguesia chinesa (mas não pelas classes dos compradores, dos déspotas e nobres). Contudo, nos últimos meses, e sob a direção do Partido Comunista, têm-se desenvolvido de forma organizada, quer no Norte quer no Sul da China, greves de operários nas cidades e levantamentos camponeses no campo. Entre os soldados dos caudilhos militares, a penúria de alimentos e vestuário provoca uma séria efervescência. Ao mesmo tempo, a burguesia, inspirada pelo grupo encabeçado por Uam Tsim-vei e Tchen Cum-po, fomentou um movimento reformista(4) de proporções consideráveis, nas regiões do litoral e na bacia do rio Yangtsé. A extensão desse movimento constitui um fato novo.
Conformemente às indicações da Internacional Comunista e do Comitê Central do Partido Comunista da China, a revolução democrática na China deve consistir em derrubar a dominação do imperialismo e dos seus instrumentos, os caudilhos militares; em realizar a revolução nacional e concluir a revolução agrária, que porá fim à exploração feudal dos camponeses pela classe dos senhores de terras. Na prática, um tal movimento revolucionário começou a estender-se, dia a dia, após os acontecimentos sangrentos de Maio de 1928, em Tsinan(5).
A existência prolongada, no nosso país, de uma ou várias pequenas regiões onde reina o poder vermelho, mas rodeadas por todos os lados de territórios onde reina o poder branco, constitui um fenômeno ainda desconhecido na história do mundo. Para que um fenômeno tão extraordinário se tivesse produzido, foram necessárias razões particulares. Tal fenômeno só pode subsistir e desenvolver-se em certas condições:
1. Não pode produzir-se num país imperialista, nem numa colônia(7) que se encontre sob a dominação direta de tal ou tal potência imperialista. Ele só pode produzir-se na China, país economicamente atrasado e semi-colonial, submetido à dominação indireta do imperialismo, uma vez que um fenômeno tão extraordinário não pode deixar de acompanhar-se doutro fenômeno também extraordinário: a guerra entre os diferentes grupos que representam o poder branco. Uma das caraterísticas deste país semi-colonial que é a China, consiste na existência continuada, logo desde o primeiro ano da República, de guerras sem tréguas entre as diferentes camarilhas de antigos e novos caudilhos militares, sustentados pelos imperialistas e pelas classes dos compradores, dos déspotas e nobres. Nada de semelhante pode encontrar-se nos países imperialistas ou mesmo nas colônias que estão sob a dominação direta do imperialismo; um tal fenômeno existe sòmente nos países sob dominação indireta do imperialismo, como a China. Esse fenômeno é devido a duas razões: primeiro, a existência duma economia agrícola local (não existe economia capitalista unificada para todo o país); segundo, a política imperialista de divisão e exploração da China pela delimitação de esferas de influência. A cisão e as guerras prolongadas no interior do poder branco criaram condições tais que foi possível, a uma ou várias pequenas regiões vermelhas, dirigidas pelo Partido Comunista, constituírem-se e subsistirem no meio do cerco branco. A base revolucionária na fronteira Hunan-Quiansi constitui justamente um exemplo dessas numerosas pequenas regiões. Alguns camaradas, nas suas horas difíceis e críticas, põem-se freqüentemente a duvidar que tal poder vermelho possa subsistir, tornando-se pessimistas. Isso acontece porque eles não conseguem encontrar a explicação correcta das causas que presidem ao nascimento e à sobrevivência desse poder vermelho. Basta considerar que, na China, a cisão e as guerras no interior do campo branco se revestem dum carater contínuo, para que a possibilidade de o poder vermelho se estabelecer, subsistir e desenvolver dia a dia, não provoque mais dúvidas.
2. Na China, o poder vermelho aparece e pode subsistir longamente, em primeiro lugar, não nas regiões que não sofreram a influência da revolução democrática, tais como Setchuan, Cueidjou, Iunnan ou as províncias do Norte, mas ali onde, em 1926-1927, durante a revolução democrático-burguesa, se assistiu ao progresso poderoso das grandes massas de operários, camponeses e soldados, por exemplo, em Hunan, Cuantum, Hupei, Quiansi, etc. Em várias regiões dessas províncias existia, em tempos, uma larga rede de organizações sindicais e associações camponesas. Nelas se desenvolveu amplamente a luta econômica e política dos operários e dos camponeses contra a classe dos senhores de terras, déspotas e nobres e a burguesia. Por isso se viu, na cidade de Cantão, estabelecer-se e manter-se durante três dias um poder popular; e, nos distritos de Haifom e de Lufom (Cuantum), no leste e no sul de Hunan, na região fronteiriça Hunan-Quiansi, no distrito de Huam-an (Hupei), surgiram bases revolucionárias criadas pelos camponeses(8). Quanto ao Exército Vermelho actual, ele saiu do Exército Nacional Revolucionário, depois deste ter recebido uma preparação política num espírito democrático, e ter sofrido a influência das massas operárias e camponesas. Tropas como as de Ien Si-xan e Tcham Tsuo-lin, que nunca receberam essa formação política num espírito democrático, nem sofreram a influência das massas operárias e camponesas, não podem de maneira alguma fornecer os efectivos necessários à formação dos destacamentos do Exército Vermelho.
3. Quanto ao problema de saber se o poder das massas populares que se estabeleceu em pequenas regiões poderá subsistir longo tempo, a sua solução depende do eventual desenvolvimento da situação revolucionária à escala do país inteiro. Se esse desenvolvimento continua, não há dúvida alguma de que as pequenas regiões vermelhas poderão subsistir durante um período prolongado e, o que é mais, tornar-se-ão inevitavelmente numa das múltiplas forças que assegurarão a conquista do poder à escala nacional. Pelo contrário, se a situação revolucionária não se desenvolve, se intervém um período relativamente longo de estagnação, a existência prolongada de pequenas regiões vermelhas tornar-se-á impossível. Atualmente, dada a cisão e as guerras intestinas que prosseguem no campo das classes dos compradores, dos déspotas e nobres, assim como no campo da burguesia internacional, a situação revolucionária continua a desenvolver-se na China. Assim, a possibilidade de os pequenos territórios vermelhos subsistirem durante longo tempo não deixa dúvidas. Eles vão inclusivamente crescer, tornando-se assim mais próximo o dia em que conquistaremos o poder em todo o país.
4. A condição indispensável à existência do poder vermelho é a existência dum exército vermelho regular e suficientemente forte. Com simples destacamentos locais da Guarda Vermelha(9), sem um exército vermelho regular, pode vencer-se a milícia de casa-a-casa, mas não o exército branco regular. Por isso, mesmo que existam massas operárias e camponesas activas, desde que estejam desprovidas de forças armadas regulares e suficientemente possantes, é absolutamente impossível criar bases revolucionárias e, por maior razão ainda, assegurar a sua existência prolongada e o seu desenvolvimento ininterrupto. A idéia de “criar as diferentes bases revolucionárias através das forças armadas dos operários e camponeses” é pois muito importante. Os comunistas e as massas operárias e camponesas das bases revolucionárias devem compenetrar-se disso.
5. A possibilidade de o poder vermelho subsistir durante um longo período e desenvolver-se depende, além das condições precitadas, de uma outra condição igualmente importante: é necessário que a organização do Partido Comunista seja forte e a sua política justa.
A cisão e as guerras entre os caudilhos militares arrastaram o enfraquecimento do poder branco. Assim, foi possível ao poder vermelho estabelecer-se, oportunamente, em pequenos territórios. Mas as guerras entre os caudilhos militares também registram tréguas. Cada vez que, em uma ou várias províncias, se instaura um período de estabilização provisória do poder branco, as classes dominantes dessa ou dessas províncias aproveitam-no fatalmente para unir-se e utilizar todas as suas forças a fim de aniquilarem o poder vermelho. Onde as condições necessárias à criação e consolidação do poder vermelho não estão todas realizadas, surge o perigo de tal poder ser derrubado pelos inimigos. É justamente por essa razão que o poder vermelho, que se estabelecera num momento favorável, antes do mês de Abril último, em regiões como Cantão, Haifom e Lufom, região fronteiriça Hunan-Quiansi, sul do Hunan e distritos de Lilim e Huam-an, foi esmagado pelo poder branco. A partir de Abril, a base revolucionária na região fronteiriça Hunan-Quiansi passou a estar confrontada com uma situação de estabilização temporária do poder das forças dominantes no Sul. As tropas enviadas de Hunan e Quiansi como “expedição punitiva” contavam, em regra geral, oito a nove regimentos e, algumas vezes, chegavam a dezoito. Com efectivos inferiores a quatro regimentos, nós combatemos, porém, o inimigo durante quatro meses e, dia após dia, conseguimos alargar o território da nossa base, aprofundar a revolução agrária, ampliar os organismos do poder das massas populares e reforçar o Exército Vermelho e a Guarda Vermelha. Isso foi possível porque a política das organizações do Partido da região fronteiriça Hunan-Quiansi (locais e no exército) estava correcta. A política do Comitê Especial do Partido e do Comitê do Partido do Exército(10) consistia no seguinte: lutar resolutamente contra o inimigo; instaurar o poder político na parte central da cadeia de montanhas de Luociao(11); lutar contra a tendência para a fuga; aprofundar a revolução agrária no território da base revolucionária; promover o desenvolvimento das organizações locais do Partido com a ajuda das organizações do Partido no exército e promover o desenvolvimento das forças armadas locais com a ajuda do exército regular; concentrar as unidades do Exército Vermelho para combater oportunamente o inimigo que nos ataca, e opor-se à divisão das nossas forças, de modo a evitar que o inimigo nos esmague unidade por unidade; adoptar a política de avançar em vagas sucessivas para alargar a nossa base revolucionária, e combater a política do avanço aventureiro. Graças a essas tácticas adequadas, graças ao terreno da região fronteiriça que nos favorecia a luta e graças à deficiente coordenação entre as tropas invasoras vindas de Hunan e Quiansi, nós fomos capazes de alcançar uma série de vitórias durante os quatro meses que vão de Abril a Julho. Embora nos fosse várias vezes superior em número, o inimigo não foi capaz de destruir a base revolucionária e nem mesmo de impedir a sua expansão contínua. A nossa base tende a exercer uma influência cada vez maior no Hunan e no Quiansi. A única razão da derrota de Agosto foi o fato de alguns camaradas, que não tinham compreendido que o período era de estabilização temporária das classes dominantes, adoptarem uma estratégia adequada aos períodos de divisão política no seio dessas classes e dividirem as nossas forças para um avanço aventureiro, causando assim a derrota na região fronteiriça e no sul do Hunan. Tu Siu-quim, representante do Comitê Provincial do Partido em Hunan, sem compreender a situação dessa altura nem ter em conta alguma a decisão da sessão conjunta do Comitê Especial, do Comitê do Partido do Exército e do Comitê do Partido do distrito de Ionsin, executou de maneira literal a ordem do Comitê Provincial de Hunan e aderiu à opinião do 29º Regimento do Exército Vermelho que queria abandonar a luta e regressar à sua região de origem. Foi um erro extremamente grosseiro. A situação criada em resultado da derrota só pôde ser reparada graças às medidas tomadas, depois de Setembro, pelo Comitê Especial e pelo Comitê do Partido do Exército, como correcção às faltas cometidas.
A base revolucionária estabelecida pelas forças armadas dos operários e camponeses na região fronteiriça Hunan-Quiansi, com Nincam como centro, não é, por certo, unicamente importante para os distritos fronteiriços; ela reveste-se igualmente duma grande importância para o desenvolvimento da insurreição operária e camponesa em Hunan, Hupei e Quiansi, que se destina a conquistar o poder nessas três províncias. Trata-se de estender a influência da revolução agrária e do poder popular da região fronteiriça ao curso inferior dos rios em Hunan e Quiansi e, inclusivamente, estendê-la até Hupei, bem como de aumentar sem cessar os efectivos do Exército Vermelho e melhorá-lo qualitativamente no próprio decorrer dos combates, a fim de que possa assumir a tarefa que lhe cabe no levantamento geral que se prepara nas três províncias em questão. Trata-se de aumentar os efectivos e melhorar qualitativamente as forças armadas locais nos distritos — a Guarda Vermelha e os destacamentos insurreccionais de operários e camponeses — de maneira que, presentemente, elas possam lutar contra as milícias de casa-a-casa, contra os pequenos destacamentos do inimigo , no futuro, proteger o poder na região fronteiriça; fazer com que os quadros locais dependam cada vez menos da ajuda que lhes trazem os quadros do Exército Vermelho, que possam agir absolutamente por si próprios, que façam eles mesmos o trabalho necessário na região de fronteira e que, no futuro, possam fornecer os quadros para o Exército Vermelho e para os territórios que, mais tarde, deverão ser anexados pela base revolucionária. Tais são as tarefas extremamente importantes da organização do Partido na região fronteiriça, no que respeita ao desenvolvimento da insurreição em Hunan, Hupei e Quiansi.
Nas condições de cerco total pelas forças brancas, a falta de artigos de primeira necessidade e de dinheiro líquido no exército e entre a população civil provocou um problema dos mais graves. Na região fronteiriça sob poder vermelho, a escassez e o encarecimento permanentes e extremos dos artigos de primeira necessidade, como o sal, os tecidos e os medicamentos, em resultado do bloqueio cerrado imposto pelo inimigo no decurso do último ano, engendraram por vezes condições de vida de grande angústia para as massas operárias, camponesas e pequeno-burguesas(12), e para os combatentes do Exército Vermelho. O Exército Vermelho tem ao mesmo tempo de combater e procurar os víveres de que necessita. Não se têm os meios para assegurar aos combatentes, além de cereais, cinco fen de ração quotidiana; a alimentação é insuficiente e há muitos doentes no exército. Os combatentes que são feridos e hospitalizados sofrem mais particularmente. Enquanto não nos tivermos apoderado do poder à escala nacional, é evidente que tais dificuldades serão inevitáveis, mas é extremamente necessário esforçar-se por vencê-las até certo ponto, melhorar as condições de vida e, em particular, por melhorar, tanto quanto possível, o reabastecimento do Exército Vermelho. Se a organização do Partido na região fronteiriça não chegar a resolver como convém o problema econômico, e se o período de estabilização das forças inimigas se mantiver durante um tempo relativamente longo, nós teremos de fazer face a grandes dificuldades no que respeita à existência dessa base revolucionária. Assim, cada comunista deve prestar realmente toda a atenção à solução adequada do problema econômico.
Uma outra tarefa que se impõe à organização do Partido na região fronteiriça é a consolidação das bases militares em Vutsim(13) e Quioulom. Tanto a região montanhosa de Vutsim, na fronteira dos distritos de Ionsin, Lincien, Nincam e Sueitchuan, como a região montanhosa de Quioulom, na fronteira dos distritos de Ionsin, Nincam, Tchalim e Lien-hua, apresentam um relevo excelente, em particular Vutsim, onde o terreno é dificilmente praticável e estrategicamente importante, e onde, além disso, o exército beneficia do apoio das massas populares. Elas não só constituem importantes bases militares no momento presente, em que se trata simplesmente da região fronteiriça, mas, o que é mais, permanecê-lo-ão no futuro, quando a insurreição se desenvolver nas três províncias de Hunan, Hupei e Quiansi. As medidas para a consolidação dessas bases são as seguintes:
Notas:
(1) O PresidenteMao Tsetung pensa aqui na burguesia nacional. Em “Sobre a Táctica na Luta contra o Imperialismo Japonês” (Dezembro de 1935), e em “A Revolução Chinesa e o Partido Comunista da China” (Dezembro de 1939), o camarada Mao Tsetung explicou, detalhadamente, em que consistia a diferença entre a burguesia nacional e a grande burguesia compradora.
(2) Por Tchiang entende-se Tchiang Kai-chek; por Cuei, a camarilha dos caudilhos militares do Cuansi, encabeçada por Li Tsum-jen e Bai Tchon-si; por Fom, Fom Iu-siam; por Ien, Ien Si-xan, caudilho militar da província de Xansi. Esses caudilhos coligaram-se contra Tcham Tsuo-lin e tomaram Pequim e Tientsim, em Junho de 1928.
(3) Tcham Tsuo-lin era o chefe da camarilha de caudilhos militares de Fontien. Após a derrota de Vu Pei-fu, em 1924, durante a segunda guerra entre os caudilhos militares de Tchili e de Fontien, ele tornou-se no mais poderoso caudilho do Norte da China. Em 1926, aliado a Vu Pei-fu, apoderou-se de Pequim. Ao regressar de Pequim para o Nordeste, em Junho de 1928, Tcham Tsuo-lin, apesar de ter sido sempre um instrumento dos imperialistas japoneses, morreu assassinado por estes, num atentado à bomba.
(4) Quando Tchiang Kai-chek começou a empenhar-se, abertamente e sem o menor pudor, na via da conciliação com os agressores japoneses, depois que estes ocuparam Tsi-nan a 3 de Maio de 1928, uma parte da burguesia nacional, que a seu tempo tinha apoiado o golpe de Estado contra-revolucionário de 1927 mas que agia de acordo com os seus próprios interesses, começou gradualmente a fazer-lhe uma oposição declarada. Foi então que se viu aparecer um grupo contra-revolucionário de especuladores políticos, Uam Tsim-vei, Tchen Cum-po, etc, que participou nesse movimento de oposição e, no seio do Kuomintang, formou a camarilha dos “reorganizadores”.
(5) Em 1928, com o apoio dos imperialistas anglo-norte-americanos, Tchiang Kai-chek avançou para o Norte da China, a fim de atacar Tcham Tsuo-lin. Esforçando-se por impedir a extensão da influência anglo-norte-americana ao Norte da China, os imperialistas japoneses apoderaram-se pela força da capital de Xantum, Tsinan, e cortaram a via férrea de Tientsim-Pucou. A 3 de Maio, as forças ocupantes nipónicas entregaram-se a um massacre em Tsinan, assassinando um número elevado de cidadãos chineses. Essa matança recebeu o nome de “Acontecimentos Sangrentos de Tsinan”.
(6) Pela forma de organização, o poder vermelho na China assemelhava-se ao poder soviético. Como forma de regime político, os sovietes, quer dizer, os conselhos de representantes, foram criados pela classe operária da Rússia durante a revolução de 1905. Na base da teoria marxista, Lénine e Estáline chegaram à conclusão de que a República Soviética constituía a melhor forma de organização política da sociedade, no período da passagem do capitalismo ao socialismo. Foi em 1917 que, com a Revolução Socialista de Outubro, pela primeira vez no mundo e sob a direção do Partido Bolchevique de Lénine e Estáline, se estabeleceu, na Rússia, a ditadura do proletariado — a República Socialista Soviética. Após a derrota da revolução chinesa de 1927, quando, em diferentes lugares, se produziram levantamentos revolucionários populares sob a direção do Partido Comunista da China, tendo à cabeça o camarada Mao Tsetung, o poder político das massas populares tomou a forma de conselhos de representantes. Contudo, nessa fase da revolução chinesa, esse poder tinha o caracter duma ditadura democrática popular, realizando uma revolução de democracia nova, anti-imperialista e anti-feudal, sob a direção do proletariado. Nisso reside a diferença com a URSS, onde o poder tinha o caracter duma ditadura do proletariado.
(7) Durante a Segunda Guerra Mundial, muitas colônias do Oriente, que se encontravam precedentemente sob a dominação dos imperialistas britânicos, norte-americanos, franceses ou holandeses, foram ocupadas pelos imperialistas japoneses. As massas operárias, camponesas, pequeno-burguesas urbanas e elementos da burguesia nacional desses países, sob a direção dos respectivos Partidos Comunistas e explorando as contradições entre os imperialistas britânicos, norte-americanos, franceses e holandeses duma parte, e o imperialismo japonês doutra parte, organizaram uma ampla frente única de luta contra a agressão fascista, criaram bases anti-japonesas e realizaram uma guerra de guerrilhas encarniçada contra o Japão. Foi assim que se lançaram as bases da alteração da situação política existente antes da Segunda Guerra Mundial. No fim da guerra, os imperialistas japoneses foram expulsos dessas colônias e os imperialistas norte-americanos, britânicos, franceses e holandeses esforçaram-se por restabelecer a antiga dominação colonial. Contudo, no decurso da guerra contra o Japão, os povos das colônias souberam forjar forças armadas suficientemente importantes e não quiseram, de modo algum, continuar a viver como antes. Além disso, em conseqüência do reforço do poderio da União Soviética e do desmoronar ou enfraquecimento, no decurso da guerra, de todos os países imperialistas à excepção dos Estados Unidos, e, sobretudo, em resultado da vitória da revolução chinesa, que abriu uma brecha na frente imperialista, o conjunto do sistema imperialista no mundo ficou seriamente abalado. Foi assim que os povos das colônias do Oriente, pelo menos em algumas delas, tiveram a possibilidade de, mais ou menos como acontecera na China, preservar bases revolucionárias de dimensões variadas e conservar o poder revolucionário, bem como de fazer com firmeza uma guerra revolucionária de longa duração, cercar as cidades a partir dos campos e passar progressivamente à conquista das cidades, realizando a vitória total nos respectivos países. À luz dessa nova situação, a apreciação de 1928 do camarada Mao Tsetung, sobre a possibilidade de estabelecer o poder revolucionário nas colônias diretamente submetidas à dominação imperialista, ficou alterada.
(8) Trata-se da resistência oposta em várias localidades pelas massas populares, sob a direção do Partido Comunista, às forças contra-revolucionárias, no período que seguiu à traição de Tchiang Kai-chek, em 1927, e à traição ulterior de Uam Tsim-vei. A 11 de Dezembro de 1927, em Cantão, os operários e os soldados revolucionários sublevaram-se, estabeleceram o poder popular e deram um combate encarniçado às forças contra-revolucionárias que beneficiavam do apoio direto dos imperialistas. Contudo, em resultado da enorme desproporção existente entre as forças em presença, o levantamento popular acabou por sofrer uma derrota. Em 1923-1925, os camponeses dos distritos de Haifom e Lufom, no litoral oriental do Cuantum, desencadearam, sob a direção dum comunista, o camarada Pom Pai, um possante movimento que proporcionou uma ajuda substancial ao Exército Nacional Revolucionário de Cantão, durante as duas campanhas vitoriosas que este realizou em direção a leste, contra a camarilha contra-revolucionária de Tchen Tchiom-mim. Após o golpe de Estado contra-revolucionário de Tchiang Kai-chek, a 12 de Abril de 1927, os camponeses dessa região sublevaram-se por três vezes, em Abril, em Setembro e em Outubro, e estabeleceram o poder revolucionário nos distritos de Haifom e Lufom, poder que se manteve até Abril de 1928. Os camponeses da parte oriental do Hunan, que se tinham sublevado em Setembro de 1927, apoderaram-se duma região que compreendia os distritos de Liuiam, de Pinquiam, de Lilim e de Tchudjou. Na mesma época, algumas dezenas de milhares de camponeses levantaram-se de armas na mão, nos distritos de Siaocan, Matchem e Huam-an no nordeste de Hupei, e ocuparam a sede do distrito de Huam-an durante mais de 30 dias. No sul do Hunan, os camponeses insurrectos dos distritos de Itchan, Tsendjou, Lei-iam, Ioncim e Tse-cim instauraram, em Janeiro de 1928, um poder revolucionário que durou três meses.
(9) Guarda Vermelha: forças armadas das massas no território das bases revolucionárias. Os combatentes da Guarda Vermelha batiam-se sem interromper a produção.
(10) O Comitê Especial do Partido é o Comitê do Partido Comunista da China para a região especial situada na fronteira Hunan-Quiansi. Era um organismo situado entre o comitê provincial e o comitê distrital. O Comitê do Partido do Exército é o Comitê do Partido para o IV Corpo do Exército Vermelho dos Operários e Camponeses, aquartelado na fronteira Hunan-Quiansi. (nota do tradutor)
(11) Luociao: grande cadeia de montanhas na fronteira do Quiansi com o Hunan. A parte central dessa cadeia é constituída pelas montanhas Tchincam.
(12) Aqui, por pequena burguesia o camarada Mao Tsetung entende, para além dos camponeses, os artesãos, os pequenos comerciantes, os membros das profissões liberais e os intelectuais originários da pequena burguesia. Na China, os elementos dessas camadas sociais vivem principalmente nas cidades e vilas, mas também podem encontrar-se, em grande número, no campo.
(13) Por região montanhosa de Vutsim, compreende-se a região Tatsim-Siaotsim-Chantsim-Tchuntsim-Siatsim, das montanhas Tchincam, as quais se estendem pelos distritos de Ionsin, Nincam, Sueitchuan no Quiansi ocidental e Lincien no Hunan oriental.
No dia 4 de Fevereiro, ás 15 horas, cerca de 10 Estudantes de Filosofia e outras áreas se organizaram na Reitoria da UFF para exigir a volta dos Espaços essenciais para a Permanência Estudantil. A mobilização é parte de uma grande propaganda pela Reabertura das Universidades e dos seus espaços Públicos.
O curso de Filosofia da UFF têm participado ativamente da luta pela defesa das Universidades abertas, por meio de assembleias presenciais no campus combatendo a repressão da Reitoria, panfletagens na Moradia Estudantil por uma Assistência Estudantil digna e calouradas presenciais.
A Atividade é fruto de um acumulo de indignação dos estudantes. Na primeira semana de Janeiro, a rede social da Reitoria havia divulgado a volta das atividades da Biblioteca Central do Gragoatá (BCG), porém a notícia era enganosa pois todas as condições para a volta PRESENCIAL da biblioteca haviam sido proibidas. A Biblioteca serveria apenas para aluguel de livros, sendo seu espaço inutilizado. Não havia sequer justificativa para tais restrições do seu uso, visto que na Região metropolitana e baixada Litorânea do RJ (onde fica a cidade de Niterói) a avaliação de risco de contagio pelo covid-19 era muito baixa, ,levando em conta o numero de obtos, internação, taxa de positividade etc. Além disso, a população adulta de Niterói na Época já havia sido vacinada em 97,3%. Diante desse fato, os estudantes decidiram por realizar uma Assembleia Aberta a todos os estudantes da UFF para discutir os rumos dos Espaços de Assistência dos Estudantes, e decidiram pela Reabertura Integral da Biblioteca. As razões foram principalmente políticas, visto que a Biblioteca (assim como Bandejão e a Moradia Estudantil) são espaços Públicos de extrema importância, principalmente para os estudantes do povo, que não possuem condições para comprar livros ou mesmo um local de estudo adequado. Além disso, as bibliotecas são um incentivo ao desenvolvimento intelectual do povo, para que ele use o estudo como forma de libertação.
A Atividade dos Estudantes contou com uma confecção de uma faixa que deixaram na Reitoria como forma de marcar sua posição pela Reabertura Integral da Biblioteca. Após isso, os estudantes se deslocaram pela Reitoria e redondezas gritando palavras de ordem como:
“A uff é nossa ninguém tira da gente, direito conquistado não se compra e não se vende.”
“Ensino Remoto, Não vamos aceitar, Chega de EAD, queremos estudar.”
“Biblioteca vamos tomar e a Reitoria vai ter que aceitar.”
“É greve, é greve, de ocupação, nem sucateamento nem privatização.”
“Somos estudantes, Não somos pacifistas, Viva a Luta, Luta Combativa!”
Importante frisar que a Atividade se deu 1 dia após a resolução do CEPEX (máxima instãncia de decisão da Universidade) que formalmente votou pela volta das aulas presenciais. O fato poderia ser usado para frear o animo dos estudantes, porém, eles reafirmaram a posição de que todos os direitos são garantidos em luta, e mesmo que houvesse sido aprovado, a garantia e cumprimento era obra de muita luta.
Por fim, os estudantes se reuniram na frente da Secretaria da Reitoria e realizaram um grande Aulão preparado por eles mesmos, provando que não precisam de um diploma nem de Burocracia Universitária para Aprender e Ensinar. Longe de compactuar com a posição da extrema direita, do notório saber, que precariza e sucatea o Ensino Superior, tirando mais uma vez, o direito das massas a conhecimento de qualidade, o que os estudantes quiseram provar foi de que não precisam de autorização de quaisquer autoridade da alta casta universitária para disseminar o conhecimento científico que aprendem na Faculdade.
Cada aula durou 15 minutos, e os temas foram divididos em 2 blocos: Luta do Movimento Estudantil e Pesquisas. Lá eles expuseram tanto as lutas que haviam participado dentro da UFF, por moradia estudantil (ocupação da CEF), por se organizar em Movimentos independentes e pelo seu direito de agarrar os estudos do povo, o marxismo.
No dia 07 de Fevereiro os estudantes secundaristas do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, iniciaram uma semana de protestos simultâneos na frente das 8 unidades da Instituição Federal. A organização iniciou-se após o Conselho Superior (CONSUP) decidir por manter as aulas remotas no ano letivo de 2022. Os estudantes, indignados por estarem há dois anos assistindo aula online, repudiaram a decisão arbitrária do Reitor Oscar Halac que, a propósito, desrespeita a reivindicação da maioria da comunidade escolar, incluindo servidores e responsáveis de alunos.
Desse modo, os secundaristas foram às ruas pedir ‘’Abaixo a EaD, aulas presenciais já!’’. Os atos em todos os campi tiveram duração de 3 horas e logo após todas as unidades se uniram no centro da cidade do Rio em uma manifestação unificada com outras instituições federais que reivindicavam a mesma pauta.
Na mesma semana o reitor do colégio realizou uma reunião do CONSUP e aprovou um ensino híbrido com 50% do alunado por semana. Os estudantes não aceitaram a decisão e organizaram um ato na frente da reitoria no dia 12/02, com as palavras de ordem ‘’50% NÃO! 100% SIM! Queremos aulas presenciais!’’. O ato teve participação de 500 pessoas, incluindo pais de alunos, professores e apoiadores.
No entanto, mesmo após o rechaço dos estudantes quanto a imposição da EaD, denunciando seu caráter tecnicista e privatista de ensino, o Reitor não recuou e publicou uma nota oficial afirmando que a decisão só será mudada mediante nova votação dos conselheiros eleitos. Os estudantes afirmam que não houve novas eleições para conselheiros nos últimos anos e denunciam o estrutura burocrática dos setores do colégio e a falta de comunicação da reitoria com os estudantes e pais de alunos.
Visto que suas reivindicações não foram ouvidas, os secundaristas convocaram mais um ato simultâneo nos campi da instituição no dia 14/02. Na cidade de Niterói, onde fica localizado o campus do CP2-Barreto, os alunos confeccionaram faixas e cartazes, fizeram falas de denúncia à posição da direção de alguns dos campi e professores, que votaram ‘’não’’ pela volta presencial plena e afirmaram que se não houver aula presencial para todos, organizarão uma ocupação em todas as unidades.
Os estudantes também denunciaram que durante os intervalos e ao fim das aulas não podem circular pelo colégio, organizar reuniões e nem fazer atividades extracurriculares. E apontam ‘’a EaD serve justamente para isso, sucatear o ensino público e impedir a livre organização política dos estudantes’’.
Ao fim do ato, os representantes do Grêmio Estudantil e do Movimento Estudantil do CP2 propuseram aulas públicas e manifestações combativas, além de um positivo balanço sobre o ato.
O Colégio Pedro II é uma instituição tradicional de ensino público e uma das mais antigas escolas do Brasil. No Rio de Janeiro é reconhecida como um colégio de renome por seu ensino, e sobretudo pela combatividade dos estudantes durante a ditadura Vargas e a ditadura militar de 1964, na luta contra as imposições do Banco Mundial-FMI na educação e por uma nova sociedade.
ABAIXO A EaD E O ENSINO HÍBRIDO!
PELO RETORNO PRESENCIAL JÁ!
FORA OSCAR HALAC, 50% NÃO! 100% SIM!
REBELAR-SE É JUSTO!
Reproduzimos a matéria a seguir publicada por Jornal A Nova Democracia.
Estudantes de escolas federais, juntamente com seus familiares, fizeram um combativo protesto, no dia 7 de fevereiro, exigindo a volta do ensino presencial nas instituições escolares Colégio Pedro II (CPII) e no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), localizados no Rio de Janeiro. A data marcou também a volta a aula presencial nas escolas da rede municipal e estadual.
No CPII, o retorno às aulas presenciais estava previsto no mesmo dia, porém foi cancelado após uma decisão do Conselho Superior do Colégio Pedro II (Consup). Pais e alunos ficaram revoltados e organizaram o dia de protestos. Ficou decidido que ocorreriam atos simultâneos com os alunos fazendo agitações em frente às unidades em que estudam. Sendo assim, houve concentrações nas unidades do Pedro II de Niterói, São Cristóvão, do Centro e do Humaitá. Os alunos do Cefet se concentraram em frente à unidade Maracanã. Responsáveis de estudantes do Colégio Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAp-Uerj) também estavam participando das manifestações, tendo realizado uma manifestação em 27/01 exigindo a volta das aulas presenciais.
No centro do Rio, ato exige aulas presenciais!
Por volta de 12h, os estudantes saíram de suas unidades em passeatas com destino final a Cinelândia, no Centro do Rio. Eles tomaram as ruas com seus cartazes e palavras de ordem exigindo a reabertura imediata das escolas e o retorno das aulas presenciais. Ao chegarem na Cinelândia, os cerca de 500 estudantes se posicionaram nas escadarias da Câmara Municipal e exibiram grandes faixas com os dizeres: Volta 100% CP II e Educação é essencial. Neste momento, professores, estudantes e pais fizeram falas.
Estudantes marcham com cartazes exigindo retorno das aulas presencias no colégio federal Pedro II. Foto: Banco de dados.
Estudantes marcham com cartazes exigindo retorno das aulas presencias no colégio federal Pedro II. Foto: Banco de Dados AND
Estudantes marcham com cartazes exigindo retorno das aulas presencias no colégio federal Pedro II. Foto: Banco de Dados AND
Estudantes marcham com cartazes exigindo retorno das aulas presencias no colégio federal Pedro II. Foto: Banco de Dados AND
Os estudantes e responsáveis denunciaram o fechamento das escolas e a consequente manutenção do Ensino à Distância (EaD). Eles argumentam que estão tendo um déficit gigantesco no ensino e que os anos letivos de 2020 e 2021 foram perdidos. Atualmente os alunos estão indo às escolas somente de 15 em 15 dias, onde ficam apenas 3h.
Estudantes protestam no Rio de Janeiro pela volta do ensino presencial. Foto: Banco de Dados AND
Estudantes protestam no Rio de Janeiro pela volta do ensino presencial. Foto: Banco de Dados AND
Outro problema enfrentado pelos estudantes é o corte de bolsas, situação que está obrigando grande parte dos estudantes de origem pobre a abandonar a escola e procurar emprego, aumentando o número de evasão escolar.
Segundo o Censo Escolar, entre 2019 e 2021, o ensino infantil perdeu 653 mil matrículas. E entre as crianças mais pobres, o porcentual das que não sabiam ler e escrever saltou de 33,6% para 51% entre 2019 e 2021.
Estudantes e familiares seguram cartazes exigindo volta do ensino presencial. Foto: Banco de Dados AND
Estudantes e familiares protestam em frente ao Campus Centro do colégio Pedro II. Foto: Banco de Dados AND
Durante o ato, uma equipe do AND esteve presente recolhendo depoimentos de pais e estudantes. A presidente do Grêmio estudantil Lucimar Brandão do Colégio Pedro II campus Centro, Ana Catarina, afirmou o seguinte:
— A forma como o Reitor e o Consup estão administrando essa situação, não dá mais, não há mais desculpas plausíveis para isso.
Sobre a organização do ato, a estudante disse que foram os próprios estudantes que decidiram se mobilizar após receberem a notícia de que as aulas híbridas iriam continuar. Os jovens ficaram revoltados e realizaram uma assembleia que decidiu pela manifestação.
A psicóloga Susana Santana foi ao ato para prestar apoio à luta dos estudantes e pelo direito de estudar de sua sobrinha, Camily Vitória, que é aluna do Colégio Pedro II. Ela denunciou o ensino remoto e fez a defesa das escolas como um lugar de socialização fundamental não somente para as crianças mas para todo o país:
— As crianças estão há dois anos sem ensino, sem estudar, só com ensino remoto, que ao meu ver é só para inglês ver. As crianças não aprendem, tem dificuldades.
Ainda segundo ela:
— A escola se faz com alunos convivendo uns com os outros, promovendo debates sociais, isso faz parte do desenvolvimento da nossa Nação. Com o ensino remoto, o governo está bloqueando o desenvolvimento do nosso País. Isso é mau trato, falta de respeito. Estão negligenciando o direito à educação!
Como o CPII e o Cefet são escolas federais, toda sua administração é feita diretamente pelo Ministério da Educação (MEC), órgão do governo federal. Por conta disto, os estudantes criticaram o governo militar genocida de Bolsonaro/generais pelo seu total descaso com o ensino público, com os sucessivos ataques a Educação como a imposição do Ensino Híbrido, cortes de verbas, favorecimento do ensino privado e a criação do famigerado “Novo Ensino Médio”.
Apoiadores da Revista Veias Abertas estiveram presentes no protesto e entregaram folhetos exigindo a reabertura das escolas e universidades.
Pichação em muro próximo ao campus do Gragoatá. Foto: Banco de Dados AND.
Nota publicada pelo Jornal A Nova Democracia, dia: 08/02/2022.
No último dia 27 de janeiro, estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foram às ruas para demonstrar sua insatisfação com a manutenção da modalidade de educação à distância (EaD) no início do atual período universitário. O ato foi encabeçado pela Frente Estudantil Contra a EaD e contou com a participação de diversos setores do movimento estudantil combativo.
O Comitê de Apoio ao Jornal A Nova Democracia de Curitiba (PR) também marcou presença a fim de realizar a cobertura do evento e propagandear a imprensa popular e democrática.
A EaD é uma tortura, exigimos a reabertura!
Inicialmente, os estudantes se reuniram no Campus Reitoria, local onde houve a exposição de faixas com as consignas Aula presencial já! Abaixo a EaD! e Defesa da ciência e das aulas presenciais: pelo fim da EaD e do ensino híbrido!. Nesse momento, foram realizadas intervenções denunciando os rotineiros ataques às universidades públicas – vide os sucessivos cortes orçamentários, como o de 15,3% recentemente anunciado pelo Governo Federal – e exigindo o imediato retorno das aulas presenciais.
Em suas falas, os agitadores também ressaltaram o importante papel do movimento estudantil combativo em levar a cabo a justa luta dos universitários contra o projeto de desmonte da educação pública conduzido pelo velho Estado brasileiro. Alguns comerciantes locais demonstraram apoio ao ato, como constatado através da doação de biscoitos aos manifestantes, por exemplo.
Posteriormente, foi realizada uma marcha entre os campi Reitoria e Prédio Histórico (Praça Santos Andrade), na qual os estudantes, portando faixas e bandeiras, bradaram firmemente diversas palavras de ordem que enfatizavam o derradeiro papel da universidade: servir ao povo. Chegando à Praça Santos Andrade, os manifestantes reuniram-se nas escadarias em frente ao Prédio Histórico e deram continuidade ao ato.
Antes do término, os organizadores revelaram a intenção de boicotar a EaD e de realizar atividades presenciais durante as primeiras duas semanas de fevereiro, como aulas e palestras públicas ministradas pelos próprios estudantes ou por professores democratas.
É nossa, é nossa, a universidade, para servir ao povo consciência de verdade!
RECHAÇAR AS ILUSÕES COM A BUROCRACIA UNIVERSITÁRIA E LANÇAR-SE PARA A LUTA!
Para uma luta estudantil combativa e efetiva se fazem necessários debates constantes e intensa organização. Por isso, dias antes do ato, em 23 de janeiro, em reunião convocada pela Frente Estudantil Contra a EaD, diversos estudantes reuniram-se no Campus Reitoria para discutir e organizar o evento do dia 27. O Comitê de Apoio esteve presente através da montagem de uma banca para venda de livros, quadros e jornais A Nova Democracia.
A ação direta para exigir o retorno imediato das aulas presenciais tornou-se ainda mais necessária após a publicação de uma nota oficial redigida pela UFPR em 18 de janeiro e publicada sem qualquer consulta prévia aos estudantes. No documento, a instituição afirmou que a alta do número de casos de Covid-19 – devido à rápida propagação da variante ômicron – retardaria em duas semanas o início das aulas presenciais, previsto para o dia 31/01/2022. Todavia, nada garante que serão apenas duas semanas e que os mesmos argumentos infundados não serão utilizados para estender a EaD. Essa equivocada e injustificável imposição da burocracia universitária é, na verdade, uma medida que dá as costas ao povo e à ciência, visto que inúmeros médicos e especialistas já haviam confirmado a plena possibilidade de retorno das atividades presenciais. Além disso, a ômicron não representou um aumento expressivo no número de óbitos e internamentos no Paraná, estado no qual mais de 70% da população já está imunizada com as duas doses da vacina contra a Covid-19.
A mesma UFPR aprovou, em 27 de janeiro, através da Resolução Nº 01/22-COUN, a “comprovação de esquema vacinal completo contra a Covid-19 como condicionante para o acesso e permanência nos campi (…) [e] demais instalações da UFPR no retorno das atividades acadêmicas presenciais”. Contudo, é no mínimo estranho e contraditório saber que a mesma instituição que aprovou corretamente o necessário passaporte vacinal é a mesma que adiou o retorno das aulas presenciais. Ora, a manutenção da EaD nada mais é do que uma postura anticientífica e obscurantista, visto que se baseia na negação da eficiência da mesma vacina que consta no passaporte vacinal.
Como atividade introdutória para a reunião, foi realizada a leitura coletiva do Editorial semanal de AND “Universidades de costas para o povo”, que apregoa a defesa da ciência como instrumento de transformação social e clama uma importante tomada de decisão à luta de classes no ambiente universitário. Após a leitura, os organizadores cederam espaço para que cada estudante presente tivesse a oportunidade de realizar uma fala aos demais. Muitos contaram a respeito da péssima experiência vivenciada com a EaD e o Ensino Remoto Emergencial (ERE) durante a pandemia de Covid-19, período no qual os universitários foram extremamente prejudicados por ficarem sem suporte, ensino qualificado ou permanência estudantil digna – tanto que a evasão e o trancamento cresceram significativamente em 2020 e 2021. Os depoimentos comprovaram que a EaD imposta pela UFPR não passou de um grande pacto de mediocridade, no qual os professores fingem ensinar e os alunos fingem aprender. Além disso, outros estudantes aproveitaram para exigir voz ativa e presença efetiva dos estudantes nas decisões da UFPR, denunciando a postura injustificável do Reitor Ricardo Marcelo Fonseca e de toda a burocracia universitária.
Dentre os presentes, haviam também pessoas de outras cidades ou estados brasileiros, que voltaram a Curitiba exclusivamente devido ao vergonhosamente adiado início das aulas presenciais. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), um importante indicador do movimento de preços e da “inflação do aluguel”, encerrou 2021 com alta acumulada de 17,78%. Neste âmbito, a injustificável e unilateral decisão da UFPR atinge diretamente esses estudantes que não têm garantia alguma de permanência e precisam arcar com o elevado e crescente preço do aluguel.
A REABERTURA DOS RESTAURANTES UNIVERSITÁRIOS É VITÓRIA DA LUTA ESTUDANTIL COMBATIVA!
Os Restaurantes Universitários (RUs) da UFPR são essenciais para a permanência de milhares de estudantes na capital paranaense, e haviam sido fechados arbitrariamente antes mesmo da suspensão do calendário acadêmico de 2020, no estágio inicial da pandemia de COVID-19. Desse modo, milhares de estudantes que frequentavam e dependiam dos RUs foram deixados desamparados e largados às traças nos últimos dois anos. Durante esse período, a burocracia universitária (PRA, PRAE e Reitoria) negou-se a reabri-los sob a justificativa de ter disponibilizado o Auxílio Refeição Emergencial no valor mísero de R$ 250,00. Todavia, esse “auxílio fome” não garante sequer uma cesta básica – que passa dos R$ 600,00 em Curitiba – e atingiu um número baixíssimo de universitários.
Observando a supracitada negligência da UFPR, o movimento estudantil combativo organizou-se em uma campanha pela reabertura dos RUs. As ações que tiveram início por meio de panfletagens em terminais de ônibus, aulas públicas e manifestações atingiram seu ápice na greve de ocupação realizada no RU Central (Campus Reitoria), em novembro de 2021. Durante a ocupação, que durou dois dias, os grevistas da Frente Estudantil e demais organizações democráticas consertaram uma pia estragada, serviram refeições aos estudantes e realizaram atividades políticas e culturais (cine-debate, produção de cartazes, debates etc.). Recentemente, após a pressão exercida pela luta estudantil com a vitoriosa tática da greve de ocupação, a UFPR confirmou a plena reabertura dos RUs a partir da retomada do calendário acadêmico, em 31 de janeiro, exigindo o passaporte vacinal e garantindo aos universitários, pelo valor de R$ 1,30, a possibilidade de alimentar-se no local ou preparar marmita, o que também havia sido uma demanda dos manifestantes. A vitoriosa ocupação do RU Central e o avanço da mobilização presencial combativa garantiram a reabertura dos Restaurantes Universitários.
A greve de ocupação deixou a burocracia universitária tremendo como varas verdes. Durante o ato do dia 27/01, os prédios Dom Pedro I e Dom Pedro II, do Campus Reitoria, estavam inexplicavelmente fechados, barrando a entrada dos estudantes e demonstrando o medo da realização de uma nova ocupação estampado no rosto do fisiocrata Ricardo Marcelo e demais burocratas. De acordo com a Ordem de Serviço Nº 001/2019, que jamais foi revogada, o horário padrão de funcionamento dos campi universitários é das 7:00 às 23:00, fato esse que foi confirmado pela Coordenação de Acompanhamento e Avaliação dos Serviços Terceirizados (CAAST), vinculada à Pró-Reitoria de Administração (PRA). Mesmo procurados para esclarecer a situação ocorrida, nenhum órgão correlacionado à UFPR pareceu disposto a responder o verdadeiro motivo do fechamento dos prédios – nem mesmo a Superintendência de Comunicação Social e Marketing (Sucom) ou a Ouvidoria Geral.
Funcionários do Campus Reitoria contaram diferentes versões do ocorrido: um deles disse que o bloqueio das portas foi um pedido dos vigilantes pois temiam uma nova ocupação, outro afirmou que o fechamento ocorreu devido à casos suspeitos de Covid-19 entre os servidores. Contudo, nenhuma dessas versões pôde ser confirmada: a CAAST negou que os vigilantes estivessem envolvidos no ocorrido e, quanto às suspeitas de Covid-19, não há nenhuma comprovação de que fossem suficientes para o fechamento dos prédios – além disso, ainda haviam funcionários por lá, o que não faria sentido caso houvesse sido tomada alguma medida sanitária de segurança. Desse modo, a evidente omissão de informação por parte da UFPR faz parecer que não há justificativa plausível e comprovada para que a entrada dos estudantes em um local público que é seu por direito fosse bloqueada.
Durante os últimos dois anos marcados pela pandemia de Covid-19, a EaD mostrou-se como fator decisivo para a instauração do imobilismo em parte do movimento estudantil. Além disso, a manutenção dessa falha modalidade de ensino serve apenas ao velho Estado e seu projeto político de desmantelamento e privatização das universidades públicas brasileiras. Logo, deve ser combatida com vigor e prontidão. Os atos contra a EaD no Paraná e em todo o Brasil mostram com clareza que apenas a luta presencial e combativa permitirá que os estudantes garantam seu direito de ensinar, estudar e aprender, rumando, assim, a uma universidade democrática e a serviço do povo.